Última Divisão
·19 de agosto de 2025
O São José que encantou o futebol paulista em 1989

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·19 de agosto de 2025
Por Davi Souza
Em 1988, o São José EC mostrou força no Campeonato Paulista. Comandado por Emerson Leão e com um elenco que misturava juventude e experiência, o time chegou à semifinal da competição, marcando um momento histórico para o clube.
Era uma equipe veloz, que apostava em um contra-ataque rápido e letal. A equipe joseense teve como artilheiro Marcos Vinicius, autor de seis gols no torneio, além de contar com nomes conhecidos do torcedor brasileiro, como Dorival Júnior, Tonho (campeão mundial com o Grêmio em 1981), André Luiz (zagueiro campeão brasileiro com o Internacional em 1979) e Rafael Camarota (goleiro campeão brasileiro com o Coritiba em 1985).
Com um futebol envolvente e de resultados, o São José despontava como a sensação do interior.
Naquele ano, o regulamento do Campeonato Paulista teve 20 equipes divididas em dois grupos (A e B) da primeira fase, com confrontos entre equipes dos grupos opostos; os cinco melhores de cada grupo se classificavam para o octogonald da segunda fase. Com uma campanha de nove vitórias, oito empates e apenas duas derrotas, o São José se classificou ao octogonal decisivo.
Para a segunda fase, as equipes fariam jogos em turno e returno dentro do próprio grupo. Do outro lado, estavam os quatro grandes do estado: Corinthians, Palmeiras, São Paulo e o Santos. A vaga para final era definida com os dois primeiros de cada grupo.
Com boas atuações no octogonal, a Águia do Vale decidiria a vaga contra o Guarani, no Brinco de Ouro da Princesa – por ter um ponto a mais, o Bugre jogava pelo empate. A partida terminou com vitória da equipe de Campinas por 1 a 0. Mas, mesmo com a eliminação a Águia do Vale deixava um legado.
Em entrevista ao GE em 2023, Dorival Júnior recordou de um momento tenso antes do jogo decisivo:
O ônibus foi apedrejado antes do jogo contra o Guarani, foi um momento difícil, mas conseguimos nos concentrar para o jogo. Infelizmente, não conseguimos a vitória, mas a campanha foi histórica.
O ex-treinador da seleção brasileira também aproveitou para enaltecer o trabalho de Emerson Leão e dos ex-companheiros de grupo:
Nós tínhamos jogadores de muito bom nível. O Leão fez um brilhante trabalho, nos passou uma confiança muito grande e respeitou muito nossas individualidades. Éramos uma equipe que tinha um meio de campo muito eficiente, que valorizava muito a posse de bola. Tivemos resistência e força para suportarmos os grandes jogos.
Devido à excelente campanha do clube, a diretoria na época optou em manter 12 jogadores para a edição de 1989, dando continuidade ao projeto. Para o ano seguinte, uma base do elenco foi mantida: o goleiro Luiz Henrique, os zagueiros Juninho e André Luís, os laterais Marquinhos e Joãozinho, os meio-campistas Delacir e Vander Luís, e os atacantes Toni, Donizete, Marcinho, Fabiano e Tita.
Imagem: Reprodução
Com a base mantida e a moral elevada pela campanha anterior, o São José iniciou o Campeonato Paulista de 1989 como um time mais maduro e confiante para desafiar os grandes do futebol de São Paulo.
A estreia, no entanto, foi um choque de realidade. No lotado Martins Pereira, a Águia do Vale enfrentou a Inter de Limeira e acabou derrotada por 3 a 0, frustrando as altas expectativas da torcida.
Paulinho Cardoso, nascido e criado em São José dos Campos, é um daqueles torcedores apaixonados pelo clube. Viveu sua infância e adolescência na Vila São Pedro, bairro vizinho ao Estádio Martins Pereira. O torcedor acompanhou de perto as emoções da campanha histórica do clube, trazendo à tona memórias que refletem a alma da época de ouro do São José Esporte Clube.
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Paulinho conta que a grande campanha da equipe no Paulista de 1988, gerava grande expectativa por parte da torcida e, na estreia para mais de 5 mil torcedores, o time não correspondeu ao apoio da torcida.
Era aquela expectativa não era um time muito grande, mas a Inter era encardida, já tinha vários daqueles jogadores que a gente consagrou depois.
O torcedor também recorda um episódio marcante fora das quatro linhas: a briga entre as duas torcidas organizadas do clube, a Águia Viva (formada por famílias de funcionários da Embraer) e a Mancha Azul. Segundo ele, a confusão começou logo após o apito final.
Irritados com a derrota em casa, membros da Águia Viva xingaram os jogadores, o que não agradou integrantes da Mancha. O desentendimento rapidamente se transformou em pancadaria.
A Mancha comprou briga porque era só o primeiro jogo ainda, e aí deu um dos maiores quebra- paus entre torcidas. A Mancha foi para cima, começou um quebra-pau de pandeiro, batuque… Foi um forfé.
Após a derrota, a diretoria do São José optou pela demissão do técnico Francisco. Para ocupar o cargo, trouxeram Valdemir Carabina, com passagens por Palmeiras, Santa Cruz, CSA e Novorizontino. A missão era clara: fazer o time voltar a apresentar um bom futebol e repetir o desempenho marcante do ano anterior.
Paulinho fez questão de destacar que o esquema tático que se tornaria vitorioso nasceu sob o comando de Carabina — embora, mais tarde, fosse levado adiante por Ademir Melo.
Ele armou o time, nos jogos seguintes, começou a reação, o time cresceu demais. sabe? Mas por quê? Porque era experiente.
O Campeonato Paulista de 1989 contou com 22 clubes, divididos em dois grupos de 11 equipes. A divisão serviu apenas para efeito de classificação, já que todos se enfrentaram em turno único, totalizando 21 jogos para cada time. Avançaram para a fase seguinte os quatro primeiros de cada grupo, além dos quatro mais bem colocados na classificação geral.
Após uma estreia difícil, o São José conseguiu se reerguer e consolidar sua campanha. A equipe terminou a primeira fase na vice-liderança do Grupo 2, atrás apenas do Palmeiras.
Em 21 jogos, a Águia do Vale somou 12 vitórias (três delas com uma vantagem de três ou mais gols), além de cinco empates, incluindo dois jogos que terminaram em 0 a 0 e foram decididos nos pênaltis a favor do time joseense. Foram também quatro derrotas, com o time marcando 31 gols e sofrendo 16.
A segunda fase foi dividida em dois grupos com três clubes, o São José chegava como favorito em seu grupo e buscava chegar novamente as semifinais do estadual. Na segunda fase, o São José voltou a se destacar, terminando como líder do Grupo. A Águia do Vale e a Portuguesa Desportos terminariam empatadas na pontuação, no entanto o time joseense levou a melhor graças à campanha superior na etapa anterior.
Em um jogo truncado na capital paulista, contra a Portuguesa de Jorginho e Lê, a equipe confirmou a vaga nas semifinais, depois de um 0x0, alcançando o feito pela segunda vez em sua história e reafirmando a força e consistência demonstradas ao longo da competição.
Imagem: @juninhofonseca
Com um desempenho sólido nos domínios joseenses, os interioranos enfrentariam o Corinthians, campeão paulista em 1988, que já havia vencido os joseenses na primeira fase por 1 a 0 no Pacaembu.
Na fase inicial, o time comandado por Palhinha fez uma campanha regular, garantindo a classificação na quarta colocação. Já na segunda fase, o Corinthians mediu forças com Santos e Mogi Mirim: com três vitórias e um empate, o Timão chegava embalado para brigar mais uma vez por uma vaga na final, enquanto São Paulo e Bragantino duelavam pela segunda vaga do outro lado.
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No dia 22 de junho de 1989, diante de mais de 43 mil torcedores no Estádio do Morumbi, o Corinthians venceu o São José com gols de Dida e Cláudio Adão.
Apesar disso, a confiança da torcida era inabalável. Afinal, a Águia do Vale era praticamente imbatível jogando em seus domínios, e o Martins Pereira sempre foi um aliado poderoso. Quem viveu aquele momento lembra bem — como conta Paulinho, que estava lá:
Nós íamos ao estádio com a certeza que jogaria bem e venceria e contra o Corinthians não seria diferente
Para muitos, o clube do Parque São Jorge já estava com um pé na final, pronto para vir ao Martins Pereira apenas para confirmar a vaga. O que ninguém imaginava é que a história ainda guardava fortes emoções.
A equipe de Ademir Mello contava com o apoio de 19.975 torcedores no dia 25 de junho de 1989 para ficar a dois jogos da volta olímpica. Para chegar às finais, a equipe de São José dos Campos precisava apenas de uma vitória simples para levar a decisão para a prorrogação — era o que determinava o regulamento da época.
E foi exatamente isso que aconteceu. Com um gol no primeiro tempo do artilheiro Toni, as esperanças se renovaram para a continuidade da partida. Na segunda etapa, apesar da pressão intensa em busca do segundo gol, o jogo terminou pelo placar mínimo, levando a disputa para a prorrogação.
Já na prorrogação, a Águia do Vale mostrou toda sua força e raça, Toni e Tita entraram em cena para escrever um dos capítulos mais memoráveis da história do clube, marcando dois gols decisivos que eliminaram o Corinthians e levaram a torcida ao delírio.
Com uma virada histórica, uma atuação histórica e com superação provaram que poderiam derrubar o São Paulo de Raí e companhia.
Imagem: saopauloofc.net
São Paulo e São José EC decidiram o título em dois jogos no Morumbi. No primeiro confronto, com mando do Tricolor paulista, a Águia do Vale lutou bravamente, mas acabou derrotada por 1 a 0, com um gol contra do zagueiro André Luiz aos 40 minutos do segundo tempo.
A equipe do interior ainda dependia apenas de si para buscar o sonho inédito, mas havia um problema: o segundo jogo também não seria no Martins Pereira. A diretoria optou por vender o mando de campo em troca de uma renda maior, decisão que revoltou boa parte da torcida.
Mesmo longe de casa, os guerreiros do Vale entraram em campo com raça e orgulho. Em um Morumbi dividido, encararam o poderoso São Paulo de igual para igual e seguraram o empate em 0 a 0. O título não veio, mas aquela campanha histórica ficou eternizada na memória de quem viveu cada lance — prova de que, com coragem e paixão, o São José podia desafiar qualquer gigante.
Em 2025, mais de 30 anos depois daquela campanha épica, o São José EC segue escrevendo sua história, com desafios e sonhos que mantêm acesa a paixão de sua torcida.
O clube do Vale do Paraíba não é apenas um símbolo de superação e identidade regional, mas um exemplo de que, mesmo diante das dificuldades, raça e amor pelo futebol podem transformar uma cidade inteira.
Assim como em 1989, o São José continua a inspirar gerações, mostrando que no futebol, assim como na vida, é possível sonhar grande, lutar com garra e conquistar o respeito dos gigantes.
E para quem viveu aquela época ou conhece sua história, fica a certeza de que a Águia do Vale nunca voou sozinha. Ela carrega no peito o coração pulsante de uma torcida que nunca desistiu.
Em um novo momento sob o comando da SAF de Oscar Constantino e do treinador Marcello Marelli, a Águia do Vale mira 2026 para lutar pelo acesso e retomar seus tempos de glória.