Jogada10
·29 Juli 2025
Flamengo e São Paulo lideram ranking de torcida feminina e escancaram disparidade no Brasil

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·29 Juli 2025
O cenário do futebol brasileiro se mantém majoritariamente masculino, mas nota-se avanços pontuais em percurso. Uma pesquisa elaborada recentemente entre O Globo, Ipsos e Ipec, realizada entre os dias 05 e 09 de junho de 2025, revelou que Flamengo e São Paulo têm destaque nacional entre clubes com maior proporção de mulheres em suas torcidas.
A pesquisa reuniu 2.000 pessoas acima dos 15 anos entre 132 municípios e detém uma margem de erro de 2,2 pontos percentuais. Conforme o estudo, nenhuma agremiação possui maioria feminina em sua torcida, mas o Flamengo lidera a preferência entre mulheres: com 19,7%. Já o São Paulo aparece com 5,6% na sequência.
Entre termos proporcionais, cariocas e paulistas também ocupam o topo do ranking. O Rubro-Negro contabiliza 48% da torcida composta por mulheres, enquanto o Tricolor surge com 45%.
O Flamengo detém vantagem tanto no número absoluto quanto proporcional de torcedoras entre os cinco clubes com maiores torcidas do Brasil. Apesar de a maioria dos torcedores ainda ser composto por homens, o percentual feminino da torcida (48%) supera a média nacional, de apenas 21,2%.
Já o São Paulo lidera entre os representantes com a menor diferença entre os gêneros — ainda no comparativo com os cinco clubes de maiores torcidas. De acordo com a estatística, 5,6% são mulheres e 7,2% homens.
O levantamento também expôs o desequilíbrio nos percentuais de outras torcidas. O Palmeiras, que anteriormente apresentava 6,2% de preferência entre mulheres, recuou para 5%. Já Vasco se destacou pelo alto índice masculino, com 67% de presença. O número, aliás, representa o maior percentual entre os clubes citados.
Embora o número de torcedoras venha crescendo e clubes estejam se mobilizando para tal, ele ainda está longe de refletir equidade. O São Paulo adotou medidas voltadas à inclusão feminina, como parcerias com aplicativos de transporte exclusivos para mulheres e campanhas que oferecem descontos nos deslocamentos até o Morumbis.
Além disso, o Tricolor criou canais de denúncia, disponibilizou espaços para acolhimento de vítimas de violência e promoveu ações de saúde. Exames como mamografia estão inclusos e são realizados de forma gratuita no estádio.
O Rubro-Negro também tem atuado a fim de aprimorar a relação com o público feminino por meio de estudos internos. O clube tem desenvolvido um projeto de segmentação de torcedores com base no comportamento e no consumo de conteúdo.
Segundo Ricardo Hinrichsen, vice-presidente de marketing do clube, o público feminino representa parcela expressiva da torcida, mas exige estratégias específicas. “Estamos mapeando o perfil dos nossos fãs para diferenciar os nichos. Já chegamos a algumas conclusões iniciais. Vamos divulgá-las quando o trabalho estiver pronto”, e completou:
“Sabemos que o público feminino é muito grande. Há algumas semelhanças entre homens e mulheres na forma como consomem o futebol, mas há diferenças importantes na maneira de se relacionar com o clube. Temos que fazer esse trabalho estratégico”, pontuou o dirigente.
Os esforços, porém, ainda não refletiram em resultados nos sócios-torcedores, por exemplo. A participação feminina neste nicho ainda é reduzida, com porcentagem que gira entre 10% e 15% na maioria dos clubes. Por sinal, o número acompanha a ocupação de mulheres nas arquibancadas: estimada em apenas 14%.
O estudo também revelou distorções entre os clubes que não figuram entre os cinco primeiros. O Santos, por exemplo, apresentou uma queda significativa no ranking feminino. Apenas 1% das mulheres indicaram o time como sua preferência, contra 3,1% dos homens. Como resultado, o clube saiu da 10ª colocação geral para a 12ª entre as torcidas femininas.
A socióloga Leda Maria da Costa, pesquisadora do Laboratório de Estudos em Mídia e Esporte da UERJ, avaliou o histórico de exclusão que ainda impacta o futebol nacional: “O futebol sempre disse um grande ‘não’ às mulheres. Se trata de um público rejeitado por muito tempo”.