
Calciopédia
·5 marzo 2025
Em 2002, o Feyenoord bateu a Inter e contribuiu para evitar Dérbi de Milão em final europeia

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·5 marzo 2025
A incompetência das equipes italianas na Champions League de 2024-25 fez com que a Inter se tornasse a última remanescente do seu país na edição do torneio, e ainda nas oitavas de final. Juventus e Milan estavam entre as possíveis candidatas a adversárias dos nerazzurri, mas quis o destino que o seu rival fosse o Feyenoord, que eliminou os rossoneri. Um time traiçoeiro e que tinha sido pedra no sapato do Biscione em um torneio internacional: mais exatamente na semifinal da Copa Uefa de 2001-02, quando levou a melhor e fez sua parte para evitar o primeiro Derby della Madonnina disputado em nível europeu, e justamente numa decisão – afinal, o Diavolo estava do outro lado da chave.
Naquela época, o futebol de clubes da Itália e o dos Países Baixos era considerado muito mais poderoso do que em 2024-25. A Serie A era a liga mais forte do momento, embora a Premier League vivenciasse sua ascensão, e os clubes holandeses ainda experimentavam o sucesso internacional de Ajax e PSV Eindhoven nos anos anteriores.
A equipe de Milão, contudo, vinha tentando retomar o protagonismo após uma sequência de temporadas extremamente decepcionantes para uma gigante no cenário local. A década de 1990, para o torcedor interista, foi de muito mais sofrimentos do que alegrias, com os únicos títulos sendo o das três edições da Copa Uefa, nas épocas 1990-91, 1993-94 e 1997-98. A busca por retornar aos tempos de glória ainda antes da virada do século contou com diversas grandes contratações. Principalmente a de Ronaldo, em 1997, mas também as de Christian Vieri e Clarence Seedorf, por exemplo. Além das buscas pelo grande treinador Marcello Lippi, muito identificado com a arquirrival Juventus. Nem assim os resultados positivos em solo nacional foram obtidos pela gestão de Massimo Moratti, que assumiu a presidência em 1995.
Mas a temporada 2001-02 trazia algo diferente para os nerazzurri. Finalmente a competitividade parecia voltar e a Inter travava uma ferrenha disputa pelo scudetto com Roma e Juventus. Às vésperas da ida das semifinais, contra o Feyenoord, a Beneamata liderava a Serie A, com 62 pontos – três a mais do que os giallorossi e com seis de vantagem sobre os bianconeri.
Em abril de 2002, Inter e Feyenoord se enfrentaram em jogos oficiais pela primeira vez na história (Arquivo/Inter)
Faltavam cinco rodadas para o fim da competição e a equipe comandada pelo argentino Héctor Cúper ganhava ares de favorita no Campeonato Italiano, tanto pela forma de Vieri quanto pelo retorno de Ronaldo, que havia tratado por três meses uma lesão na coxa, oriunda da sobrecarga muscular que o acometeu após duas seríssimas contusões no joelho, ocorridas em 1999-2000 e que o tiraram de ação por quase um ano e meio. A prioridade da Inter era o scudetto, mas também era possível engatar uma dobradinha, com o título da Copa Uefa, e lavar a alma de vez.
Do outro lado, entretanto, havia uma equipe também muito forte e com grande vocação ofensiva. O Feyenoord também brigava pelo título da Eredivisie no momento, disputando ponto a ponto com os rivais Ajax e PSV. Assim como a Inter, possuía alguns grandes talentos no ataque, como Pierre van Hooijdonk e Robin van Persie e, diferentemente do adversário, havia chegado à segunda principal competição europeia por conta de uma campanha decepcionante na Liga dos Campeões.
Apenas quinta colocada na Serie A 2000-01, ainda sob o comando de Marco Tardelli, que assumiu após precoce demissão de Lippi, a Inter se classificou à Copa Uefa. No torneio continental, já na época seguinte, os nerazzurri desenvolveram campanha bastante consistente: deixaram para trás Brasov, da Romênia, com um placar agregado de 6 a 0; Wisla Cracóvia (Polônia, 2 a 1); Ipswich (Inglaterra, 4 a 2); AEK Atenas (Grécia, 5 a 3) e tiveram seu principal resultado nas quartas, quando ganharam do Valencia, que vinha de dois vices seguidos da Champions League sob as ordens de Cúper, por 2 a 1 no total – com direito a triunfo no Mestalla e com o meia Francisco Farinós atuando como goleiro nos acréscimos, devido à expulsão de Francesco Toldo.
O Feyenoord, por sua vez, vacilou feio na Liga dos Campeões e ficou em terceiro no Grupo H, com apenas 5 pontos – Bayern de Munique (14) e Sparta Praga (11) se classificaram e o Spartak Moscou (2) foi eliminado. Relegado à Copa Uefa, o time treinado por Bert van Marwijk reagiu num duro caminho na segunda principal competição de clubes da Europa: fez 3 a 2 sobre o Freiburg, da Alemanha, 4 a 3 sobre o Rangers, da Escócia, e teve que encarar, nas quartas, um clássico local.
Um jovem Van Persie era um dos destaques do Feyenoord, enquanto a Inter de Cúper contava com nomes como Materazzi (ANP/AFP/Getty)
O PSV Einhoven liderava a Eredivisie, com 49 pontos, três a mais do que a equipe de Roterdã, mas acabou derrotado em nível continental. Depois de dois empates por 1 a 1, a agremiação do sul da Holanda fez 5 a 4 nos pênaltis e avançou em busca de um sonho. Afinal, a decisão da Copa Uefa ocorreria no De Kuip, território do próprio Feyenoord.
No início de abril de 2002, quando se enfrentaram em partidas oficiais pela primeira vez na história, a Inter era líder da Serie A, como citado anteriormente, e o Feyenoord era o segundo colocado da Eredivisie, um pontinho atrás do PSV. Jogando em casa e não tendo a Copa Uefa como principal meta, Cúper optou por mesclar o time, deixando no banco alguns de seus principais jogadores, como Seedorf e Ronaldo, que era relacionado pela primeira vez desde a lesão na coxa, 102 dias antes. Lidando com problemas físicos, o artilheiro Vieri vinha sendo utilizado somente na competição nacional. Por fim, o goleiro titular, Toldo, estava suspenso, e o capitão Javier Zanetti estava de molho, algo raro em sua carreira.
A escalação da Inter, portanto, foi num 4-4-2. Alberto Fontana estava no gol, a dupla de zaga era formada por Iván Córdoba e Marco Materazzi, com Dario Simic e Vratislav Gresko fechando as laterais. Emre Belözoglu e Luigi Di Biagio compunham a faixa central do gramado, Sérgio Conceição e Guly ocupavam as pontas e serviam o ataque, que tinha as apostas Mohamed Kallon e Nicola Ventola.
Já Van Marwijk optou por um time muito mais próximo do ideal, com Edwin Zoetebier na meta, Kees van Wonderen e Patrick Paauwe no miolo defensivo com as alas cobertas por Brett Emerton e Tomasz Rzasa, a proteção no meio feita por Shinji Ono e Paul Bosvelt, com Bonaventure Kalou e o então ponta Van Persie se aproximando de Jon Dahl Tomasson e Van Hooijdonk. O esquema espelhava o interista.
Depois de muitos períodos afastado por lesão, Ronaldo voltou aos campos na ida das semifinais, em Milão (Arquivo/Inter)
Apesar de ter invencibilidade no torneio e de decidir em sua casa, o time neerlandês não chegava com favoritismo, pois enfrentaria uma equipe com maior reserva de talentos e que vinha em uma fase crescente. Porém, quando a bola rolou no Giuseppe Meazza, foram os visitantes que tomaram a iniciativa.
O jogo foi disputado desde o início, com as duas equipes, antes mesmo dos cinco minutos, já tendo perdido chances claras de inaugurar o marcador, e ambas com seus artilheiros no certame. Primeiro, Van Hooijdonk desperdiçou uma oportunidade embaixo da trave, após bola cruzada na área. Depois foi a vez de Kallon jogar para fora o rebote que chegou limpo para ele.
Aos 28 minutos, o Biscione finalmente conseguiu colocar a bola nas redes, com Ventola, mas o gol foi anulado por conta de uma falta cometida pelo atacante. E quem conseguiu sair na frente de fato foi o Feyenoord, já na etapa complementar, chegando à marca dos 51 minutos. Van Hooijdonk buscou o cruzamento para seu parceiro Tomasson, mas Córdoba cortou. O desvio, porém, acabou jogando a redonda contra o próprio patrimônio e colocando os visitantes em vantagem não apenas na partida, pois o placar se sustentaria até o final do jogo, apesar do esforço interista e da pressão dos torcedores.
A inesperada derrota em Milão teve um efeito anímico na Inter, que perdeu em casa para a Atalanta dias depois, pela Serie A – permitindo, assim, a aproximação da Juventus, que venceu na 30ª rodada, e da Roma, que foi buscar o empate com o lanterna Venezia, nos minutos finais, após estar perdendo por 2 a 0. O Feyenoord também tropeçou: o esforço da viagem a Milão cobrou caro e o time do sul da Holanda só empatou com o NAC Breda, em seus domínios.
Nos Países Baixos, nada deu certo para os italianos, que viram o Feyenoord encaminhar a eliminatória rapidamente (Arquivo/Inter)
Com o resultado positivo e o jogo de volta no De Kuip, no dia 11 de abril, os neerlandeses tinham a faca e o queijo na mão para chegar à final da competição. O bom jogo e a ideia de que seria a Inter quem precisaria atacar fez com que Van Marwijk optasse por fazer apenas algumas mudanças pontuais na equipe. O lateral Emerton tomou o lugar de Ono no meio de campo, abrindo espaço para Christian Gyan no flanco. Na outra lateral, Mauricio Aros foi escalado em vez de Rzasa.
Cúper, por outro lado, mudou praticamente o time todo, mantendo apenas Materazzi, Di Biagio, que virou zagueiro e tomou o lugar de Córdoba, Belözoglu e Ventola. Toldo voltou a ser o goleiro, o jovem Salvatore Ferraro saiu da equipe Primavera para estrear como profissional na lateral direita e Javier Zanetti atuou no flanco oposto. Cristiano Zanetti jogou no meio de campo, com Seedorf e Stéphane Dalmat sendo os grandes responsáveis a ligação com o ataque que, desta vez, contava com Ronaldo – e Vieri, seu grande parceiro, foi para o banco. O problema, para a Inter, é que, na primeira etapa, tudo deu errado.
O Fenômeno até tentou logo no começo em uma bela jogada individual, mas não passou por Zoetebier. Já aos 17 minutos, foi a vez de os mandantes chegarem, com um cruzamento de Van Persie que encontrou perfeitamente a cabeça de Van Hooijdonk, que não perdoou, inaugurou o marcador e ampliou a vantagem no agregado.
E passaram-se mais 17 minutos até que, em um contra-ataque fulminante, com a defesa da Inter toda desarrumada, Kalou se visse cara a cara com Toldo e batesse firme. O goleiro fez uma belíssima defesa, mas não conseguiu evitar o rebote. Tomasson, bem posicionado, foi oportunista e empurrou para o gol, deixando a classificação do Feyenoord muito bem encaminhada e a situação da Inter, dramática.
Imagens de um frustrado Ronaldo indo mais cedo do que o comum para o banco de reservas marcaram aquele fim de temporada da Inter (Bongarts/Getty)
Na segunda etapa, a Beneamata reagiria, porém apenas nos minutos finais, não tendo tempo de reverter o resultado. Foi só aos 83 que Cristiano Zanetti aproveitou a sobra, após desvio de Dalmat em jogada de escanteio cobrado por Conceição, que saíra do banco, e diminuiu a desvantagem. O empate chegaria já aos 89, com Kallon, de pênalti. O atacante de Serra Leoa entrara aos 68, no lugar de Ronaldo, que foi flagrado desolado entre os reservas e deixava evidente mais um capítulo de seu descontentamento com Cúper – fator que o faria deixar a agremiação, alguns meses depois. Contudo, era tarde demais para sonhar com uma virada milagrosa, que classificaria os nerazzurri pelo gol qualificado.
Assim, a Inter foi eliminada pelo Feyenoord, que seria o grande campeão do torneio, vencendo por 3 a 2 o Borussia Dortmund, em pleno De Kuip. Antes, contando com show do brasileiro Amoroso, o BVB tinha desbancado outro gigante italiano, o Milan, graças a um placar agregado de 5 a 3. Portanto, o sonho de final italiana – mais especificamente, milanesa – foi duplamente frustrado. E a temporada ainda acabaria de forma pouco gloriosa para a dupla da Lombardia.
Se o Feyenoord perdeu fôlego na disputa pelo título da Eredivisie e pôde se contentar com a taça da Copa Uefa e o Dortmund celebrou a conquista da Bundesliga, o Milan foi apenas o quarto colocado da Serie A. A Inter, por sua vez, viveria o maior trauma de sua história dias depois.
Abalada com a queda no torneio continental e cindida com as rusgas entre Cúper e Ronaldo, a Beneamata viu o Chievo, que brigava por um lugar na Champions League, encontrar um empate nos acréscimos e lhe infligir um 2 a 2 na antepenúltima rodada do campeonato. Assim, ficou somente um ponto à frente da Juventus e dois acima da Roma – que, na jornada posterior, bateria o mesmo time de Verona que castigou os nerazzuri por 5 a 0. Na saideira da Serie A, a Inter precisava ganhar de uma Lazio desinteressada, mas levou a virada, perdeu por 4 a 2 e entregou o título de bandeja para a Velha Senhora e a vaga direta na Liga dos Campeões para a Loba. Era o famoso 5 de maio de 2002.
De líder da Serie A e de uma mão na taça para terceira colocada em questão de minutos. Com Ronaldo se debulhando em lágrimas no banco de reservas, após ser novamente sacado por Cúper, e jurando que jamais vestiria nerazzurro – o que cumpriu, decepcionando a torcida. Tudo isso teve grande influência do Feyenoord, carrasco que alimentou a crise da Inter, ajudando a gigante a ficar de mãos abanando em 2002 e precisar de alguns anos para voltar a sorrir.
Inter: Fontana; Simic, Córdoba, Materazzi, Gresko; Conceição, Emre (Seedorf), Di Biagio, Guly (Recoba); Kallon (Ronaldo), Ventola. Técnico: Héctor Cúper. Feyenoord: Zoetebier; Emerton, Van Wonderen, Paauwe, Rzasa; Bosvelt, Ono, Kalou (Aros), Van Persie (Elmander); Tomasson, Van Hooijdonk. Técnico: Bert Van Marwijk. Gol: Córdoba (contra; 57’) Árbitro: Lubos Michel (Eslováquia) Local e data: estádio Giuseppe Meazza, Milão (Itália), em 4 de abril de 2002
Feyenoord: Zoetebier; Gyan, Van Wonderen, Paauwe, Aros; Bosvelt, Emerton, Kalou (Leonardo), Van Persie (Leonardo); Tomasson, Van Hooijdonk. Técnico: Bert Van Marwijk. Inter: Toldo; Ferraro, Di Biagio, Materazzi, J. Zanetti; Emre, C. Zanetti, Seedorf (Conceição), Dalmat; Ronaldo (Kallon), Ventola; Técnico: Héctor Cúper. Gols: Van Hooijdonk (17’), Tomasson (34’), C. Zanetti (83’), Kallon (89’) Árbitro: Antonio Jesús López Nieto (Espanha) Local e data: estádio De Kuip, Roterdã (Países Baixos), em 11 de abril de 2002
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