Zerozero
·6 de noviembre de 2024
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·6 de noviembre de 2024
A mudança: uma circunstância inevitável na vida, devidamente enfatizada no mundo do futebol. Umas vezes mais difícil, outras vezes mais fácil. Os exemplos são vários, tanto na vida dos treinadores como também dos jogadores.
A mudança, para além disso, pode muitas vezes ser antecipada, ou então surgir de forma completamente repentina e imprevista.
Foi o caso de Bruno Jordão e Pedro Neto que, com apenas 18 e 17 anos respetivamente, decidiram dar um salto significativo na carreira: da equipa B do SC Braga para a Lazio. É certo que ambos eram vistos como promessas - Neto já se tinha estreado com sucesso pela equipa principal -, contudo, esta troca não deixou de ser muito surpreendente.
A propósito do Lazio - FC Porto, e vários anos depois dessa transferência mediática, Bruno Jordão, médio do Radomiak Radom - em exclusivo ao zerozero - falou do adversário dos dragões, dos «adeptos doentes» e recordou o momento da mudança, assim como as dificuldades de afirmação em Roma.
Zerozero: Começamos, precisamente, pela transferência. Foi algo que marcou a sua vida?
Bruno Jordão: Sem dúvida. Foi um marco, tanto na minha vida profissional como pessoal. Como se costuma dizer: foi daqueles comboios que só passam uma vez. Não tive como dizer que não. No SC Braga tinha condições impressionantes, o clube estava a crescer muito, já estava à porta da equipa A e até recebia um bom salário, mas não tive como recusar.
zz: Estava à espera dessa transferência?
BJ: Não estava nada à espera. Na altura, recordo-me de estar a treinar com a seleção e de uma mensagem do meu empresário que me disse para o ligar depois do treino. Fiquei ansioso, naturalmente, até porque estávamos na reta final do mercado de transferências.
zz: E a mensagem foi sobre a proposta da Lazio.
BJ: Sim, depois do treino ele apresentou-me o contrato que tinha em cima da mesa, as condições e, confesso, foi um choque. Era novo, tive que equacionar muita coisa: mudar de país, de realidade, de tipo de futebol e tinha de dar uma resposta praticamente no momento. Mas foi fácil de decidir. O meu pai ainda ficou reticente, porque já estava próximo da equipa A do SC Braga, mas infelizmente nunca sabemos o futuro, portanto agarrei a oportunidade e não me arrependo.
zz: Foi uma transferência muito mediática, porque também seguiu com o Pedro Neto. Tinha uma ligação forte com ele?
BJ: Sim, falou-se durante muito tempo, principalmente porque foram valores consideravelmente elevados. O Pedro Neto - ao estar envolvido na transferência - facilitou muito a adaptação ao clube/país. Desde o início que criámos uma ligação muito forte em Braga, inclusive, ele chegou a viver em minha casa durante uma pré-temporada. Estávamos praticamente sempre juntos.
zz: Chegou-se a falar da possibilidade de ambos rumarem ao Benfica. Faltou algo para se concretizar?
BJ: Sim, falou-se mesmo muito. Estava praticamente tudo fechado, mas - por pormenores - não se concretizou e fomos para a Inglaterra, mais uma vez juntos [risos], para o Wolverhampton. Foi o último clube onde estivemos juntos.
zz: Tem algum arrependimento da decisão de ter rumado para a Lazio?
BJ: Não. Pode não ter sido a melhor opção do ponto de vista desportivo/profissional, porque nesses dois anos nem eu, nem o Pedro [Neto] tivemos muito tempo de jogo, mas a verdade é que um jogador cresce com a experiência, com os minutos, com os erros e nós não tivemos muito essa oportunidade. Mas levo esses dois anos como dois anos de aprendizagem. Trabalhei com vários jogadores de topo mundial, como o Lucas Leiva, Immobile, Felipe Anderson, Nani, etc. Todos trataram-nos muito bem no plantel e foi importante - pelo menos falo por mim, claro - ter trabalhado com jogadores tão bons e inteligentes.
zz: Como era o ambiente no clube?
BJ: Os adeptos da Lazio são malucos. Completamente doentes [risos]. Eles vivem aquilo de uma maneira incrível. O dérbi de Roma, por exemplo, é impressionante: 80 mil pessoas ao rubro, a cantar, é mesmo um espetáculo muito bonito de se ver. Mas em qualquer estádio, os adeptos seguem muito o clube. Também gostam de 'cobrar' quando os resultados não aparecem, mas não no sentido de 'apontar o dedo', mas sim de puxar para cima. Já tive bons ambientes em Inglaterra, mas com aquele nível de paixão acho que, até hoje, nunca vi igual.
zz: As condições eram boas?
BJ: No primeiro ano em que estive na Lazio, o clube ainda tinha infraestruturas um pouco antigas, mas no meu segundo ano fizeram remodelações - renovaram quase tudo - e hoje em dia aquilo está impecável. O espaço é o mesmo, mas com um toque mais moderno.
zz: Qual foi a parte pior de Roma?
BJ: Como é óbvio, quando cheguei à Lazio não estava à espera de chegar e jogar imediatamente, mas estava na minha cabeça pensava: 'vou ter de trabalhar para isto e talvez tivesse oportunidades'. Houve ali fases muito complicadas. Não jogar, ir à Primavera [n.d.r: equipa sub-20] e sentia, dentro de mim, que estava pronto. Pelo menos para um jogar uns minutos aos poucos. E até tinha feedback positivo da equipa técnica. Acho que o facto de criar expectativas também dificultou ainda mais. Chegou um período em que a vontade de treinar, às vezes, era mesmo mínima. Pensava: 'vou treinar e depois vou para casa'. Apenas isso.
zz: O Pedro Neto também não teve muitas oportunidades...
BJ: E o Neto tinha tudo para vingar em Itália: era rápido, explosivo... E se também tivesse tido algumas oportunidades, de certeza que o rumo teria sido diferente. Tanto eu como ele mostrávamos que estávamos preparados. Obviamente que depois depende de vários fatores, mas nem em jogos a contar para a Taça nos davam muitos minutos. Nunca fui de falar com os treinadores e, portanto, também nunca pedi explicações. Fez parte do crescimento.