
Central do Timão
·24 Mei 2025
Augusto Melo pede expulsão de ex-diretor do Corinthians, que reage em nota; acusações contêm contradições

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·24 Mei 2025
No último dia 15, o presidente do Corinthians Augusto Melo solicitou à Comissão de Ética e Disciplina do clube a abertura de procedimento contra o ex-diretor financeiro Rozallah Santoro, que ocupou o cargo entre janeiro e junho de 2024. O mandatário alvinegro faz diversas acusações contra Rozallah e pede a sua expulsão do quadro associativo do Corinthians.
Além disso, Augusto Melo exige que a CED obrigue Rozallah a pagar mais de R$ 40 milhões ao clube, a título de reparação por prejuízos supostamente causados por ele durante sua passagem na diretoria. A Central do Timão teve acesso ao ofício, que tem sete páginas e é assinado por Augusto Melo na condição de presidente. Confira a seguir um resumo do texto:
Rozallah Santoro e Augusto Melo no Corinthians. Foto: Reprodução
Conduta criticada
O texto inicia recordando que Rozallah foi diretor financeiro do Corinthians até o início de junho de 2024, e aponta que, já na condição de conselheiro trienal, votou para rejeitar as contas daquele exercício. Augusto diz que tal atitude, apontada como “contradição”, feriu o artigo 6º do Regimento Interno Administrativo, que fala sobre o dever de “zelar pelos interesses do Corinthians”. Um artigo do estatuto também é citado, mas chama atenção que o texto da norma não tenha relação com os fatos imputados ao ex-diretor.
Além disso, o documento acusa Rozallah de não apresentar “planos de longo prazo, orçamentos, previsões e iniciativas de redução de custos, alinhados com os objetivos estratégicos do clube”, e ignorar “gestão de riscos com vistas a identificar e mitigar riscos financeiros, preparando o clube para cenários adversos”. No entanto, o pedido não incluiu elementos para sustentar tais acusações.
Caso Rojas
A denúncia, então, aborda o caso Rojas, meia paraguaio contratado pelo Corinthians em 2023 e que abandonou o clube em fevereiro do ano seguinte, após o descumprimento de um acordo firmado no início da gestão Augusto Melo para quitar dívidas de direitos de imagem. O Alvinegro foi condenado pela FIFA, em junho passado, a pagar R$ 40,4 milhões ao atleta – um recurso do clube ainda tramita na Corte Arbitral do Esporte (CAS).
Augusto acusa o ex-diretor de ter sido omisso e decidido, por conta própria, não pagar a parcela de fevereiro do acordo entre clube e jogador. Para sustentar a acusação, o pedido apresenta a cópia de um e-mail, enviado pelo advogado de Rojas em 21 de fevereiro de 2024, a membros da diretoria do Corinthians, no qual aponta o atraso na parcela. O valor do pagamento era de R$ 1.363.342,13 ao representante do atleta (Redland Marketing Esportivo) mais US$ 43.008,00 ao intermediário (Football One S.A.).
No e-mail, o advogado Rafael Botelho explica que o vencimento da parcela havia ocorrido em 10 de fevereiro, e que desde o dia 15 o atleta estava livre para rescindir unilateralmente seu vínculo com o clube, de acordo com termos presentes no acordo e aceitos pela diretoria corinthiana. A rescisão, em si, acabou acontecendo no dia 28, também por e-mail. Rubens Gomes, ex-diretor de futebol, e Roberto Gavioli, ex-gerente financeiro do clube, também estavam copiados em ambas as mensagens.
Neste trecho da denúncia, também é apresentada uma tabela que representaria o fluxo financeiro do Corinthians entre os dias 16 e 24 de fevereiro do ano passado, apontando saldo positivo total de pelo menos R$ 3,7 milhões nas contas. Não há, porém, um demonstrativo similar para a semana anterior (9 a 15 de fevereiro), que abrangeria a data de vencimento da parcela e os dias subsequentes.
O documento também não apresenta evidências de alguma cobrança do presidente ao ex-diretor, por escrito, em qualquer data, seja antes ou depois do vencimento da parcela, da cobrança do advogado de Rojas ou do anúncio do rompimento unilateral do atleta, que gerou uma cobrança de R$ 8.030.008,00 – atualmente em disputa no CAS. Tal disputa, diz a denúncia, seria de responsabilidade de Rozallah, que com isso teria causado “grave dano” à imagem do Corinthians, citando o artigo 28 do estatuto:
Art. 28- É passível da pena de desligamento o associado que:D – cometer ato grave contra a moral social desportiva ou contra dirigente em função de seu cargo.
Outras acusações
O documento também afirma que Rozallah teria sido irresponsável no exercício da função de diretor, ao não controlar o fluxo de caixa do Corinthians. Augusto Melo acusa seu ex-diretor de não alertar a gestão sobre “possíveis descontroles no orçamento”, omitindo “prejuízos financeiros” ocorridos no período.
Vale apontar, porém, que em março de 2024, ainda com Rozallah como diretor financeiro, o clube promoveu a revisão do orçamento da temporada. O clube aumentou sua projeção de faturamento, prevendo arrecadar mais em patrocínios e venda de atletas, além de prever um aumento também nas despesas, mas ainda esperando um superávit de R$ 17,6 milhões no exercício.
Também é atribuída a Rozallah a responsabilidade pelos balancetes mensais do período, que não teriam sido publicados. No entanto, em rápida consulta ao site do Corinthians, é possível encontrar notícia de 19 de março de 2024, quando o clube anuncia a publicação do balancete mensal de janeiro. Apenas em junho, já com Rozallah fora da gestão, o clube anunciou os números dos meses seguintes, na forma de um balancete trimestral.
Possíveis divergências
As acusações de Augusto Melo são feitas 11 meses após a saída de Rozallah Santoro da diretoria e 15 meses após a rescisão unilateral consumada por Rojas. Até então, durante todo este período, em nenhum momento o presidente havia se manifestado em sentido parecido, assim como jamais havia atribuído ao ex-diretor má gestão no exercício do cargo.
Em maio de 2024, por exemplo, portanto após a saída do atleta, Augusto posou com Rozallah em vídeo para reforçar a permanência do ainda diretor, que havia pedido para deixar o cargo em razão de declarações do presidente no podcast do influencer Cross, naquele mesmo mês. Persuadido a permanecer após promessa de autonomia total na função, Rozallah acabou por repetir o pedido de demissão pouco depois, em 7 de junho.
Nesta entrevista em questão, inclusive, o presidente alvinegro fala sobre o caso Rojas, afirmando abertamente que tinha ciência do atraso no pagamento da parcela e que o dinheiro, provisionado inicialmente para honrar o acordo com o meia, foi usado para pagar as multas rescisórias da demissão de Mano Menezes e contratação de António Oliveira junto ao Cuiabá:
“Não tinha motivo pra ele sair, pô, era questão de um, dois dias, e eu tinha falado (que) a gente paga. Porque nós tivemos que usar esse dinheiro do Rojas pra pagar o treinador (António), pra ele poder (estrear) no dia, tá?”
A mesma versão foi relatada pelo próprio Rozallah no podcast Deu Zebra Cast, em 9 de maio deste ano. “Tinha acabado de acontecer a rescisão do Mano, eu tinha que pagar a primeira parcela, e tinha jogo sábado, a diretoria já queria que o António Oliveira estivesse sentado no banco, então tinha que pagar a liberação junto ao Cuiabá. Aí fui ao escritório do presidente e disse que o único o dinheiro que a gente tinha estava provisionado pra pagar o Matias Rojas”, disse.
O conselheiro prosseguiu, afirmando que a decisão de pagar as rescisões e atrasar o pagamento a Rojas foi do presidente: “(Ele disse) ‘Paga, depois a gente se vira’. Para o António Oliveira ser liberado. Cara, na quarta-feira não tinha dinheiro pra pagar o Rojas. A gente não se vira, né? Ah, mas entra a bilheteria. Está no fluxo de caixa, projetado. A decisão foi dele (Augusto).”
Augusto Melo foi ouvido sobre o caso Rojas outras vezes, ainda, nos últimos meses, sem jamais responsabilizar Rozallah pelo atraso na parcela do acordo. Em março de 2024, por exemplo, o presidente falou ao ge.globo que conversou pessoalmente com o atleta e seu empresário sobre o problema, sem sucesso.
“Ele não quer ficar mais, me explicou que queria ficar com a família. O mais pesado (da dívida) é (de direitos de) imagem, porque nunca foi pago. Acumulou muito. O salário dele, CLT, está em dia. É uma situação complicada. É daí (R$ 8 milhões) para mais. Falei com ele, falei com o empresário, eu mesmo tomei a frente e vamos resolver.”
Já em junho, à Gazeta Esportiva, Augusto culpou Rubens Gomes pela cláusula de rescisão por inadimplência. “O Augusto não participou de nenhuma reunião, nem com o Rojas e nem com nenhum jogador que o Rubão contratou. A assinatura do contrato foi feita porque ele (Augusto) confiava (em Rubão), e falaram que estava tudo certo”, informou a assessoria do presidente à época.
No entanto, Rafael Botelho, advogado e representante de Rojas, desmentiu a versão, afirmando que Augusto sabia da cláusula e estava à frente das negociações que firmaram o acordo, prometendo honrar os pagamentos: “O Augusto sabia de tudo, participava, falou comigo, participou por vídeo de uma reunião, sabia da cláusula. Fizemos o acordo pra pagar em seis vezes, sem juros, sem correção, sem multa, parcelas iguais, tudo para ajudar o clube. E o Augusto me disse ‘Agora, aqui tem palavra, eu cumpro, pode mandar o contrato’.”
Com a palavra, a CED
A Central do Timão entrou em contato com Roberson de Medeiros, presidente da Comissão de Ética e Disciplina do Corinthians, para apurar o andamento da denúncia feita por Augusto Melo contra Rozallah Santoro. Até o momento, no entanto, não houve retorno. As perguntas encaminhadas ao conselheiro foram:
O procedimento já foi oficialmente aberto pela Comissão?
O conselheiro Rozallah Santoro foi formalmente notificado?
Já foi estabelecido prazo para apresentação de defesa?
Há previsão de quando o caso será apreciado pela Comissão?
Havendo resposta, a matéria será atualizada.
Resposta de Rozallah
O ex-diretor financeiro e atual conselheiro divulgou nota em que rebate as acusações de Augusto Melo. No texto, Rozallah Santoro afirmou que o presidente falta com a verdade em sua denúncia. Também defendeu seu trabalho junto à diretoria financeira e recordou a rejeição de contas da atual gestão no Conselho Deliberativo e o indiciamento do dirigente alvinegro no caso VaideBet. Confira:
“Augusto Melo, para variar, mente.
E eu quero dizer aqui, com toda clareza: não meça os outros pela sua régua, Augusto.
Você é o presidente que foi indiciado. Você é o presidente que teve as contas reprovadas. Você é quem arrastou o Corinthians para as páginas policiais.
Por isso, repito: não meça os outros pela sua régua. Vamos aos fatos.
O contrato do Rojas foi você que assinou. Eu era Financeiro. Você e o Departamento de Futebol que criaram e assinaram esse contrato com uma cláusula muito prejudicial ao Corinthians.
E sabemos que não foi o único a que você fez sem antes avaliar se tinha capacidade financeira necessária para tal.
No dia em que vencia o pagamento do Rojas, haveria dinheiro em caixa. Mas você decidiu usar esse recurso para pagar a multa do Cuiabá, porque queria o Antônio Oliveira no banco. Essa foi a sua escolha.
E agora tenta jogar a culpa em mim — como se eu fosse responsável por uma situação causada única e exclusivamente pela sua completa falta de capacidade administrativa.
Você ainda diz que reprovei contas das quais participei. Mais uma vez, mente.
Até o momento em que estive lá, estávamos rigorosamente dentro do orçamento. Foi a sua gestão, depois da minha saída, que estourou em R$ 100 milhões a despesa operacional. É essa a verdade que você tenta esconder.
E Augusto, eu não entreguei as contas? Vamos lá, né… você NUNCA entregou documentos solicitado a pelo CORI. De novo, você!
Essa é, possivelmente, a semana mais triste da história do Corinthians. E ao invés de atacar quem fiscaliza, Augusto, você deveria pedir o boné.
Porque não sou eu quem está respondendo inquérito. É você. Com seus amigos. Também indiciados.
Não vou me calar. Não tenho rabo preso. Não tenho medo da verdade. Quem deveria ter é você.
Que o seu próximo movimento seja pedindo para sair e não acusando mais corinthianos sérios e preocupados com nosso Sport Club Corinthians Paulista, como eu.”
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