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·8 janvier 2025

Precisamos falar sobre as finanças do Flamengo

Image de l'article :Precisamos falar sobre as finanças do Flamengo

Os últimos dias foram agitados no noticiário rubro-negro. Torcedores ávidos por contratações não estão nada satisfeitos com o pouco movimento no mercado do clube, em meio a notícias de que as finanças não vão tão bem neste início de ano.

Mas isso tem gerado muita confusão. O Flamengo quebrou? O velho Flamengo está de volta? Estamos sem dinheiro? É mentira do BAP para justificar a inércia na janela? Vamos tentar entender de forma mais tranquila o que exatamente está acontecendo com o Flamengo.


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No início do ano passado, escrevi que o dinheiro tinha acabado. O Flamengo estava oficialmente sem recursos para contratar o Léo Ortiz. Muitos me chamaram de louco, pessimista e exagerado. Porém, com uma simples conta de padeiro, mostrei como o valor orçado para contratações já havia sido comprometido, devido às parcelas anteriores e à compra à vista do De La Cruz.

Em março, o valor destinado para contratações já estava comprometido. Como isso aconteceu? Bom, já mencionei antes o que considero o grande problema do Flamengo: inflacionar seus gastos com jogadores "ok".

Não haveria problema em não ter mais dinheiro para contratar se o time tivesse uma média de idade baixa, fosse regular e nos trouxesse títulos. Afinal, o que importa são os títulos, não as contratações. Mas essa não foi a estratégia adotada pelo clube.

Desde o início, a gestão Landim apostou em nomes valorizados — e eu diria, alguns até supervalorizados — no mercado. Parecia não haver limites para o Flamengo, com seu faturamento bilionário. E, se não há limites, por que precisamos pensar bem antes de contratar? Quem é o jogador da vez no Brasil? Pablo, do Athletico-PR? Então, tragam ele!

O problema é que isso só é "sustentável" enquanto essas "apostas" dão certo. Em 2019, o Flamengo tinha um bom time, com astros caros para decidir os jogos. Mas, com o tempo, o clube foi pagando caro por jogadores que, sozinhos, não decidem jogos nem fazem a diferença.

Façam um esforço para abstrair o que vocês acham do futebol de quem vou citar. Cebolinha, Luiz Araújo, Allan, Viña e De La Cruz custaram ao Flamengo mais de 120 milhões de reais no ano passado. Isso inclui o valor das parcelas de jogadores contratados anteriormente.

Não cito esses jogadores por gostar ou não deles. Cito porque foram os que pagamos no ano passado. E eu lhes pergunto: quantos desses são um Arrascaeta? Um Gabigol? Um Pedro? Quantos desses são realmente diferentes? Eles podem ter boas qualidades, podem ser úteis. Mas justificam um comprometimento tão grande das finanças?

Eles custaram tudo isso principalmente por serem jogadores com nome, que geravam expectativa e buzz. Mas até aí, isso era um problema pontual. Talvez pudéssemos voltar ao mercado com mais apetite este ano. Mas aí chegou a parte mais importante: o ano eleitoral.

Para entender o que aconteceu, precisamos passar rapidamente por algumas informações contábeis. Todo ano, os clubes devem divulgar, no começo, uma previsão do quanto será gasto e arrecadado naquele ano. Existem despesas certas, como salários e obrigações já contraídas, e outras incertas, como, por exemplo, a contratação de novos jogadores. Se você queria um ponta-esquerda e, do nada, um novo Neymar aparece no seu time, você não precisa gastar.

Também existem receitas fixas, ou pelo menos muito seguras, como as receitas de MatchDay ou uma venda parcelada feita há tempos para um time europeu. Por outro lado, há as receitas orçadas, mas não garantidas, como a de novas vendas de jogadores.

Administrações irresponsáveis projetam o valor esperado a ser arrecadado com a venda de jogadores lá em cima, para dizer que vão fechar "no azul". Muitas vezes essas vendas não acontecem, e o resultado disso é o aumento da dívida.

Por isso, o ideal é gastar o "certo" com o "certo" e o "incerto" com o "incerto". Também é importante deixar um "colchão" de segurança no final do ano para pagar as obrigações do primeiro semestre, já que a maior parte do dinheiro entra no segundo semestre.

O que aconteceu para o Flamengo estar em um momento de aperto no fluxo de caixa? Landim ficou apavorado com a ideia de não se reeleger. A partir disso, foi ao mercado desesperadamente para contratar um jogador de peso. Alcaraz (não vou comentar a qualidade do atleta) levou embora o "colchão" que o clube poderia ter para o início deste ano.

Notícias dizem que o jogador custou 20 milhões de euros, parcelados em 4 ou 5 parcelas semestrais de 5 ou 4 milhões de euros. Ou seja, o clube teve que gastar mais do que estava orçado para contratações, usando a reserva que seria para o primeiro semestre deste ano. E, para completar, não vendemos jogadores. Lembra daquele valor incerto? Pois o Flamengo não conseguiu. Então, o Flamengo não recebeu a receita da venda de jogadores (o valor incerto), mas gastou o que era incerto (compra de jogador) e até mais do que se esperava no início.

Além disso, o Flamengo criou uma nova dívida de 4 ou 5 milhões para pagar neste primeiro semestre (segunda parcela de Alcaraz). E isso sem contar o terreno.

Se já tínhamos parcelas a pagar neste ano, Landim tirou o dinheiro para pagá-las e, ao mesmo tempo, criou uma nova parcela. É como o cara que é demitido e, com o valor do FGTS, dá entrada em um carro novo, sem ter como pagar as parcelas até arrumar outro emprego.

Por fim, vi no Twitter alguém dizendo que José Boto afirmou que "o valor previsto para contratações é suficiente para reforçar o time". E ele tem razão. Mas lembra quando falei do valor certo e do valor incerto? O dinheiro para contratações virá, na maior parte, de receitas "incertas" que ainda vão entrar.

E agora? Estamos ferrados? O Flamengo voltou a não cumprir com seus compromissos?

Não necessariamente. O clube tem alguns caminhos a seguir:

Contratar jogadores sem ter certeza do caixa: Se não houver uma grande venda e o dinheiro acabar, o clube atrasará compromissos ou fará empréstimos. No primeiro caso, a confiança do mercado será abalada. No segundo, a dívida aumentará. Ter mais cautela no mercado: Ao invés de contratar agora, o Flamengo pode esperar uma oportunidade de mercado ou um momento mais favorável, com mais dinheiro em caixa. Essa parece ser a melhor alternativa, mas vai gerar inquietação na torcida, viciada em novelas de jogadores caros, com viagens, entrevistas e valores altos. Baixar a bola este ano: Ganhar fôlego para voltar a investir mais pesado no próximo ano, quando algumas contas já tiverem sido pagas. Isso pode gerar um time mais enfraquecido e com mais dificuldades.

Por fim, não temos problemas financeiros graves. Poderíamos liquidar todas as nossas obrigações com um ano de exercício, se fosse necessário. No entanto, há um desequilíbrio momentâneo que precisa ser entendido e corrigido.

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