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·25 juillet 2025
As histórias de Robertinho: início no Flu, 'lua de mel' com Telê e ida 'secreta' ao Fla

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História é o que não falta quando a resenha é com Robertinho Cria do Fluminense campeão brasileiro com o Flamengo e também pelo Sport o ponta, que chegou à seleção brasileira, hoje é técnico e tem uma trajetória consolidada no futebol africano. Perto de um novo desafio no futebol árabe, Robertinho conversou com a reportagem de oGol para falar de passado, presente e futuro.
Criado na Zona Sul do Rio de Janeiro, Robertinho começou a jogar futebol, criança, em um time em Botafogo chamado Eldorado, do qual seu pai era presidente. Quando foi disputar um amistoso contra o Flamengo, e se destacou, teve a chance de jogar na Gávea. Mas o pai tricolor de Robertinho interveio para mudar o destino do filho.
"Meu pai falou: 'legal, mas antes de decidir, prefiro que você vá fazer o teste no Fluminense'. Porque a família era quase toda tricolor. Meu pai não deixou eu assinar logo (com o Flamengo). Eu queria para garantir logo, mas ele não deixou", recordou.
O pai de Robertinho o levou, então, para o Fluminense para participar de um treinamento de futsal. O então menino entrou no lugar do filho do técnico, fez quatro gols e, para a alegria do pai, recebeu o convite para jogar no Flu.
Ainda no futsal, chamado na época de futebol de salão, Robertinho faz questão de apontar para a chuteira de ouro que ganhou quando menino, quando, segundo ele, marcou 63 gols no campeonato carioca da categoria. "Eu bati um recorde sul-americano e me deram essa chuteira", recorda.
Na base do Fluminense, chegou ao campo e venceu um Campeonato Carioca em cima do Pavunense. Na época, recebeu o convite para ir para o Santos, jogar uma categoria acima, mas o pai mais uma vez falou para ele ficar nas Laranjeiras.
Ficou, estreou no profissional em 1978 e até hoje guarda na memória o primeiro gol, em confronto contra o Santos, no Maracanã, pelo Campeonato Brasileiro.
"Na hora que o Zezé pegou a bola na ponta esquerda, eu senti que o Doval não ia chegar. O Zezé foi no fundo, cruzou, o Doval esboçou uma reação, mas parou. E aí eu fui, encontrei a bola e 'pum'".
Convocado para as seleções de base, Robertinho foi campeão do torneio de Toulon na França, em 1980, primeiro título da CBF, que substituía a antiga Confederação Brasileira dos Desportos como entidade máxima do futebol brasileiro.
Chegou, também, na seleção principal, e brinca que sua "lua de mel" foi com Telê Santana. Na época no Fluminense, o atacante ia casar no dia da apresentação, ligou para o técnico e pediu para se apresentar um dia depois. Foi atendido, e se juntou ao grupo de Telê.
"Naquela época, o Jô Soares falava: 'bota ponta, Telê'. Ele botava o Paulo Isidoro e fechava o meio-campo. E ele queria que colocasse o Robertinho", brincou o ex-jogador, que ressaltou a importância de Telê em sua carreira.
"O Telê foi um dos responsáveis por mudar minha posição. Eu jogava com a 9, era rápido, gostava de fazer musculação. Contato, comigo, era bom, e fazia gol por causa disso. E o Telê, chegou para mim um dia, no campo do America, porque a seleção treinava ali às vezes por causa do Dr. Giulite Coutinho, e falou: 'Roberto, você deve jogar com a número 7. Vai ter um futuro brilhante, porque você é rápido, forte, ninguém te interrompe, e gosta de fazer gol. Se você fizer isso, vai ser ótimo para você'. Então ele foi um dos responsáveis por eu ter feito a carreira como 7", confessou.
Foi justamente no período que foi convocado por Telê que Robertinho recebeu o convite para jogar no rival, o Flamengo. Tudo começou em uma conversa no quarto da concentração com Zico, ídolo rubro-negro.
"A minha ida ao Flamengo deve-se muito ao Zico, que queria um jogador com as características que eu tinha, e o próprio Júnior. Um dia estava na concentração com o Zico, e ele ligou para o George Helal e me passou. Ali começou a criar alguma coisa", contou.
A ida para a Gávea foi sacramentada em reuniões no Leblon, a primeira delas secreta, para ninguém da imprensa saber das tratativas. Robertinho lembra até hoje como "driblou" os repórteres.
"Marcamos uma reunião com meu pai, no Leblon, e foi tudo meio secreto. Meu pai não teve nem chance dessa vez de colocar o pé no freio (já que vetou a ida para o Fla na base). Paramos o carro escondido, para ninguém ver. A gente sabia que tinha um repórter dentro de um carro esperando na entrada do condomínio, mas eu dei a volta e estacionei lá por trás. Conversamos ali, e depois tivemos outra reunião, que foi para fechar o negócio. Aí o presidente do Fluminense, que era o Doutor Sylvio Kelly dos Santos, quem eu respeitava muito e que me conhecia desde pequeno, perguntou se eu queria ir. Eu falei: 'Presidente, por favor, me deixa ir, minha esposa tá grávida do segundo filho, é a minha chance de ganhar dinheiro, já que vocês estão passando um momento difícil'. Então ele me deixou ir", completou.
Robertinho brinca que depois do acerto com o Fla, o lendário presidente do Bangu Castor de Andrade, ainda o tentou levar para Moça Bonita. "Quando ele soube no outro dia, queria me comprar de tudo quanto era jeito. Eu falei: 'Doutor, eu já assinei, não tem jeito, já vão pagar tudo'. Ele falou: 'Eu pago também'. Mas já estava tudo certo".
No Flamengo, Robertinho participou da campanha do título brasileiro de 1983. "O time do Flamengo era uma seleção, era um time difícil de parar". O título veio em cima do Santos no Maracanã, com assistência de Robertinho para o gol do título de Adílio O ex-jogador rubro-negro nunca vai esquecer aquele dia.
"Eu recordo que a torcida do Santos chegou em Copacabana, e só tinha santista, vieram em caravana. E a torcida do Flamengo, nem precisa falar. Se não me engano, teve quase 200 mil pessoas (no Maracanã). E depois do jogo, para sair do Maracanã... O Leblon parou. Nós fomos para a discoteca todo mundo, jogadores, dirigentes, torcedores...", lembrou.
Robertinho conta que teve uma breve passagem pela Udinese, em um torneio amistoso, na sequência, após o retorno de Zico ao Rio. De volta ao Brasil, defendeu Palmeiras e Botafogo, sendo campeão de um torneio internacional pelo Alvinegro contra o Paris-Saint-Germain, vitória por 3 a 1 em Genebra, na Suíça.
Em 1987, Robertinho desembarcou no Recife junto com alguns outros jogadores famosos, entre eles o goleiro Emerson Leão. O Sport montou um time forte, que fez da Ilha do Retiro sua grande força na campanha do título brasileiro de 1987.
Foram nove jogos na Ilha, com sete vitórias e dois empates. Ficou faltando o último, da decisão, contra o Flamengo, que não viajou para Recife e se intitulou o campeão nacional daquele ano. O Brasileirão de 1987 teve dois módulos: verde e amarelo. Os campeões de cada um, por regulamento, se encontrariam na decisão do campeonato, o que não ocorreu.
"Seguindo o regulamento: todos assinaram o mesmo termo, que é obrigando ter o cruzamento. Se já estava assinado, como que no dia do jogo, não queriam jogar? Se o termo foi assinado, era para estar lá. Foi isso que aconteceu: Flamengo e Sport assinaram, e estavam de acordo que haveria o cruzamento que seria a final do Campeonato Brasileiro. O erro não foi do Sport. Nós fomos lá, na hora marcada, fizemos aquecimento, o juiz estava lá, da Fifa. Nós ganhamos, eles que não quiseram jogar. E todo mundo sabia que o Sport, lá dentro, era imbatível", comentou Robertinho.
Na reta final da carreira como jogador, Robertinho se arrepende, apenas, de não ter aceitado uma proposta do Sevilla, ou de voltar para a Itália. O atacante encerrou a carreira no Nacional, de Portugal, e anos mais tarde iniciou a trajetória como treinador. Mas isso é conversa para a segunda parte desta entrevista...