Nosso Palestra
·5 Juli 2025
‘Se o futebol, como a vida, não existe sem dor, vamos vivê-la’

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·5 Juli 2025
Não é do feitio do torcedor acusar o golpe, ao menos diante dos rivais. É da natureza clubista supervalorizar as conquistas do seu time e relativizar ao máximo os fracassos. Mas creio que estamos em espaço seguro para admitir: a nova derrota para o Chelsea doeu, e doeu muito.
As circunstâncias corroboram a angústia. O caminho até a final nunca parecera tão acessível. A Copa do Mundo de Clubes tem, ao mesmo tempo, reforçado a distância entre a elite europeia e os times brasileiros e mostrado que é possível vencê-los – por contraditório que isso soe. E o adversário, com elenco jovem e um tanto limitado, era pior do que aquele que nos tirou o Mundial de 2021.
Sim, existe ainda muita diferença de poderio financeiro. O Chelsea conseguiu contratar um atacante por mais de 400 milhões de reais, quase metade da receita anual do Palmeiras, e dois dias depois colocá-lo à disposição (palhaçada, hein, dona Fifa). Se contarmos os últimos anos, o clube inglês gastou por volta de 1 bilhão de euros em reforços, valor astronômico e fora da realidade de qualquer sul-americano.
Ainda assim, a sensação final é de que dava para ter vencido. Mesmo depois de o Palmeiras ter feito um primeiro tempo sofrível, o oponente não teve competência para matar o jogo. Na segunda etapa, a melhora do alviverde igualou as ações, permitiu o empate e o vislumbre da virada. Até que a fatalidade entrou em nosso caminho, mais uma vez.
Existem jeitos e jeitos de perder. O do jogo de sexta-feira (4) foi um dos mais cruéis que o futebol pode proporcionar. E por isso a agonia, os sintomas físicos (mais alguém?), a noite mal dormida, o buraco no peito de cada torcedor que se envolve de maneira renitente e pouco saudável com a Sociedade Esportiva Palmeiras.
Mas é preciso olhar de frente para a dor. Sem diminuí-la, sem relativizá-la. Cada qual à sua maneira: com lágrimas, reclusão, gritos de raiva, ofensas aos rivais oportunistas, ou tudo isso ao mesmo tempo. Pois é assim mesmo. O futebol é fascinante justamente porque emula, em seu universo próprio, a essência da vida humana: uma alternância inevitável entre êxtase e angústia, esperança e desolação, amor e ódio – sentimentos conflitantes que só fazem sentido em oposição uns aos outros.
Para completar, esses sentimentos por vezes são causados pelos mesmos personagens ou em situações idênticas. O azar de Andreas Pereira que nos deu o tri da Libertadores é o mesmo que afligiu Luan no fatídico pênalti convertido por Havertz na final do Mundial de 2021. O Weverton que supostamente falhou nas quartas de final é o mesmo goleiro que proporcionou o título brasileiro de 2023 ao defender a cobrança de Tiquinho Soares. O São Marcos que caçou borboletas diante do Manchester United em 1999 é o mesmo que, meses depois, parou Marcelinho Carioca e eliminou o Corinthians na semifinal da Libertadores.
Lembro que, durante aquele período terrível de 2002 a 2014 – marcado por mais rebaixamentos do que títulos do Verdão -, cheguei a me perguntar se haveria um jeito mais salubre de torcer. Um que me permitisse viver as vitórias com mais intensidade que as derrotas. Não demorou para vir a resposta: não existe. O valor das conquistas está atrelado ao tempo que gastamos nelas e ao tamanho da afeição envolvida. O preço do êxtase é a vulnerabilidade à tristeza e à angústia que só entende quem é apaixonado.
Se é assim, vamos viver a dor da derrota como precisa ser: plenamente, entre nós, do jeito Palmeiras.
Luiz Andreassa é palmeirense e jornalista.