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·5 de julio de 2024

Se há Portugal - França, há Bonamici: «Pedi a nacionalidade portuguesa, só espero que não demore 20 anos»

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Olivier Bonamici. O nome dispensa apresentação e o homem que o incorpora muito menos. Se a voz é inconfundível - pelo sotaque e pelo conteúdo que carrega -, a naturalidade das suas opiniões é a imagem de marca. O francês de coração lusitano é, por isso, uma figura inevitável sempre que o destino futebolístico cruza os dois países que lhe ocupam a alma. Como agora, em Hamburgo, nos quartos de final do Campeonato da Europa de 2024.

Em Portugal desde 1996, o jornalista já não esconde a inclinação emocional nem a importância deste duelo: «Faz sentido e para mim é especial, não é? São os meus dois países do coração e claro que faz sentido. Faz-me recordar as minhas origens e, ao mesmo tempo, o país que eu mais amo hoje em dia, que é Portugal», conta ao zerozero, antes de revelar uma novidade.


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«Sabes que estou, finalmente, à espera para adquirir a nacionalidade portuguesa? Já tinha direito há bastante tempo, mas para mim a nacionalidade não é uma questão de papel. Mas após 30 anos em Portugal, jurei que aos 50 anos de idade ia ser português. Portanto, iniciei este ano o processo para adquirir a nacionalidade portuguesa», confessa Bonamici, para «engatar» de seguida a ironia característica.

«Agora só espero não receber a nacionalidade daqui a 20 anos, porque já fiz o pedido há um ano e ainda não avançou. Inacreditável. Por isso, para mim é um ano especial, claro, porque vou ser português também, não é? Isso é brutal.»

Crítica, paranoia e um paradoxo

Contada a novidade, o tema foca-se, invariavelmente, no jogo desta sexta-feira. «A imprensa francesa está farta de enaltecer a seleção portuguesa», diz Bonamici ao zerozero. A perceção, no país, sobre a equipa portuguesa mudou depois de 2016? «Claro, a partir do momento em que ganhas...».

Mas o centro gravitacional do debate desportivo em França incide, especialmente, sobre a própria perceção coletiva; e é duro para a seleção de Didier Deschamps. «Existe, culturalmente, uma comunicação social muito mais crítica e, de uma forma geral, as pessoas também. Queres um exemplo? A França foi campeã do mundo em 2018 e o jornalista mais conhecido no país disse que a seleção jogava um nojo», recorda.

«Portanto, em França há uma escola, como a do L’Équipe, de muita crítica ao desporto francês e, por vezes, a própria visão dos portugueses sobre aquilo que os franceses acham está completamente errada. Os franceses podem ser chauvinistas noutros aspetos, mas estranhamente em relação ao desporto não são assim tanto», completa Bonamici.

Cada povo com as suas imperfeições e dicotomias. Portugal – e a seleção - são, segundo o jornalista luso-francês, um bom exemplo: «Uma das qualidades principais, para mim, do povo português, é a simplicidade; isso é algo que não se reflete na seleção portuguesa. Aliás, se virmos o Ronaldo em campo, a simplicidade não é propriamente a primeira qualidade dele», atira Bonamici.

A observação é interessante e levanta outra questão. O complexo de inferioridade historicamente embrenhado no ADN lusitano que, frequentemente, castra ambições maiores. «O que acontece em Portugal é uma espécie de paranoia tipicamente portuguesa. "Ah, os espanhóis nunca gostaram de nós." O que é que é isso? "Mas ah, os franceses nunca gostaram de nós." Mas onde é que isso está escrito? Há prova? Por vezes, é por causa de um comentário de m**** que isto se banaliza.» Bonamici sem «papas na língua».

O perigo político para Mbappé e C.ª

Futebol e sociedade, pensamentos e consequências. Há um fio condutor oscilante na conversa do jornalista com o zerozero e a próxima «cartada» a ser lançada mete Mbappé, Thuram e as eleições francesas – em pleno andamento durante o Europeu.

Com o Rassemblement National, de Marine Le Pen, às portas da governação e, com isso, uma viragem drástica à extrema-direita em França, Olivier Bonamici levanta reservas na hora de abordar as declarações do capitão francês de Marcus Thuram (críticos de Le Pen).

«A seleção vai ter que ter muito cuidado com a seguinte questão: o Mbappé quando disse aquilo, o próprio Thuram também, pode estar a produzir uma espécie de efeito contrário. O eleitorado de extrema-direita é um eleitorado que considera que existe uma elite cultural e intelectual que anda a desprezar o chamado povo. E se o Mbappé e o Thuram se queixarem demasiado, isso vai dar ainda mais peso ao argumento deste eleitorado. Vão dizer: “Mas quem são eles, que ganham milhões, para nos darem lições de moral sobre a vida? Não sabem o que é insegurança, não sabem das dificuldades de chegar ao fim do mês...».

E até que ponto o debate político e a posição de uma das maiores estrelas globais podem causar desconforto no sei da seleção? «Para o jogo com Portugal, zero. Agora, se a França passar e a extrema-direita governar o país pode haver, estranhamente, essa situação contrária, quase de união. Pode, de facto, mexer dentro da seleção - mas com um ponto de interrogação, ok? -, mas só se a França passar, e eu espero que não passe», atira Bonamici.

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