A Lazio foi eliminada da Liga Europa pelo Bodø/Glimt num jogo com roteiro maluco | OneFootball

A Lazio, melhor equipe da fase de liga da Europa League, sucumbiu ao valente Bodø/Glimt em pleno Olímpico, pelas quartas de final da competição continental. Os biancocelesti precisavam reverter um placar de 2 a 0, construído pelos noruegueses na ida, e até conseguiu. Porém, já na prorrogação e com um 3 a 0 favorável, cedeu a sobrevida aos visitantes que, sem a pressão do favoritismo, saíram vitoriosos da disputa de pênaltis. Só essas linhas dão a dimensão de quão cheio de altos e baixos foi o roteiro do jogo desta quinta.

A Lazio que chegou para esse confronto nas quartas é muito diferente da equipe que iniciou a competição. Após um começo oscilante na Serie A, o técnico Marco Baroni conseguiu engrenar o ataque, juntamente com o equilíbrio defensivo, e fez, como já citado, o seu time liderar a Liga Europa na sua primeira fase. O Bodø/Glimt, apesar de modesto, esteve a um ponto de pular os playoffs da competição. Passou por Twente e Olympiacos até chegar às quartas, contra os italianos. Venceu os quatro confrontos anteriores e, no jogo de ida contra os aquilotti, os noruegueses foram muito superiores.

Em busca do difícil, mas não impossível resultado, Baroni mandou a campo Mandas, Lazzari pela direita, Marusic na esquerda, junto de Romagnoli e Gila para fechar o sistema defensivo, além de Rovella e Guendouzi na volância. E, assim como na ida, Isaksen, Pedro e Zaccagni atuaram atrás de Castellanos. Em relação ao time que jogou na Noruega, apenas o suspenso Rovella recuperou sua vaga, ocupada por Vecino na semana passada. Já do outro lado, Kjetil Knutsen escalou o Bodø/Glimt com os mesmos titulares que levaram a melhor na Escandinávia.

Apesar do nervosismo mostrado durante a partida, a Lazio chegou a conseguir levar o duelo para a prorrogação com gol nos acréscimos (Getty)

A noite começou com susto. Nos primeiros minutos, os noruegueses entraram com coragem, pressionando alto e assustando, com Blomberg e Hauge, pontas do 4-3-3 do Bodø/Glimt. A Lazio parecia travada, presa em sua própria tensão. Só aos poucos o time da casa foi se soltando e encontrando espaços para reagir. A jogada do primeiro gol saiu aos 21 minutos, quando Isaksen cruzou da direita e Castellanos completou de letra, abrindo o placar e reacendendo as esperanças da torcida biancoceleste no Olímpico.

A equipe cresceu depois disso. Mandas ainda teve trabalho do outro lado, com algumas defesas importantes, mas o domínio era italiano. Pedro, Zaccagni e o próprio Castellanos chegaram perto de ampliar. A chance mais clara foi do capitão, que carimbou a trave antes do intervalo. O primeiro tempo terminou com a Lazio em cima, pressionando, mas sem conseguir o segundo gol – que levaria o jogo para a prorrogação.

Na volta do intervalo, a Lazio acelerou ainda mais. Haikin, goleiro do Bodø/Glimt, iniciou sua noite de herói, evitando gols em chutes perigosos de Pedro e Zaccagni. O time visitante passou a apostar em cera e contra-ataques, e quase empatou em chance clara de Hogh. Baroni lançou a equipe ao ataque e pagou o preço, deixou espaços atrás, mesmo controlando a posse de bola e o ritmo da partida. Ao mesmo tempo, os aquilotti pareciam apressar as jogadas e desperdiçavam oportunidades em conclusões precipitadas.

A Lazio virou a eliminatória no tempo extra, mas não foi capaz de controlar o jogo com o Bodø/Glimt (Getty)

No minuto 91, com os italianos ainda precisando de um gol para o tempo extra, o Bodø/Glimt aproveitou uma saída errada da Lazio e viu Helmersen, dentro da pequena área, perder uma chance sozinho, com a meta praticamente desguarnecida: pegou errado na pelota e Mandas, em reação rápida, levou a melhor. O empate no agregado só veio nos acréscimos, com a Lazio exausta, mas empurrada pela torcida. Aos 93, após uma bola alçada na área, Romagnoli escorou de cabeça e Noslin, livre na pequena área, empurrou para as redes. O tento levou o confronto para a prorrogação, mas o que parecia um final feliz virou mais um capítulo de frustração.

Logo no começo do tempo extra, Nuno Tavares sentiu uma lesão muscular – a sétima da temporada – e saiu chorando, visivelmente abalado pela recorrência dos problemas físicos que minaram seu 2024-25, iniciado de maneira brilhante. Minutos depois, Guendouzi arrancou pela esquerda e cruzou na medida para Dia marcar de cabeça o gol que classificava os italianos no placar agregado. Festa no Olímpico e abalo no Bodø/Glimt? Que nada: mesmo atrás, os noruegueses ainda tiveram forças para reagir de novo.

Nos momentos em que o Bodø/Glimt conseguiu colocar a bola no chão, as memórias do jogo de ida voltaram para o confronto. Mesmo na prorrogação, os visitantes ainda mantinham a intensidade e controle de bola do jogo na Noruega. Aos 109 minutos, após um bom tempo trocando passes, e com duas retomadas de posse no seu campo ofensivo, Helmersen, o mesmo que havia perdido o gol cara a cara no final do tempo regulamentar apareceu na área e, também de cabeça, diminuiu para os escandinavos. Era o 3 a 1 que igualava tudo mais uma vez.

A Lazio perdeu a chance de ficar entre os quatro melhores de uma competição continental, o que não ocorre há mais de 20 anos (Getty)

O desgaste da Lazio era evidente. Castellanos, que voltou de lesão há poucas semanas, já não conseguia mais se mover com intensidade, e o time mostrava sinais claros de cansaço. No finalzinho, o Bodø/Glimt ainda viu Helmersen, o autor do seu gol, ser expulso: o camisa 21 levou o segundo amarelo após um carrinho que acertou dois jogadores adversários ao mesmo tempo.

Na disputa por pênaltis, pesou o nervosismo. Mandas ainda deu esperança ao defender a primeira cobrança, praticamente atrasada pelo ex-milanista Hauge. Porém, Tchaouna parou em Haikin, Noslin passou de herói a vilão ao mandar para fora. Berg teve a chance de classificar o Bodø/Glimt, mas isolou. Então, Castellanos, no último chute, também desperdiçou – e já foi levando a mão à virilha após o erro. Os noruegueses converteram três de suas cinco tentativas e garantiram uma classificação histórica. Pela primeira vez, um clube da Noruega alcançou uma semifinal europeia. E a Lazio segue longe dessa fase desde 2004, quando foi goleada pelo Porto de José Mourinho na Copa Uefa.

A eliminação escancara mais uma vez os limites da Lazio em torneios internacionais. Com Claudio Lotito à frente da agremiação, os celestes nunca ficaram entre os quatro melhores de uma competição continental. Em 2013, a equipe capitolina caiu nas quartas da Liga Europa para o Fenerbahçe; em 2018, para o Salzburg. Em todas as ocasiões, havia expectativa e favoritismo, mas faltou execução. Desta vez, os pênaltis selaram mais uma frustração.

Do outro lado, o Bodø/Glimt pode comemorar um feito gigante. Mostrou personalidade, resiliência e foi cirúrgico nos momentos decisivos. Agora, encara o Tottenham, que passou pelo Eintracht Frankfurt. Já a Lazio volta para casa com mais perguntas do que respostas — e a certeza de que, mais uma vez, deixou escapar uma grande oportunidade. Provavelmente, a melhor da década, considerando toda a trajetória na Liga Europa e o fato de ter desperdiçado as vantagens no confronto com a bola rolando e na decisão por pênaltis.