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·23 juin 2024

Marcos Teixeira: O altruísmo, a sorte e o domínio absoluto

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Já está! O primeiro dos objetivos de Portugal no Euro foi atingido já na segunda jornada do Grupo F, com a vitória por um insuspeito 3 a 0 contra uma tão perigosa quanto inocente Turquia.


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Se a passividade vista na estreia ligava as luzes de alerta, a concentração para não cair na esparrela das respostas fáceis notou-se quando o onze de Portugal foi anunciado. Por muito menos, revoluções já foram promovidas depois de uma partida mal conseguida, mas a atuação cinzenta em Leipzig esteve mais ligada à abordagem ao jogo do que problemas técnicos ou exibicionais. Por nomes, Roberto Martinez trocou somente Diogo Dalot por João Palhinha, que era o que o jogo com os turcos, ricos de talento no setor de criação, exigia.

Assim, o trio de centrais que se esfumaçou às condições com o tchecos não retornou sequer em eventuais descidas de Palhinha ou encaixes de Nuno Mendes. Pelo contrário, uma clara e sólida linha de quatro defensores foi formada com João Cancelo e Nuno Mendes nas laterais e os habituais Pepe e Rubén Dias ao centro.

À frente, eram protegidos pelo médio-centro-limpa-trilhos que deve deixar o Fulham, e pelo multifuncional Vitinha, novamente soberbo em campo. Livre das amarras da cabeça-de-área; o ataque se manteve com o trio da estreia: Bernardo Silva, Cristiano Ronaldo e Rafael Leão.

Diversos comentadores pediam Palhinha, mas queriam que Bernardo e Leão dessem lugar a Chico Conceição e Diogo Jota, como se as condições da primeira partida se repetissem. Não existem jogos iguais e as características do jogo da Turquia indicava dificuldades – e oportunidades – diferentes. Se os tchecos eram praticamente herméticos e mal se aventurvam no ataque, os turcos podiam até ter jogadores de qualidade inquestionável, mas nunca foi um time confiávle defensivamente – já o mostrara na estreia

Do lado turco, o italiano Vincenzo Montella poupou o ótimo Arda Guler, apoquentado por problemas físicos, mas ainda assim havia quem espalhasse perfume no Signal Iduna Park, casa do Borussia Dortmund e da temida Muralha Amarela, tingida de vermelho e branco numa proporção 4 x 1 em que as vozes portuguesas mal eram ouvidas.

Com Kökçü, Çalhanoglu e Aktürkoglu capazes de causar problemas, a presença de Palhinha foi essencial para impedir que a bola chegasse aos pés de Yilmaz, bem vigiado pelos centrais. Pepe, a cada lance, dava uma aula de vitalidade, posicionamento e liderança em campo. O lance, já no segundo tempo, em que desarma um abusado Arda Guler, como a dizer “tens muito o que aprender, miúdo, fez levantar o estádio em reverência à lenda brasileira que chegou a Portugal e teve que optar entre comprar uma sandes ou ligar para a mãe.

Na frente, Rafael Leão se aproveitava da companhia de Nuno Mendes para causar dores de cabeça a Çelik. O primeiro gol português nasce de uma jogada deles, em que o lateral do PSG foi ao fundo e procurou Cristiano Ronaldo, mas o desvio no pé de Kökçü levou a bola a Bernardo Silva, que bateu com gosto, com curva, com a alegria de quem marcou seu primeiro gol em fases finais de competições.

Lembram-se da sorte da estreia? João Cancelo roubou a bola no meio e deu um passe completamente disparatado para Cristiano, que desatou a ralhar. A câmera fechou no lateral e só abriu depois de que o sorriso repentino do português denunciou a trapalhada de Akaydin, que desrespeitou um dos princípios básicos do jogo: não se deve atrasar a bola ao goleiro na direção do gol. Mais que isso, recuou no contrapé, e um eventual mal-estar acabou na comemoração do insólito gol que basicamente definiu o jogo ainda antes dos 30 minutos.

A partir daí, Portugal empilhou chances de ampliar, mas viu Rafael Leão simular uma falta e receber o segundo cartão amarelo na prova, e pelo mesmo motivo. Palhinha, um dos responsáveis pela exibição em grande de toda a equipe, também foi advertido e, para não correr o risco de recolocar a Turquia no jogo, Roberto Martinez deixou ambos no balneário e voltou para a segunda parte com Pedro Neto e Rúben Neves. Havia quem esperasse Diogo Jota ou mesmo Francisco Conceição, mas o treinador quis manter o sistema com um jogador que abrisse o jogo e desse espaço para o jogo interior de Nuno Mendes, que pode ter feito sua melhor partida pela equipa nacional.

Com os turcos entregues, exceto por um ou outro fogachinho no ataque, Portugal usou o segundo tempo para gerir a partida. Logo no décimo minuto, um lance que pode marcar uma nova era: antes, a paciente troca de passes de um lado para outro do campo com o objetivo de criar espaços e desorganizações defensivas, com Nuno Mendes a buscar Bernardo Silva e este a acionar Rúben Neves, o homem dos passes teleguiados, que encontrou Cristiano Ronaldo livre, somente com o goleiro Bayindir para tentar evitar que escrevesse seu nome pela sexta vez na lista de goleadores em que já é o líder com folga, mas Bruno Fernandes estava livre ao seu lado para receber o passe do solidário CR7.

A partir daí, a missão portuguesa passou a ser fazer de Cristiano um dos goleadores do dia, ao passo que aos turcos coube tentar evitar. Assim, o jogo perdeu algum fulgor, mas serviu para demonstrar que Pepe, aos 41 anos, é um dos melhores zagueiros do mundo e que o Porto cometerá um erro terrível se não prolongar por mais um ano o vínculo com este monumento de jogador.

Com seis pontos e a liderança do Grupo F garantida, Roberto Martinez deverá usar o jogo com a Geórgia para dar minutos a quem não teve e descansar algumas pernas. É mister, porém, notar que entre o jogo de ontem e as oitavas, vão nove dias, tempo suficiente para perder ritmo de jogo. Uma revolução no onze é perigosa, pois.

*O adversário das oitavas, será um dos terceiros colocados dos grupos A, B ou C.

** Marcos Teixeira, 45, é jornalista, lusitano e colunista do site Ludopédio.org

*** Este texto não reflete, necessariamente, a opinião do NETLUSA

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