
Calciopédia
·22 Juli 2025
O aguerrido Matteo Brighi foi craque no videogame e viveu seus melhores anos na Roma

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·22 Juli 2025
A história do futebol italiano é repleta de jogadores que, embora não tenham exalado o carisma de um Francesco Totti ou atingido a notoriedade de um Andrea Pirlo, encarnaram de forma plena a seriedade e o profissionalismo que tanto encantam os apreciadores da Serie A. O volante Matteo Brighi foi um desses homens discretos. Sua carreira, longe de ser marcada por explosões de fama, foi construída sobre fundamentos sólidos, como regularidade, garra, obediência tática e razoável técnica – características que levou aos 12 clubes pelos quais passou. A seriedade com que atuava fazia dele um elemento confiável em meio ao caos que muitas vezes reinava nos bastidores e lhe fez ser respeitado.
Nascido no início de 1981, Brighi foi o segundo de quatro irmãos, todos jogadores de futebol – Alessandro e Andrea só atuaram nas divisões inferiores e Marco, quando garoto, fez pouquíssimas partidas pela Juventus antes de ter o mesmo destino dos outros dois. Matteo, o único de sucesso, deu seus primeiros passos no esporte em equipes amadoras e, aos 15 anos, ingressou nas categorias de base do Rimini, clube de sua cidade natal.
Com paciência e dedicação, superou os primeiros anos como juvenil e, em 1997-98, foi integrado ao elenco profissional, ainda que não tenha atuado. A estreia ocorreu meses depois, com 10 jogos e um gol pela Serie C2, a quarta divisão italiana. Na terceira temporada pelos biancorossi foi titular absoluto, jogando 34 partidas, balançando as redes seis vezes e levando o Rimini à final do playoff de acesso à Serie C1, perdida para a Vis Pesaro. As atuações do volante chamaram a atenção da Juventus, que – a pedido do técnico Carlo Ancelotti – o contratou em definitivo após 44 aparições e sete tentos pelo clube romanholo.
Depois de começar no Rimini, de sua cidade natal, Brighi chamou a atenção da Juventus, mas pouco vestiu bianconero (EMPICS/Getty)
Enquanto despontava em Rimini, Brighi já era presença constante nas seleções de base italianas. Em 2000, após já ter passado pelas equipes nacionais sub-18 e sub-20, estreou pela sub-21, onde viria a jogar até 2004, com 35 partidas e dois gols, sendo capitão em boa parte do período. O romanholo participou da Eurocopa da categoria em 2002, chegando às semifinais, e foi titular absoluto no título continental de 2004, embora tenha sido cortado da convocação para os Jogos Olímpicos de Atenas pelo técnico Claudio Gentile.
Àquela altura, Brighi flertava com a tentativa de consolidação como profissional e uma pitoresca história. Aos 19 anos, o volante estreou na Serie A em setembro de 2000, na vitória por 2 a 1 sobre o Napoli, mas num um elenco com Alessio Tacchinardi, Edgar Davids, Antonio Conte e Enzo Maresca, as suas chances na Juventus foram limitadas: 12 partidas em meio a uma temporada frustrante, marcada por eliminações precoces na Liga dos Campeões e na Coppa Italia, além do vice na Serie A.
A escassa utilização em Turim resultou no empréstimo de Brighi ao Bologna. Em 2001-02, sob a orientação de Francesco Guidolin, o volante impressionou: obtendo a titularidade indiscutível do time emiliano, fez 32 partidas na Serie A e ganhou o prêmio de melhor jogador jovem do campeonato. Graças à contribuição da revelação italiana, os rossoblù ficaram com a sétima posição do certame.
De volta à Juventus, o volante foi campeão da Supercopa Italiana em agosto de 2002, mas logo teve metade de seus direitos vendidos ao Parma, rival do Bologna, na negociação que levou Marco Di Vaio a Turim. No time treinado por Cesare Prandelli, Brighi jogou ao lado de Adriano, Júnior, Alberto Gilardino e Adrian Mutu, além de ter dividido o meio-campo com Hidetoshi Nakata, Simone Barone, Mark Bresciano, Sabri Lamouchi e outros nomes.
Por Bologna e Parma, Brighi foi eleito melhor jovem da Serie A e ganhou nota alta em game: a Juventus, porém, o emprestou ao Chievo (imago/Buzzi)
Em Parma, o volante não atuou tanto quanto na campanha anterior: somou 25 jogos, considerando todas as competições. Porém, além de ter marcado seu primeiro gol na Serie A, num duelo com o Torino, ajudou os crociati a terminarem o campeonato em quinto lugar, que resultava em uma vaga na Copa Uefa. Naquela mesma temporada, em agosto de 2002, estreou na seleção principal ao ser convocado por Giovanni Trapattoni para um amistoso contra a Eslovênia. Era a coroação de um percurso sólido nas categorias de base – embora tenha sido uma chamada solitária naqueles tempos e que não se repetiria por quase sete anos.
Naquela mesma época, Brighi foi envolvido num curioso episódio: com um overall de 97 (o máximo é 99), se tornou o melhor atleta do game Fifa 2003, muito acima de Davids, Roberto Carlos e Ryan Giggs, que estampavam a capa do jogo, ou de Zinédine Zidane, dono do prêmio de melhor do mundo pela máxima entidade do futebol naquele ano, ou de Pavel Nedved, o Bola de Ouro. Se foi uma brincadeira dos programadores ou um erro nunca saberemos, mas nem o próprio volante, tempos depois, entendeu por que teve uma nota tão alta.
Em 2003, até pareceu que a Juventus acreditava que Brighi poderia chegar a um desempenho tão bom fora dos videogames, pois readquiriu seus direitos no fim da temporada por 11,5 milhões de euros. Contudo, seguiu emprestando o jogador. O romanholo passou 2003-04 no Brescia, onde encontrou Roberto Baggio em seu canto do cisne. O time oscilava, embora o volante se destacasse pela regularidade, superando um momento inicial de escassa utilização pelo técnico Gianni De Biasi. Seu gol contra o Siena, em maio, garantiu a salvação matemática da equipe e simbolizou sua importância silenciosa. No total, fez 29 partidas e anotou um único, mas decisivo, tento.
Vendido em definitivo à Roma em 2004 como parte do negócio que levou Emerson à Juventus, Brighi foi imediatamente cedido ao Chievo, numa triangulação que também envolvia a chegada de Simone Perrotta aos giallorossi. Lá, sob as ordens de Mario Beretta, virou protagonista. Marcou seu primeiro gol pelos gialloblù num jogo contra a Lazio, em outubro de 2004, e completou 36 partidas na temporada. Pilar no meio-campo do time de Verona, foi fundamental para a salvação conquistada na bacia das almas, após Maurizio D’Angelo chegar ao comando e conduzir o Céo a sete pontos conquistados nas três últimas rodadas.
Na Roma, o volante amadureceu e viveu o auge de sua carreira (Getty)
Brighi permaneceu por mais dois anos no Vêneto. Nas gestões de Giuseppe Pillon e, depois, de Luigi Delneri, viveu emoções bem distintas. Primeiro, ajudou o Chievo a ficar com a sétima posição no campo, em 2005-06, mas saltar para a quarta posição – que rendeu classificação inédita à Champions League – após as punições a Juventus, Lazio e Fiorentina, envolvidas no escândalo Calciopoli.
Na campanha seguinte, o Céo caiu ainda na fase preliminar da Liga dos Campeões e, relegado à Copa Uefa, amargou uma nova queda já na primeira etapa da competição – Levski Sofia e Braga, respectivamente, foram os seus carrascos. Na Serie A, uma sequência de maus resultados levou à troca no comando e nem mesmo os esforços de Delneri, ídolo clivense, ou os seis gols de Brighi, em sua temporada mais prolífica, bastaram para evitar o rebaixamento. A derrota no confronto direto com o Catania, na última rodada, selou o triste destino do Chievo depois de seis anos consecutivos na elite. Assim, o volante tornaria para a Cidade Eterna após 94 aparições e nove tentos pelos gialloblù.
Com a volta a Roma em 2007, Brighi finalmente teve a chance de construir sua história na agremiação da capital. Inicialmente não foi titular no time de Luciano Spalletti, até porque competia com Daniele De Rossi, David Pizarro, Alberto Aquilani e Perrotta, mas era benquisto pelo técnico, que o utilizava bastante no segundo tempo, devido a seu poder de marcação e à técnica nos passes – Matteo servia como uma ferramenta para segurar resultados. O romanholo fez 32 partidas na temporada 2007-08, sendo campeão da Coppa Italia e da Supercopa Italiana, além de vice da Serie A, três pontos atrás da Inter.
A temporada 2008-09 seria a melhor de sua carreira – curiosamente, num ano que não foi tão bom para a Roma e no qual a relação entre Spalletti, peças do elenco e a diretoria começou a ficar estranha. A equipe giallorossa perdeu a fluidez de jogo que havia impressionado a Itália e a Europa, de modo que a sua campanha terminou sem títulos, com eliminações precoces nas copas e apenas um sexto lugar na Serie A. Apesar disso, Brighi intensificou o nível de seu futebol no 4-2-3-1 romanista, formando com De Rossi uma dupla de volantes capaz de dar cobertura à defesa e apoiar o ataque. Então com 28 anos, o romanholo foi titular e, em 44 aparições, forneceu quatro assistências e marcou seis gols, três dos quais na Liga dos Campeões.
Após uma lesão no joelho, Brighi entrou em declínio e passou a rodar por times com menor ambição, como o Torino (Getty)
Em março de 2009, durante essa boa fase na Roma, foi convocado por Marcello Lippi para a seleção italiana, após quase sete anos fora do radar da Nazionale. Brighi atuou nas eliminatórias da Copa de 2010 contra Montenegro e Irlanda, e em junho jogou um amistoso contra a Irlanda do Norte, em Pisa. No entanto, não seria incluído na lista final para o Mundial e também não ganharia novas oportunidades com a camisa azzurra.
Uma das razões para Brighi não ter ido para a Copa do Mundo foi a perda de espaço na Roma após a saída de Spalletti, no começo de 2009-10. Sob as ordens de Claudio Ranieri, o romanholo viveu uma temporada agridoce, iniciada como titular, mas concluída como peça de rotação do elenco giallorosso – o volante era utilizado com certa frequência, porém sem a centralidade que teve em 2008-09. A Loba foi vice-campeã da Serie A, perdendo o título para a Inter por dois pontos, numa disputa cabeça a cabeça, e também perdeu a Coppa Italia para os nerazzurri. Na Liga Europa, foi eliminada pelo Panathinaikos na fase de 16-avos de final. Matteo jogou 33 partidas, marcou cinco gols e forneceu quatro assistências.
Em 2010-11, Brighi renovou contrato com a Roma até 2014, além de ter feito 32 partidas – mantendo sua posição de peça de rotação do plantel – e marcou um gol, mas a temporada a Roma foi irregular: eliminação nas oitavas da Champions para o Shakhtar Donetsk, nova derrota para a Inter na Coppa Italia, dessa vez nas semifinais, um sexto lugar no campeonato e o vice da Supercopa Italiana. Em maio de 2011, fraturou a fíbula perto do joelho direito numa peleja contra o Milan e encerrou sua participação com a camisa giallorossa mais cedo do que o previsto. No total, foram 142 aparições pela equipe capitolina.
A lesão marcou o início do declínio. Emprestado à Atalanta para 2011-12, jogou apenas 11 partidas devido a uma sequência de contusões musculares e pouco contribuiu para uma campanha de meio de tabela da Dea. Em 2012-13, o volante foi cedido ao Torino, onde recuperou ritmo de jogo e teve um desempenho satisfatório na trajetória de salvação dos granata, com dois gols marcados em 25 aparições. Brighi acabou ficando no Toro em definitivo, mas permaneceu por somente mais alguns meses no time, antes de ser vendido ao Sassuolo em janeiro de 2014. Curiosamente, duas semanas antes de selar sua transferência para o clube neroverde, anotou um dos tentos da vitória dos piemonteses – um resultado importante na trajetória da equipe, que ficaria na sétima posição da Serie A.
Já veterano, Brighi voltou ao mesmo Bologna em que brilhara quando jovem e teve uma segunda passagem consistente pelo clube (Getty)
Brighi chegou a um Sassuolo que ainda dava seus primeiros passos na elite do futebol italiano e precisava de jogadores com experiência para tentar se salvar do descenso. Aliás, quando o volante estreou pelos emilianos, o time se encontrava na zona de rebaixamento. O romanholo chegou para ser titular e até começou sua trajetória pelos neroverdi nesta condição, mas uma lesão o relegou ao banco de reservas e lhe fez ter importância apenas fora dos campos, devido a sua liderança. No fim das contas, a equipe conseguiu a permanência com uma boa sequência de resultados no apagar das luzes.
O volante seguiu no Sassuolo em 2014-15, dessa vez alternando entre a titularidade e o banco de reservas – atou em 25 partidas na Serie A, 14 delas desde o início, e ajudou o time de Eusebio Di Francesco a obter uma tranquila permanência na elite, com uma campanha de meio de tabela. Na temporada seguinte, o já experiente Brighi, então com 34 anos, retornou ao Bologna, clube em que havia sido eleito como melhor jovem do campeonato.
Cerca de 14 anos depois de ter despontado com a camisa rossoblù, Brighi tinha a missão de ajudar o tradicional time emiliano, recém-promovido à Serie A, a se manter na elite. Embora tenha chegado muito mais para ser tutor dos jovens Saphir Taïder (que fora seu colega no Sassuolo), Amadou Diawara e Erick Pulgar, o veterano ganhou espaço após a demissão de Delio Rossi, que quase não o utilizou, e se tornou peça importante da equipe de Roberto Donadoni. Matteo contribuiu para uma tranquila salvação do Bologna, mas, apesar do desempenho aceitável, não renovou seu contrato.
Já em fase final de carreira, assinou com o Perugia, então na Serie B. Titular absoluto da equipe treinada por Cristian Bucchi, Brighi marcou dois gols e ajudou o time umbro a chegar aos playoffs, caindo na semifinal para o Benevento. O volante começou a temporada seguinte no mesmo clube, que seguia com o objetivo de lutar pelo acesso, mas se transferiu em janeiro de 2018 para o Empoli, então terceiro colocado da competição.
No Empoli, o romanholo celebrou o título da Serie B, mas se despediu do futebol com rebaixamento (Getty)
Brighi foi um reforço pedido por Aurelio Andreazzoli, recém-chegado ao comando do Empoli. Sob a batuta do técnico, que conhecia Matteo por ter sido auxiliar da Roma nos anos do volante na Cidade Eterna, os azzurri arrancaram na Serie B: não perderam mais na competição e foram campeões com 85 pontos.
Mais importante nos bastidores do que em campo, o veterano seguiu no Empoli em 2018-19, fazendo a temporada de despedida de sua carreira na elite. O romanholo fez apenas 10 partidas na competição e recebeu pouquíssimos minutos, mas marcou seu último gol como profissional, na penúltima rodada, contra o Torino. Entretanto, não conseguiu evitar o dramático (e imerecido) rebaixamento do time toscano, confirmado com uma derrota para a Inter no apagar das luzes, na derradeira jornada. Apesar de ter feito bons jogos e ter mostrado estilo ofensivo, os azzurri sucumbiriam ao fraco desempenho como visitantes.
Depois da decepção com o Empoli, Brighi pendurou as chuteiras aos 38 anos. Por um tempo, se afastou do esporte e se dedicou a passatempos discretos, como a leitura. Em 2022, porém, voltou à modalidade como funcionário da FIGC, a Federação Italiana de Futebol: se tornou membro da comissão técnica de Paolo Nicolato e, posteriormente, principal auxiliar de Carmine Nunziata na seleção sub-21 da Itália. Em 2025, seguiu o segundo das citados, que foi remanejado para a equipe nacional sub-20 azzurra.
Matteo Brighi Nascimento: 14 de fevereiro de 1981, em Rimini, Itália Posição: volante Clubes: Rimini (1998-2000), Juventus (2000-01 e 2002), Bologna (2001-02 e 2015-16), Parma (2002-03), Brescia (2003-04), Chievo (2004-07), Roma (2007-11), Atalanta (2011-12), Torino (2012-14), Sassuolo (2014-15), Perugia (2016-18) e Empoli (2018-19) Títulos: Supercopa Italiana (2002 e 2007), Euro Sub-21 (2004), Coppa Italia (2008) e Serie B (2018) Seleção italiana: 4 jogos