O Banquete dos Mendigos | OneFootball

Pode-se debater infrutiferamente por dias e dias sem que jamais se determine conclusivamente se jogar todo retrancado pra vencer o campeão da Champions por uma bola é um feito mais relevante do que vencer o semifinalista da mesma edição da Champions dominando o jogo com picardia, engenho e arte.

Mesmo porque numa perspectiva de curto prazo como, por exemplo, a Copa do Mundo de Clubes, desempenho vale infinitamente menos que resultado.

Foi exclusivamente pela conjunto de resultados, nem todos memoráveis, que os quatro times brasileiros conseguiram a nada desprezível façanha de chegarem à fase de mata-matas da competição.

O desempenho dos brasileiros em si serviu pra adubar a ramagem frondosa do pachequismo, que andava meio ressequida. Mas foram os resultados que os colocaram nas oitavas.

E nessa etapa da competição o buraco é consideravelmente mais embaixo.  Apenas não perder deixa de ser suficiente para avançar às fases seguintes. Só a vitória interessa.

Na primeira partida das oitavas, um dos jogos mais “que se fodam os dois” dos últimos anos, o Botafogo tentou impor sua retranca à retranca palmeirense e a disputa de quem estaciona o maior ônibus na área foi análoga à experiência do pão com manteiga amarrado nas costas de um gato em queda livre.

A singularidade gravitacional resultou numa interminável pelada de péssima aparência que se resolveu nos minutos finais com um chute desviado. Mais sem vergonha, impossível.

Foi o suficiente para que a torcida do Flamengo, sempre solidária e fraterna, manifestasse suas alegres impressões sobre o fracasso do co-irmão. Normal. É do jogo e nenhuma derrota de nossos vizinhos jamais nos prejudicou.

Uma parcela mais ousada dos bem vestidos chegou a elucubrar, numa atitude flagrantemente herética, como deveria ser encarado um resultado negativo do Flamengo na mesma fase. Pela lógica desses iconoclastas perder pro Bayern seria menos vergonhoso que perder pro Palmeiras.

Noves fora o péssimo gosto de publicamente considerar possível tal possibilidade, incontinência verbal essencialmente antirubro-negra, não se pode deixar de observar nessa linha de raciocínio a sombra insidiosa do viralatismo estrutural que rege as avaliações sobre tudo que é nosso em relação ao que vem das oropa.

Não há espaço para comentários ponderados e esportivamente neutros. Parem de maluquice. O Flamengo precisa entrar com tudo, jogar pra ganhar. Os alemão é tudo safado.

É pra encarar o Bayern como se fosse um adversário qualquer, mais um time a ser amassado, sem jamais se apoiar nas muletas de que muito já fizeram de chegar onde chegaram, que as diferenças orçamentárias são determinantes, como se todas as circunstâncias estivessem contra nós, blá-blá-blá eu te amo. Tal postura será inaceitável.

Não deveria ser necessário dize-lo, mas agora já era, vou dizer. O Flamengo tem que ganhar! Não há mérito algum em ser desclassificado, seja lá por quem for. Tampouco existe um ranking de desonras.

Se desclassificado, o Flamengo vai pra mesma lixeira da história onde hoje repousam sem glória os iludidos de General Severiano. Não existem lugares de honra no banquete dos mendigos.

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