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·25 juin 2025

Futebol e violência doméstica: picos de agressão crescem nos dias de jogo, aponta levantamento

Image de l'article :Futebol e violência doméstica: picos de agressão crescem nos dias de jogo, aponta levantamento

Enquanto o Campeonato Brasileiro movimenta torcidas por todo o país, uma estatística silenciosa chama atenção: em dias de jogos locais, os casos de violência doméstica contra mulheres aumentam de forma significativa. Dados do Fórum Brasileiro de Segurança Pública mostram que, nessas datas, as ameaças sobem em média 23,7% e os casos de lesão corporal aumentam 20,8%, chegando a 25,9% quando a partida ocorre na mesma cidade do agressor.

“O futebol não é a causa, mas cria um ambiente permissivo que pode potencializar comportamentos violentos já existentes, especialmente com o uso de álcool e a tensão emocional dos jogos”, afirmou o advogado criminalista Davi Gebara, especialista em violência contra a mulher. “Se clubes conseguem se preparar para jogos com histórico de conflito entre torcidas, deveriam também se responsabilizar pelos riscos que recaem sobre as mulheres nos lares”, pontuou.


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A pesquisa, realizada em parceria com o Instituto Avon, analisou mais de 13 mil boletins de ocorrência registrados entre 2019 e 2022 em nove estados, incluindo São Paulo, Minas Gerais e Bahia. Em sete de cada dez casos, o agressor era o companheiro ou ex-companheiro da vítima. Os pesquisadores identificaram um padrão estatístico consistente: quando o futebol toma conta da agenda pública, o ambiente doméstico se torna mais hostil e arriscado para milhares de mulheres.

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Além do Brasil, estudos internacionais reforçam esse fenômeno. No Reino Unido, dados da Warwick Business School mostram que os episódios de violência doméstica aumentam 26% nos dias em que a seleção inglesa joga e 38% quando perde. Mais surpreendente, após vitórias da equipe, os casos reportados também crescem. Em alguns torneios, o aumento chegou a 49%. Isso reforça que o problema não se limita à frustração com resultados negativos, mas envolve também o contexto emocional extremo e o consumo de álcool.

Diante dessas estatísticas, campanhas de conscientização começaram a surgir no Reino Unido para tentar alertar a população. Uma das mais marcantes foi criada pela ONG britânica Pathway Project, com o slogan “Show violence the red card” (“Mostre o cartão vermelho à violência”). A imagem, que mostra uma mulher segurando um cartão vermelho, afirma: “Ninguém quer que a Inglaterra vença mais do que as mulheres”, destacando que os casos de violência doméstica aumentam 38% quando a seleção perde. A ação ganhou repercussão durante a Eurocopa e evidencia o esforço de organizações civis para preencher o vácuo deixado por instituições oficiais.

“Ao ignorar esse padrão, clubes e federações perdem a oportunidade de usar o esporte como instrumento de proteção e conscientização”, observou Gebara. Para ele, falta uma política institucional clara por parte dos grandes torneios. “Nenhuma campanha estruturada foi incorporada, por exemplo, ao calendário atual do Campeonato Brasileiro, à Eurocopa ou à Copa América, que também estão em andamento. A omissão é coletiva e recorrente”, criticou.

Mesmo diante de evidências tão robustas, poucas entidades esportivas realizam auditorias internas ou ações preventivas coordenadas sobre o impacto social de seus calendários. O debate sobre segurança nos estádios é recorrente, mas quando se trata da segurança dentro de casa, o silêncio institucional predomina. “A violência contra a mulher não pode continuar sendo invisível no calendário do futebol”, concluiu Davi Gebara.

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