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·28 de julio de 2025
Flamengo se expõe judicialmente com condutas de risco no futebol

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·28 de julio de 2025
Três casos recentes — envolvendo Pablo, Pedro e De La Cruz — escancaram falhas graves na gestão do futebol do Flamengo. De treinamentos isolados a vazamentos de conversas e diagnósticos médicos, as situações expõem não só a vulnerabilidade dos atletas como também a responsabilidade direta dos dirigentes contratados por Bap.
Nesta coluna, Rodrigo Rollemberg analisa os desdobramentos jurídicos, éticos e administrativos dessas crises internas.
O zagueiro Pablo não faz parte dos planos de Filipe Luís e custa em torno de R$ 600 mil mensais. Lembro que a contratação de Pablo foi feita em 2022, quando o Flamengo pagou 2,5 milhões de euros ao Lokomotiv, da Rússia. Jogou alguns jogos e, depois, esteve emprestado ao Botafogo. Ao retornar ao CRF, foi encostado e colocado para treinar em separado.
O atleta tem treinado isoladamente, mas segue postando fotos dos seus treinamentos. No ambiente do futebol profissional, a prática de treinar atletas de forma isolada pode acarretar sérias consequências. Essa conduta, adotada pelo Departamento de Futebol, pode não apenas comprometer o desempenho físico e técnico do jogador, como também afetar sua saúde psicológica.
Treinar em separado gera sentimento de desvalorização e isolamento, podendo causar danos morais ao atleta. Na Justiça do Trabalho, isso viola o direito à dignidade, provoca prejuízo psicológico e pode levar o clube à condenação por danos morais.
Danos morais. Jogador profissional. Segregação injustificada. Falta de amparo técnico.[...] viola disposições do art. 34, II, da Lei 9.615/98 (Lei Pelé) [...](Processo: ROT - 0000070-91.2023.5.06.0010, TRT-6)
Relação de zagueiros no elenco do Flamengo publicada em seu site oficial. Imagem: Divulgação / Flamengo
Tudo ocorreu por meio de uma mensagem trocada por um diretor de alto escalão do futebol com o jornalista MCP. Na conversa, o diretor disse que venderia Pedro por U$ 15 milhões e que o jogador estava desvalorizado. O clube publicou uma nota à imprensa desmentindo o jornalista que, em seguida, foi apagada. Para provar, o jornalista mostrou o print da conversa,
Ato contínuo, Pedro não foi relacionado para o jogo contra o São Paulo, dando início a uma crise no Departamento de Futebol. Em coletiva, o treinador justificou a ausência do jogador, e o próprio Pedro respondeu com uma nota.
O diretor de futebol manteve-se em silêncio durante toda a confusão e, até o momento, não se manifestou. Após o clássico Fla-Flu — vencido pelo Flamengo por 1 a 0, com gol de Pedro —, acredito que a crise entre jogador e treinador diminuiu. No entanto, houve enorme mal-estar. O jogador foi exposto por um dirigente que, publicamente, desvalorizou um ativo do clube.
Desta vez, ocorreu um novo vazamento de print de WhatsApp. O diretor médico do clube, Dr. Runco, escreveu no grupo “Flamengo Barra” o seguinte:
“Prezado João [...] situação do De La Cruz. Jogador comprado em outra gestão, sem a menor condição [...] apresenta uma lesão crônica e irreparável no joelho direito, e uma lesão também no joelho esquerdo [...]"
O Flamengo divulgou uma nota oficial:
A Diretoria de Futebol do Clube de Regatas do Flamengo esclarece que a mensagem vazada [...] não foi escrita por nenhum dos cinco médicos que integram o departamento do futebol profissional: Fernando Sassaki, Luiz Macedo, Dieno Portella, Vitor Pereira e Bruno Hassel [...] O Flamengo seguirá trabalhando com seriedade, cuidando da saúde de seus atletas, investindo em uma equipe de alto nível e reforçando seu elenco com jogadores do padrão de Seleção.
Os três casos são graves. Envolvem dirigentes contratados pelo presidente Bap. A nota do Flamengo no caso Nicolás busca evitar uma demanda judicial, mas o clube é responsável de forma objetiva pelos atos de seus funcionários. Em caso de condenação, poderá mover ação de regresso.
Todos os episódios afetam o emocional do jogador. Os dois últimos têm impacto direto na desvalorização de ativos. O caso de Nicolás é o mais sério: viola o sigilo médico-paciente, compartilhado em um grupo com 71 pessoas.
A mensagem afirma que se trata de um jogador inapto ao alto rendimento. A gravidade é extrema, e a demissão não apaga o ocorrido.
O CRF é, sim, responsável. O presidente prometeu profissionalização, mas trouxe um diretor e reformulou o departamento médico, que agora protagonizam o vazamento e a exposição indevida de um ativo estratégico. Juridicamente, cabe o enquadramento pelo domínio do fato.
Espero que o Flamengo se torne profissional no futebol. Não podemos aceitar condutas como essas em um ambiente de alto rendimento.
Médico não pode expor, em grupos de WhatsApp, a condição clínica de um atleta.
Aparando arestas, reintegrando Pablo e evitando uma ação trabalhista, acredito em vários títulos na temporada.
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