Zerozero
·16 giugno 2025
De bolsos vazios no <i>American Dream</i>

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·16 giugno 2025
A terra de todos os sonhos, berço do Tio Sam e dos Pais Fundadores, é implacável com quem a visita de bolsos vazios. O FC Porto chegou nesse estado a New Jersey, de confiança pelas ruas da amargura e níveis de qualidade coletiva abaixo do aceitável.
Uma primeira parte interessante, com momentos bons, permitiu-lhe sobreviver em território inóspito. O segundo tempo, de sofrimento, revelou as debilidades de sempre: incapacidade de proteção dos corredores, impotência no ataque organizado e Samu remetido ao papel de náufrago - isolado numa ilha de nenhures.
O nulo dos dragões, frente ao adversário teoricamente mais forte e um projeto consolidado nas mãos de Abel Ferreira, acaba por ser um resultado positivo e que cria expetativas lógicas para os restantes dois jogos da fase de grupos.
Para viver o American Dream, o FC Porto precisa de mais crédito e de outros méritos, méritos que não apareceram na terra que deu ao mundo Boss Springsteen: mais qualidade com bola, mais ligação entre os criativos Veiga-Mora-Fábio com Samu, mas capacidade na proteção à área.
A esquerda não vive dias fáceis na Land of the Dreams. Mas foi por lá que andou quase sempre Gabri Veiga, reforço em estreia no FC Porto.
O galego durou pouco mais de uma hora, mostrou atributos convincentes na condução de bola, mas esteve demasiado encostado ao flanco canhoto.
A atacar, Anselmi insistiu no 3x4x2x1, mas sempre com uma previsibilidade perigosa na primeira fase de pensamento e construção. Dois erros graves de Alan Varela deixaram o Palmeiras perto do golo, apesar dos dragões também terem assustado Weverton num remate rasteiro de Rodrigo Mora (who else?) e num cabeceamento de Martim Fernandes a meias com Felipe Anderson.
Em transição e com espaço, o FC Porto criou momentos de qualidade, mas sempre espaçados no tempo e sem grande ligação à lógica da partida. Essa mostrou um Palmeiras mais convincente, mais sabedor e com Estevão e Vítor Roque a semearem perigo e caos.
Não eram as ruas de LA ou as avenidas de San Diego, mas os centímetros de relva na área portista passaram por um sobressalto assustador em cima do intervalo: Roque fugiu pela esquerda e cruzou para Estevão e Maurício obrigarem Cláudio Ramos a duas defesas miraculosas.
Francisco Moura completou o trabalho ao afastar em cima da linha o remate de Richard Ríos - um belo jogador este colombiano.
Agarrado a uma ideia forte e implementada há seis anos seguidos por Abel Ferreira, o Palmeiras cresceu ao longo da segunda parte. Por essa ideia convicta, claro, mas também por estar numa fase diferente da época - o FC Porto está numa pré-época antecipada.
Esses dois fatores ajudam a explicar o segundo tempo pintado de verde. O FC Porto sofreu, baixou o bloco e Anselmi não ajudou a partir do banco. Pelo menos, não ajudou a equipa a ganhar - se a ideia era só empatar, então fez tudo certo.
As saídas de Veiga, Mora e Fábio para as entradas de médios mais defensivos (Eustáquio, Tomás Pérez e... André Franco, um camaleão) deixaram a equipa sem bola, sem metros, mas com superior capacidade de combate.
Foi essa crença competitiva, aliada à noite perfeita de Cláudio Ramos, a grande responsável pelo nulo. Os bolsos vazios amealharam um ponto e, se o FC Porto refletir justamente, talvez essa tenha sido a melhor notícia na noite de New Jersey, a terra de Springsteen, um dos maiores trovadores vivos da história norte-americana.
O dragão já não faz um Dancing in the Dark, mas continua às apalpadelas em vários momentos.