
Calciopédia
·1 juillet 2025
Em 2015, a Juventus se impôs sobre o Real Madrid e voltou a uma final europeia após 12 anos

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·1 juillet 2025
Trajetórias improváveis são parte da graça do futebol. E aqui falamos de bolas que pegam efeito depois de chutes desferidos por atletas com muita habilidade nos pés, mas também de caminhos imprevisíveis protagonizados pelos profissionais do esporte e os times que representam. Em 2014-15, por exemplo, poucos imaginavam que o desacreditado Massimiliano Allegri seria capaz de substituir Antonio Conte à altura na Juventus. Muito menos que ele teria condições de aumentar o nível da equipe e levá-la à final da Champions League. Aconteceu: Max fez a Velha Senhora chegar a uma decisão europeia após uma ausência de 12 anos ao comandar um elenco raçudo, que deixou para trás o Real Madrid de Carlo Ancelotti e Cristiano Ronaldo, que defendia o seu título continental naquela temporada.
Allegri chegou à semifinal da Champions League com uma vitória pessoal já consolidada. Conte decidiu se demitir em meados da pré-temporada da Juventus – e aceitar a proposta da seleção italiana – porque estava insatisfeito com a capacidade de investimento da equipe. Para ele, não seria possível “ir a um restaurante com pratos de 100 euros com uma nota de 10 na carteira”. Ele queria dizer que, com o time que tinha em mãos, não seria possível competir por títulos internacionais. Seu substituto provou que ele estava errado e o superou mesmo sem ter recebido reforços de peso.
Quando chegou a Turim, Max estava longe de ser uma unanimidade. Ou melhor, estava perto de ser considerado uma péssima escolha por quase toda a torcida e pela mídia especializada. Allegri conquistou um scudetto pelo Milan, mas teve um trabalho bastante ruim em seus 18 últimos meses à frente dos rossoneri, com escolhas confusas e perda de confiança do elenco, mas afastou as desconfianças rapidamente.
O treinador deixou de utilizar o 3-5-2 como esquema tático padrão da equipe e começou a usar o 4-3-1-2 como base, aproveitando o melhor setor da Juventus – o meio-campo. Porém, sempre adaptava seu time aos adversários e circunstâncias de cada momento do jogo. Além dos objetivos em solo nacional, traçou como meta ficar entre os quatro melhores da Europa. Uma vitória, superando Conte, que acumulou sucessivos fracassos em nível continental. Ademais, a Velha Senhora chegou ao confronto de semifinais da Champions League como finalista da Coppa Italia e já com o tetracampeonato da Serie A matematicamente assegurado. Mais tarde, estabeleceria uma vantagem de 17 pontos sobre a Roma no campeonato e levaria os bianconeri ao décimo título do mata-mata local. Assim, quebraria um jejum de duas décadas sem aquela taça e sem uma dobradinha piemontesa.
Na Champions League, a Juventus ficou na segunda posição do traiçoeiro Grupo A, com os mesmos 10 pontos do Atlético de Madrid. Em empate de compadres na última rodada serviu para eliminar o surpreendente Olympiacos, que fez 9 – o Malmö foi o lanterna. Nas oitavas de final, a Vecchia Signora passou pelo Borussia Dortmund por um placar agregado de 5 a 1 e, nas quartas, lhe bastou um magro 1 a 0 sobre o Monaco.
Em menos de 10 minutos, Morata acionou a lei do ex e colocou a Juventus em vantagem sobre o Real Madrid (AFP/Getty)
O Real Madrid, por sua vez, viu o italiano Ancelotti, em sua primeira temporada de trabalho, levá-lo ao fim de um jejum de 12 anos sem títulos europeus. Naquela campanha, os merengues vinham das conquistas da Supercopa Uefa e do Mundial de Clubes, ao passo que disputavam La Liga ponto a ponto com o Barcelona. Na Champions League, teve 100% de aproveitamento no Grupo B, que tinha o também classificado Basel, Liverpool e Ludogorets. Nas oitavas, fez 5 a 4 no agregado sobre o Schalke 04 e 1 a 0 no clássico espanhol com o Atlético de Madrid.
A ida das semifinais estava marcada para Turim e, naquela partida, cada um dos times teria um importante desfalque no meio-campo: de um lado, Paul Pogba; do outro, Luka Modric. Em casa, a Juventus partiu para cima, acumulando quatro arremates no alvo antes do décimo minuto de jogo. Aos 9, os bianconeri abriram o placar numa jogada que contou com a visão privilegiada de Claudio Marchisio. O Principino achou Carlos Tevez livre na entrada da área e o camisa 10 bateu forte e cruzado, exigindo excelente intervenção de Iker Casillas. Atento ao rebote e deixado sozinho pela defesa madridista, Álvaro Morata mandou para as redes e acionou a lei do ex.
O Real Madrid tentou reagir aos 12 minutos, quando Toni Kroos arriscou de fora da área e Buffon defendeu sem grandes problemas. O empate dos blancos sairia aos 27, através de uma jogada pela ponta direita. Dani Carvajal levantou na medida para James Rodríguez, que serviu Cristiano Ronaldo com precisão. Buffon saiu mal e o português completou de cabeça para o gol vazio.
Com o placar igualado, o Real Madrid tentou se impor, principalmente com a marcação de Gareth Bale sobre Andrea Pirlo – uma forma de fazer a Juventus ter menos a bola. Sergio Ramos, atuando como volante, também dificultava a vida dos mandantes. Porém, os merengues não conseguiram estabelecer o ritmo que os bianconeri imprimiram e só levaram perigo aos 40 minutos, depois que Marchisio teve uma boa oportunidade com arremate de média distância.
No segundo tempo, depois de sofrer e converter pênalti, Tevez devolveu a vantagem à equipe italiana (AFP/Getty)
Na chance madridista, Isco cruzou para James completar de peixinho de dentro da pequena área e carimbar o travessão. Num primeiro momento, pareceu gol perdido. Só que a imagem aproximada mostrou que, com o biquinho da chuteira, Stefano Sturaro efetuou um desvio providencial na trajetória da bola, fazendo com que ela tomasse o caminho da barra.
No início do segundo tempo, veio o momento de desafogo para a Juventus. Marcelo teve seu chute bloqueado no campo de ataque e Tevez partiu num incrível contragolpe – atrás dele, o brasileiro se enroscou com Morata e ambos caíram no gramado. Já dentro da área, Carlitos foi calçado por Carvajal e sofreu pênalti – que ele mesmo cobraria, ao invés de Arturo Vidal. Optando pela bola de segurança, o argentino bateu no meio, deslocou Casillas e correu para o abraço.
Depois de recuperar a vantagem, a Juventus colocou ainda mais raça em campo e teve uma atuação defensiva fenomenal, já contando com o trio BBC em campo – aos 64 minutos, Allegri sacou Sturaro e colocou Andrea Barzagli, passando aos 3-5-2. Ancelotti optou por Javier Hernández, o Chicharito, no lugar de Isco, mas o mexicano não teve chance contra o já citado zagueiro e Leonardo Bonucci e Giorgio Chiellini, seus colegas de retaguarda.
Chiello, aliás, teve uma das mais memoráveis atuações de sua carreira naquela noite. Com a cabeça enfaixada após um corte na testa devido a um choque com um adversário, parou um contragolpe puxado por Ronaldo com um carrinho a seu estilo: ríspido e eficiente. A partida já estava nos acréscimos e o beque não queria correr o risco de deixar o gramado do Juventus Stadium com um amargo gosto de empate na boca. Antes disso, Fernando Llorente tivera as melhores chances da etapa complementar, mas desperdiçou as duas. A primeira, ao perder velocidade e ficar sem ângulo ao driblar Casillas; a outra, ao falhar no cabeceio, sua especialidade, de dentro da pequena área.
No Bernabéu, Morata voltou a mostrar sua estrela (AFP/Getty)
As ocasiões perdidas por Llorente preocupavam a Juventus, que só conseguiu uma vantagem mínima no confronto – afinal, devido à regra do gol qualificado, o Real Madrid precisava apenas de 1 a 0 no Santiago Bernabéu para se classificar. Na Espanha, Allegri contou com o retorno de Pogba, ainda sem ritmo, e propôs uma escalação no 4-3-1-2, com o francês acompanhado de Pirlo e Marchisio numa primeira linha de meias e Vidal mais adiantado.
Como era de se esperar, Ancelotti escalou um Real Madrid mais ofensivo, com Ronaldo, Bale e Karim Benzema, que voltava de lesão, no ataque. Antes dos 25 minutos, os três criaram chances – a melhor delas, do galês, num chute de média distância, que foi defendido por Gianluigi Buffon. Aos 23, porém, abriu o placar. Dentro da área, James forçou o contato com Chiellini, dobrou os joelhos e viu o árbitro Jonas Eriksson marcar o pênalti. Ronaldo bateu e fez.
Os madrilenhos foram superiores no primeiro tempo, e a Juventus pouco chutou a gol, apesar de ter vantagem na posse de bola. Tevez, apagado, não foi acionado muitas vezes. Parte disso se deveu à falta de ritmo de Pogba e ao fato de Pirlo ter errado muitos passes e não ter apresentado uma atuação no seu nível habitual.
No segundo tempo, a Juventus voltou com mais ímpeto – afinal, estava sendo eliminada. A equipe italiana passou a chutar mais no gol, e quase marcou com Marchisio, que soltou uma bomba aos 51 minutos. Marcelo respondeu na sequência, após erro de Pogba. O francês, então, se redimiu: aproveitando equívoco de Sergio Ramos na formação da linha de impedimento, fez a torre depois de uma sobra na área e ajeitou para quem chegava de trás. Morata, esquecido por Kroos, matou no peito e bateu bem, empatando o jogo. O atacante acionou a lei do ex novamente e se igualou a Ronaldo na artilharia do confronto, mas não comemorou contra seu antigo clube.
Coroando um trabalho que começou desacreditado, Allegri ofuscou Ancelotti, que ganhara a Champions League anterior (AFP/Getty)
Precisando de um gol para levar o duelo à prorrogação e de dois para avançar, o Real Madrid partiu para cima. Bale perdeu duas ótimas oportunidades – uma de cabeça e outra completando cruzamento com o pé canhoto. James bateu por cima da baliza em outra ocasião e Chicharito incendiou o jogo após a saída de um cansado Benzema. Só quem não apareceu foi Cristiano Ronaldo, apagado.
A Juventus aguentou a pressão e só passou a um 3-5-2 mais cauteloso aos 79 minutos, quando Barzagli substituiu Pirlo, na primeira mudança bianconera na partida. Aliás, foi a própria Velha Senhora que teve as melhores chances da etapa complementar, quando poderia ter definido o confronto com o Real Madrid em conclusões de Marchisio e Pogba. Entretanto, não foi necessário: o empate em 1 a 1 foi assegurado. Allegri levou a melhor sobre Ancelotti e, com 3 a 2 no placar agregado, os italianos superaram os espanhóis.
Com a classificação, a Juventus ampliava sua vantagem sobre o Real Madrid em eliminatórias – aliás, os números estavam a favor da equipe bianconera, embora esta não fosse favorita. Nas cinco vezes anteriores que a Velha Senhora tinha enfrentado os blancos em mata-matas europeus, só não levara a melhor na final de 1998. Após somar uma vitória por 2 a 1 numa partida de ida, a formação de Turim jamais tinha sido eliminada, ao mesmo tempo em que os madridistas nunca haviam avançado após derrota no primeiro jogo.
No fim das contas, o Real Madrid somou sua oitava queda consecutiva para um time italiano em mata-matas da Uefa – excluindo, evidentemente, a final contra a Juventus. Além das quatro eliminações já citadas ante a Vecchia Signora, foram duas contra o Milan e uma contra Roma e Torino. Àquela altura, desde 1987, contra o Napoli, os blancos não passavam por um rival da Bota. A escrita seria quebrada na temporada seguinte, com um agregado de 4 a 0 sobre a Roma, nas oitavas da Champions League.
Nunca a tão sonhada final de Champions League entre o Barcelona de Lionel Messi e o Real Madrid de Cristiano Ronaldo esteve tão perto. Através da raça personificada por Chiellini, a Juventus, contudo, mandou uma clara mensagem: não passarão. Na inédita decisão entre o Barça e a Juve, os italianos brigariam pelo tri e pela tríplice coroa, mas aí foi a vez de o trio MSN, formado pelo já citado argentino e por Neymar e Luis Suárez, negar a glória aos bianconeri.
Juventus: Buffon; Lichtsteiner, Bonucci, Chiellini, Evra; Sturaro (Barzagli), Pirlo, Vidal, Marchisio; Tevez (Pereyra), Morata (Llorente). Técnico: Massimiliano Allegri. Real Madrid: Casillas; Carvajal, Pepe, Varane, Marcelo; Rodríguez, Sergio Ramos, Kroos, Isco (Chicharito); Bale (Jesé), Cristiano Ronaldo. Técnico: Carlo Ancelotti. Gols: Morata (8′) e Tevez (57′); Cristiano Ronaldo (27′) Árbitro: Martin Atkinson (Inglaterra) Local e data: Juventus Stadium, Turim (Itália), em 5 de maio de 2015
Real Madrid: Casillas; Carvajal, Varane, Sergio Ramos, Marcelo; Rodríguez, Kroos, Isco; Bale, Cristiano Ronaldo, Benzema (Chicharito). Técnico: Carlo Ancelotti. Juventus: Buffon; Lichtsteiner, Bonucci, Chiellini, Evra; Pogba (Pereyra), Pirlo (Barzagli), Marchisio; Vidal; Tevez, Morata (Llorente). Técnico: Massimiliano Allegri. Gols: Cristiano Ronaldo (23′); Morata (57′) Árbitro: Jonas Eriksson (Suécia) Local e data: estádio Santiago Bernabéu, Madri (Espanha), em 13 de maio de 2015