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·10 Maret 2025

Luís Frade: «Quando me ligaram do Barcelona fiquei incrédulo»

Gambar artikel:Luís Frade: «Quando me ligaram do Barcelona fiquei incrédulo»

Luís Frade é um dos bastiões da resistência da portugalidade no FC Barcelona. Erick Mendonça faz companhia ao pivot da seleção nacional e do emblema catalão, mas até à temporada passada havia André Coelho também no futsal, além de João Rodrigues no hóquei em patins, que ficou sozinho após ter saído Hélder Nunes. Isto só nas modalidades, pois no futebol havia João Félix e João Cancelo.

A propósito da visita do Benfica para o jogo da Champions de futebol, o zerozero conversou com o andebolista, que está a cumprir a quinta temporada nos culés.


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zerozero (zz): Luís Frade como é viver em Barcelona, numa cidade tão grande e num clube tão grande, mesmo sabendo que tinha tido as duas experiências em Portugal?

Luís Frade (LF): Agora já se tornou tudo muito normal, já levo cinco anos a viver em Barcelona e estou muito contente. Como disse, já venho de uma cidade grande... No início sentes mais respeito, mais a nível de clube, não de apreensão, mas por aquele nervosismo normal de quem chega, mas depois acabas por te integrar neste meio.

zz: O que mais o surpreendeu, mesmo vindo de um clube grande, no Barcelona? No capítulo do andebol, o Barcelona é sempre o Barcelona.

LF: Surpreendeu-me a integração que tive nesta equipa. Olhas de fora e pensas que é só estrelas, mas na verdade eram pessoas normais, super amigos e que me integraram super bem na equipa. Pensei que ia ser uma integração mais difícil, pois era uma equipa nova, com um andebol diferente, numa nova cidade, noutro país, nova língua, um estilo de jogo novo, mas foi super fácil a integração.

zz: Chega no pós-covid, mas com a pandemia ainda bem instalada. Além disso, foi para Espanha muito novo e isso terá ajudado na maturidade que foi ganhando com esta experiência internacional. Quando surgiu o nome de Barcelona pela primeira vez pensou que seria possível, que era verdade?

LF: Foi uma situação bastante engraçada, porque a primeira vez que o treinador me ligou, estava a ter um daqueles lanches de balneário, no Sporting, e como me ligaram de um número espanhol, pensava que era o Ruesga ou Ivan Nikcevic que me ligaram e até disse para deixarem de brincar, até que depois percebi que me ligaram do Barcelona. Foi engraçado, no momento fiquei incrédulo, mas era impossível dizer que não. Estou muito contente de estar aqui.

zz: Onde acha que surgiu o seu ponto de maturação maior e que ajudou-o a ter esta afirmação no Barcelona? Foi quando saiu o Fàbregas e passou a ter uma posição diferente?

LD: Ao nível do jogo, sim. Se estiver a falar da minha carreira, a saída do Águas Santas para o Sporting terá sido o momento que me fez mais crescer, porque mudei tudo. Mudei a minha cidade natal, fui do Porto para Lisboa, fui sozinho e isso foi mais complicado. Por isso, a partir do momento em que comecei a estar sozinho e ter as rotinas de profissional, porque a diferença entre o Águas Santas e o Sporting é que foi o ponto de viragem maior na minha carreira, já fiquei mais fácil a aceitação. Ao nível do andebol, aqui é outro nível... Entrar aqui é muito complicado, o primeiro ano foi incrível, acabámos por perder uma Final Four em dezembro, mas ganhar outra em junho. Aprendi muito nos primeiros dois anos, foi incrível. Depois, infelizmente, tive a lesão e apesar de a ter curado rápido, ao nível andebolístico, olhar para o jogo, ver o jogo e como o encaras é muito diferente, é um desafio. Acho que esse foi um passo à frente muito grande que dei e depois, claro, com a saída do Ludovic Fabregas tive de assumir o passo que a equipa preciso e correu-me bem.

zz: Foi um ato natural, esse passo em frente? Não surpreendeu a decisão do treinador?

LF: Para mim, foi a coisa mais natural do Mundo. Estava preparado, treinamos para isso todos os dias e sinto que esse passo em frente foi algo normal, joguei exatamente da mesma forma. Não me preparem de maneira diferente, fiz o mesmo trabalho na off-season, na pré-temporada... Tudo igual. Só me tive de adaptar à intensidade, porque passei a ter mais tempo de jogo, fui muito utilizado logo de início e houve um período de adaptação para isso, mas continuei a ser o mesmo e a jogar da mesma forma. Ainda assim, acredito que tive uma visibilidade um bocadinho maior.

zz: O que faz do Barcelona ser Més que un Club?

LF: Tudo. A instituição em si, a fundação FC Barcelona, o grau de influência e de apoio que dá na cidade e na Catalunha e sentimos isso. É muito bonito... É um clube muito ligado a todas as secções, a todas as modalidades, masculino, feminino... Por isso, dizemos que é Més que un Club.

zz: Houve quase uma razia de portugueses, só ficou você e o Erick Mendonça, mas no ano passado ainda havia muita gente. Como era a vossa relação entre portugueses?

LF: Sim, era uma mini seita... (risos) Era engraçado e tornámo-nos numa pequena família. Ainda falamos com regularidade, quando vou a Portugal tento estar um bocadinho com eles, porque eles eram as únicas pessoas com quem falávamos verdadeiramente português, por isso, a relação é muito bonita. Por isso digo que tanto eu, como a minha namorada, falamos regularmente com todos. É sempre bom conseguires falar português, com pessoas que estão exatamente na mesma situação que tu e estamos ali uns para os outros. Nós, nas modalidades, é mais difícil conseguir estar com as pessoas do futebol, mas tanto o João Félix, como o João Cancelo foram duas pessoas incríveis, chegaram a ir almoçar connosco várias vezes e foram momentos muito bonitos.

zz: Esse é o lado que parece intocável, mas vocês atletas são pessoas normais.

LF: É mesmo isso. O grau de exigência é maior, o grau de exposição da malta do futebol é muito maior que o nosso, porque no futebol tudo é notícia, a marca do carro, o espirrar sem estar com o cotovelo à frente... É muito complicado com eles, e do pouco que falamos com eles, percebemos que é bárbaro. Não é uma situação boa para eles, porque a vida privada deles fica reduzida a nada.

zz: É engraçado falar desse tema, pois neste último Mundial, Portugal foi muito falado. Sentiu isso?

LF: Eu sinceramente não, também porque não estou preocupado com o que as pessoas dizem. Mas não é muito bonito sentires que podes fazer tudo bem, que, no que aos futebolistas diz respeito, vão sempre falar da tudo da tua vida. A idolatria coloca os jogadores num pedestal tão grande, que não podes fazer nada. Com isso, esquecem que eles são pessoas, são humanos e por vezes têm mais restrições, por esse motivo. Mas no Mundial não sentimos nada disso. Foi muito bonito termos sentido todo aquele carinho, mas não sentimos a nossa privacidade roubada.

zz: Quando chegou ao balneário do Barcelona, que tipo de conversas houve, a propósito da performance de Portugal?

LF: Há sempre brincadeiras, somos um grande grupo de jogadores e um grande grupo de amigos. Já durante a competição recebia mensagens de quase todos eles a darem os parabéns pelas coisas que estávamos a fazer, tanto jogadores, como equipa técnica.

zz: E com o Emil Nielsen?

LF: Ele diz que foi o principal culpado por termos perdido. Os franceses o mesmo, a dizer que Portugal quase lhes ganhava. Estas situações ainda mais nos impulsionam a querer fazer mais, porque passas a ter mais confiança com os teus colegas de equipa.

zz: Quem só vê andebol de ano a ano em Europeus e Mundiais se calhar não tem a noção da dimensão do Emil Nielsen. Como são os treinos? É também difícil?

LF: Claro, muito. Tanto ele, como o Gonzalo Pérez de Vargas, quando se põem na baliza e sem querer acordam num dia bom é complicado, mas também é isso que te faz crescer como jogador, porque estás a competir com atletas que são os melhores do Mundo nas suas posições.

zz: Começou no futebol, mas depois foi para o andebol. Qual foi o motivo?

LF: Sinceramente não me lembro. Ainda joguei quatro anos federado de futebol, mas depois desisti. Experimentei natação e basquetebol, mas depois participei numas férias desportivas na Maia e entre os vários desportos que participei o andebol foi aquele que mais me destaquei. O monitor disse que eu tinha muito potencial, por ser alto... Aquilo ficou-me na cabeça e eu dia ao ver uma notícia do Águas Santas no jornal, decidi ir procurar o clube. Foi assim e correu bem.

zz: Como atletas de andebol do Barcelona, vocês sentem reconhecimento na rua, ou é uma vida normal e tranquila?

LF: Não sentimos quase nada. É uma cidade muito grande, muito turística... O Aleix Gómez, que é daqui de perto, tem muito reconhecimento, o Gonzalo Pérez de Vargas pelo seu passado nas seleções nacional, o Dika Mem, obviamente, o Thiagus Petrus porque é alto e uma pessoa caricata, mas as pessoas não te abordam. Algumas conhecem-te e dão os parabéns e siga a vida.

zz: Quem for a Barcelona o que não pode deixar de fazer.

LF: Se o Camp Nou já estivesse pronto, era muito mais engraçado... Mas, talvez o centro da cidade, que é muito bonito, dar um passeio na praia, que é muito bonito.

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