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·12 décembre 2024
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Quase todo menino brasileiro sonha em ser jogador de futebol profissional, e com Victor Sá não foi diferente. O jovem, que saiu de São José dos Campos, jogou nos grandes palcos do mundo e brilhou pelo Botafogo, agora sonha com título inédito na Rússia.
Em entrevista para oGol, o jogador contou sobre suas experiências no futebol europeu, falou sobre o polêmico 2023 do Botafogo e comentou sobre a dificuldade até se estabelecer como um atleta de alto nível.
Atualmente, Victor Sá está no Krasnodar, da Rússia, onde chegou no final de fevereiro. As primeiras partidas do ponta esquerda foram ainda na temporada 2023/24, quando o Krasnodar chegou muito perto de ganhar o título inédito, mas perdeu a liderança para o Zenit nas últimas rodadas e terminou em segundo lugar.
“No momento em que eu cheguei, nós éramos líderes, mas tivemos algumas derrotas após a pausa (de inverno). Quando volta, tem aquela dificuldade de pegar o ritmo, de voltar do jeito que estava antes. Aí a gente perdeu alguns pontos e isso foi crucial para que a gente perdesse o título. Mas, também foi a melhor colocação da equipe na história do clube, então fico feliz por ter participado. Esse ano, se Deus quiser, a história vai ser diferente, vamos conseguir quebrar a hegemonia do Zenit e ser campeão", contou.
Atualmente, o Krasnodar está empatado em postos com o Zenit no topo da tabela, e tentar quebrar uma sequência de sete títulos consecutivos do rival. Resta saber se o time de Victor Sá vai conseguir fazer diferente da temporada anterior, voltar bem da pausa e levantar a taça.
O “Russão” é um campeonato que possui duas fases claras: antes e depois da pausa de inverno. Sobre esse fator nada comum, o atleta falou sobre como funciona o planejamento das equipes.
“É realmente complicado. Alguns campeonatos até tem uma pausa de uma ou duas semanas, mas aqui é muito estranho. Parar três meses é algo muito fora da realidade. Paramos dia 10 (de dezembro) e aí você fica praticamente um mês de férias, e, quando volta, não é para a Rússia. Geralmente os times vão para Emirados Árabes ou Catar para pegar um clima mais ameno e fazer a intertemporada… Aí são mais 40 dias lá e depois volta para a Rússia. Praticamente três meses sem o campeonato", revelou.
Mesmo sem conferir o calendário, ele quase acertou!. Depois da pausa, o Krasnodar só volta a jogar no dia 2 de março.
É inevitável entrar no assunto “Guerra” com um atleta que atua na Rússia. O atacante mostrou sua preocupação com o conflito tanto antes de aceitar a proposta quanto depois da mudança de país.
“Desde o princípio, foi a primeira coisa que eu pesquisei. Apesar de ser uma situação boa, o mais importante de tudo é a segurança, minha e da minha família. Você ouve bastante notícias, de vez em quando acontece alguma coisa, mas, aqui em Krasnodar, desde quando eu estou aqui, nunca aconteceu nada. Mas lógico que eu estou atento o tempo todo, né? Esperamos que isso acabe o quanto antes, não só por nós, mas também por tudo o que causa para os civis aqui da Rússia, mas, principalmente, para o pessoal da Ucrânia. A gente já viu o quanto isso aí traz um sofrimento", disse ao comentar a situação do país.
Com a situação entre Rússia e Ucrânia ainda em andamento, o país governado por Vladimir Putin sofreu algumas punições na esfera esportiva: os russos estão banidos das competições europeias por tempo indeterminado. Victor Sá falou sobre a influência disso no campeonato e em transferência.
“Isso pesou um pouco. Quando eu estava pra vir pra cá, eu fiquei 'meio assim' exatamente por não estar disputando competições europeias. Logicamente que disputar uma competição europeia é algo muito bacana. Até porque o calendário agora fica muito curto, só tem o Campeonato Russo e a Copa da Rússia. Acho que a temporada toda são 30 ou 35 jogos no máximo. É muito tranquilo comparado ao calendário brasileiro, às vezes, você até estranha. Mas, se isso (banimento) acabar, vai ser maravilhoso para o lado profissional, com certeza o ânimo é ainda maior e com certeza atrai muito mais jogadores", opinou o ex-camisa 7 do Botafogo.
Victor sabe que a Rússia pode não ser um dos destinos mais atrativos, principalmente por fatores como frio ou idioma. Em relação à língua, o atleta contou sua experiência na chegada ao país e falou sobre a importância de poder se comunicar de forma rápida e direta.
“Eu já consigo entender, fiz algumas aulas de russo, entendo umas coisas ou outras, principalmente dentro de campo, ali é onde você precisa mais. No começo é difícil, mas, com o tempo, você já vai se acostumando com as coisas que o treinador fala, vai ficando habituado. Por mais que tenha o tradutor para a gente, acho que é muito importante você ter noção, pelo menos do básico, do que o treinador está falando."
Pelo menos Victor Sá não está sozinho nessa. No elenco do Krasnodar, tem outros três brasileiros: Diego Costa, ex-São Paulo, Tormena e Kaio Pantaleão, além de Kevin Pina (Cabo Verde) e Batxi (Angola) que também falam português.
Victor Sá atualmente defende o Krasnodar, mas se tornou um grande conhecido do torcedor brasileiro pelo seu tempo de Botafogo. O atleta se mostrou muito agradecido pelos quase dois anos que passou no Glorioso.
“Sem palavras para o Botafogo. Sou muito grato por terem me apresentado ao futebol brasileiro. Apesar de terem acontecido algumas coisas em 2023, eu fui muito feliz no Botafogo e sou muito grato. Só tenho que agradecer ao clube. À instituição e aos torcedores. No Brasil, você vivencia a paixão do torcedor, esse fanatismo, que é uma coisa que na Europa você nunca vai viver.”
Sobre o atual momento do Botafogo, campeão da Libertadores e o Campeonato Brasileiro de 2024, Victor disse torcer pelo sucesso do clube dos amigos que deixou no Brasil e vibrar com cada gol e vitória. O jogador ainda revelou ter “se dado bem” devido ao momento dos cariocas.
“Apesar do horário, sempre que posso estou assistindo. Na Libertadores, (o Botafogo) ganhou do São Paulo e do Peñarol. O Diego (Costa) aqui era do São Paulo e o Giovanni González jogava no Peñarol. Estou deitando nos caras. Já apostei e ganhei até janta por conta do Botafogo", disse.
Entrando no fatídico e polêmico ano de 2023, que terminou com o Botafogo perdendo o título do Brasileirão de forma dramática, Victor Sá ressaltou a frustração ao fim do campeonato, mas também afirmou que serviu de aprendizado para ele e para o clube.
“Certeza absoluta que se perguntar para cada jogador que estava no elenco, vão falar o quanto foi frustrante. O quanto as férias não foram a mesma coisa. Foi muito frustrante para mim porque eu queria muito. Abriria mão de tudo que eu passei e qualquer coisa, para ter sido campeão de 2023. Mas, acho que isso é aprendizado para mim, para minha carreira, e para todas as outras pessoas que passaram por isso”, explicou.
O ano de 2023 do Botafogo pode ser avaliado por diversos pontos de vista. Mas, certamente, a troca de técnicos afetou o clube. A primeira saída foi a de Luís Castro, que fez um primeiro turno histórico e deixou o clube para ser treinador na Arábia Saudita.
“Eu acho que pegou a gente meio de surpresa. A gente ouvia as notícias, lógico, só que não sabíamos qual seria a decisão dele. Se eu me recordo bem, em uma concentração, ele disse que havia uma proposta e que estava pensando e que, depois, informaria a resposta. Aí, depois, num treino, ele nos avisou (que estava de saída) e agradeceu. Não tem muito o que falar… Tem que agradecer muito o trabalho que ele fez no Botafogo e eu agradeço muito por ter trabalhado com ele. Cresci muito como jogador e como atleta, principalmente na parte tática.”
A situação do Botafogo começou a sair de controle sob o comando de Lúcio Flávio, que assumiu após demissão de Bruno Lage. O treinador foi muito criticado pela torcida devido a pouca experiência profissional e por tomar decisões questionáveis, mas Victor garante que o elenco fez de tudo para entender as ideias de Lúcio.
“Acho que praticamente o elenco todo abraçou o Lúcio Flávio da melhor forma. Tentamos entender a ideia que ele queria, mas, infelizmente, as coisas não aconteceram. Todo o elenco sempre abraçou o Lúcio Flávio e acredito que ele sabia disso, sabia que tinha total confiança de todos os jogadores ali. Infelizmente, a gente não estava sendo eficiente dentro de campo em muitos momentos… as coisas não aconteceram", disse.
O jogador não deixou de falar dos momentos difíceis vividos na reta final do campeonato e sobre a confiança, que estava baixa.
“Quando as coisas começam a acontecer da maneira que estava acontecendo, de tomar gol no final, a confiança vai se perdendo um pouco. Infelizmente a gente não teve esse poder de reação para poder virar a chave. Uma coisa foi levando a outra, um jogo foi levando outro e, no final das contas, não conseguimos superar essas dificuldades. Mas eu acho que isso é uma coisa que as pessoas passam no futebol, é normal. É saber levar de aprendizado", explicou.
O Botafogo foi de 14 pontos de vantagem sobre o segundo lugar para o quinto lugar do Brasileirão, sua posição final. Nas últimas rodadas, o clube estava sendo treinado por Tiago Nunes. Foi sob o comando dele que Victor foi negociado, mas o ponta esquerda garante que nem mesmo ser trocado de lado ou uma suposta má relação com o treinador foram os motivos de sua saída.
“Normal, sim, com certeza, eu não tinha nada contra o Tiago e ele também não tinha nada contra mim. Era totalmente tranquilo. É que as pessoas associam as coisas, mas eu não tinha nada contra o Tiago e ele não tinha nada contra mim, trabalhava normal. Eu sempre fui um cara de boa relação com todos, então não tenho nada para falar do Tiago."
O jogador contou que deixou o Botafogo pois queria voltar ao futebol europeu e a proposta do Krasnodar foi boa tanto para ele quanto para o Botafogo Por fim, para encerrar o tópico Botafogo, Victor revelou que não sente vontade alguma, pelo menos por enquanto, de retornar ao futebol brasileiro.
“Para ser sincero, hoje em dia eu não penso (em voltar). Nossa… não penso nada em voltar pro Brasil. Hoje, meu foco é totalmente aqui no Krasnodar, fui muito feliz no tempo que fiquei no Brasil, mas hoje em dia também estou bem feliz aqui na Rússia. Agora meu contrato teve uma extensão de renovação até 2026, então até lá meu pensamento é continuar por aqui", afirmou.
Victor Sá elegeu o seu período no Wolfsburg como o melhor de sua carreira. De acordo com ele, foi lá que ele se concretizou como "um grande atleta profissional em um grande liga" e evoluiu muito taticamente, além de ser muito grato ao seu treinador Oliver Glasner.
Victor também guarda na memória as brincadeiras no vestiário do Wolfsburg e rasgou elogios ao grupo.
"A gente zoava os alemães, os franceses e eles zoavam com a gente. Eu lembro que era um vestiário enorme e ficava todo mundo jogando basquete lá dentro, era muito bacana. A gente sempre brincava uns com os outros... Hoje mesmo eu estava indo para o treino e o Paulo (Otávio) me mandou um vídeo lá da Alemanha. Os caras sumiam com o carro, pegavam sua chave e estacionavam em outro lugar, era resenha demais", revelou.
Se na Alemanha foi o melhor momento da carreira de Victor, seus meses de Emirados Árabes foram considerados os piores, mesmo levando em conta a questão financeira.
“Foi o pior porque estava meio que desanimado com o futebol… muitas das vezes você vai pensando no financeiro e as coisas não são o que parecem. Era até legal fora de campo, mas, dentro, as coisas não encaixavam e não adianta. Quando é assim, o cara fica mal porque o futebol é tudo na minha vida. Ali com certeza foi o pior."
Antes de brilhar pelo Botafogo e nos gramados europeus, Victor Sá começou a jogar na sua cidade-natal São José dos Campos. O jogador revelou detalhes dos seus anos iniciais, ida para o futebol austríaco e a quase desistência do futebol.
“Era para acontecer mesmo, foi Deus! Eu já estava praticamente largando futebol… eu fui da base do Palmeiras e eles não iam me aproveitar, então comecei a ser emprestado. Joguei uma (Campeonato Paulista) A3 no São José dos Campos, e foi lá que eu joguei com o Gregore, do Botafogo. Jogamos a A3 juntos, aí fomos para a União São João, de Araras, jogar uma “Bezinha” (quarta divisão do estadual na época). Viramos muito amigos.
Depois voltei pro São José na A3, e sabe como é o calendário dessas equipes menores do futebol brasileiro, né? Assinava contrato de três ou quatro meses e esperava para ver o que ia dar. Estava sem contrato e procurando algum clube. Não sabia o que fazer, já estava quase largando, quase desistindo… aí um cara me ligou e falou ‘Estou com um teste lá na segunda divisão da Áustria, tá a fim?’ Falei: ‘com certeza, vambora’. Fui e fiquei 15 dias fazendo o teste. Aí passei e as coisas foram acontecendo…era para ser.”
O jogador ainda lembra da ligação que mudou a sua vida. Ele lembrou que um homem chamado Samarone ligou para ele após vê-lo em campo contra a Inter de Limeira em um jogo da A3.
Victor chegou ao futebol austríaco para jogar no Kapfenberger, da segunda divisão, porém ele contou as dificuldades até ganhar minutos e jogar pelo time principal.
“Quando cheguei na Áustria, para segunda divisão, o diretor gostou de mim, mas o treinador do time não gostava muito. Fiquei encostado, jogava a quarta ou quinta divisão. Eu era do segundo time do time da segunda divisão da Áustria. Foram uns quatro meses assim. Era contra uns caras bem gordinhos. Eu falava ‘Meu Deus, o que eu estou fazendo? Que loucura!’”
“Aí como um cara machucou, eles me levaram para o jogo do primeiro time. Me colocaram no jogo, entrei e fiz um gol. A partir daí, os caras começaram a me colocar de titular, comecei a fazer gol, a ir bem… As coisas aconteceram muito rápido na minha vida. Foi um salto de 800 euros por mês para as coisas começarem a acontecer. Caramba, era uma dificuldade danada. Mandava 600, ficava com 200.”
Victor ressaltou o apoio que recebeu da família e revelou que voltou a pensar em desistir quando chegou no futebol austríaco.
“Se não fosse Deus e minha família do meu lado… Em diversos momentos eu quis desistir. Lembro muito bem, até hoje, eu falando para o meu irmão que eu ia voltar, que eu não aguentava mais, que não dava pra ficar jogando 4ª divisão. Dizia que era melhor trabalhar no Brasil. E ele ‘segura que as coisas vão acontecer’. Sem eles não seria nada do que sou hoje”, disse.