Hugogil.pt
·5 de abril de 2025
Censura no jornal SOL por texto contra Villas-Boas

In partnership with
Yahoo sportsHugogil.pt
·5 de abril de 2025
O Afonso Melo demitiu-se do SOL. Sabe qual foi o Motivo? A censura feita pelo director ao texto que vos mostro abaixo, não o publicando. Vale a pena ler, pelo conteúdo e extrema qualidade da sua escrita.
Bem à moda do seu padrinho e mentor, e o padrinho não surge aqui por acaso, vamos lá deixar-nos de hipocrisia (essa palavra que passou a fazer parte do novo léxico dos que andam pelos jornais a escrever em nome do FC Porto), Villas-Boas veio agora gritar aos quatro ventos que o jogo de domingo, pelas 20h30 nas Antas, é o jogo da época para o seu clube. Poderia ter graça se não fosse estafada. O homem que se assume como um vento novo e limpo do futebol português limitou-se a ir ao baú e sacar do mofo uma daquelas tiradas inventadas por José Maria Pedroto, e depois plagiadas ad nauseum por um tal de Jorge Nuno, que veio a provar-se, tal como eu vinha escrevendo desde o tempo da Maria Caxuxa – que remete lá para inícios dos anos 90 – ser um ente definitivamente pernicioso para uma sociedade que se desejava no mínimo não fedorenta. Só lhe faltou acrescentar aquele lugar-comum enjoativo do venceremos contra tudo e contra todos. Contra quem? E contra quê? Que raio de palavreado é este? Adiante que entrar por esse caminho só pode levar à insânia.
Ora bem, esgoelar que o jogo deste fim de semana do FC Porto contra o Benfica é o jogo da época para a rapaziada da Mui Nobre e Invicta Leal Cidade é tão lapaliciano como jurar a pés juntos que o próprio La Palice, frente a Pavia, estava vivo um quarto de hora antes de ter morrido. Santa paciência! Até onde irá a idade do paleozoico? A minha memória, que já é de avô, e que aliás prezo muito, não me deixa olvidar esses tempos em que Pedroto virou o futebol português de pantanas graças a frases que os jornais e as rádios absorviam com se fossem esponjas. Por isso, vamos lá tentar ser sérios: desde quando é que um jogo do FC Porto com o Benfica não é o jogo da época para os portistas??? Cáspite! Já era assim no anos 60 e teve de ser assim quando o velho Zé do Boné re-fabricou um clube cujo único fito era emular os vermelhos de Lisboa, a amaldiçoada capital do império com a odiada Praça do Comércio que, segundo os anti-mouros, deveria ter sido assolada pelas chamas num destino mais devastador do que o de 1755.
Vá lá, deixemo-nos de tergiversações parolas. André Vilas Boas limitou-se a ser a continuidade do seu antecessor: em caso de desespero, qualquer época fica ganha desde que o FC Porto impeça o Benfica de ser campeão. Qualquer farsola que queira esganiçar-se a dizer o contrário entrará diretamente para o Clube dos Bacocos Irreversíveis. E, aí está, carregando às costas com o peso já muito razoável de quatro décadas de jornalismo, só tenho de pôr um ponto final neste assunto. Ou um ponto parágrafo. Ou um ponto de exclamação! Escolha quem tem ainda a divina paciência de passar os olhos pelo que rabisco semanalmente nestas páginas.
O discurso da pequenez Para sublinhar esta reencarnação de Pedroto em Villas-Boas (ou, mais precisamente, na reencarnação de Pinto da Costa, o arremedo de Pedroto, em Villas-Boas), nada como o regresso à motivação das massas para que o vulcão despeje a ferocidade da lava na altura de o inimigo entrar em campo. Envolvido numa época miserável, tal como os artrópodes se deixam envolver pelas algas, o jovem presidente do FC Porto recorre ao verbatim esclerosado. Confesso que não me admiro. Estamos a falar de um produto fabricado e moldado de forma industrial. Villas-Boas foi alimentado com a mesma sopa com que alimentaram José Mourinho, outro menecma do original Zé Maria, e que o antigo presidente do clube criou à sua imagem e semelhança. E assim por omnia seculae seculorum. De José se fez Jorge, de Jorge se fez José, de José se fez André. E já estou quase a desabafar como o meu companheiro de adolescência dos Olivais Sul, André Pipa: «Não me quilhem!». Ou seja lá o que foi.
Domingo, nas Antas, o jogo da época só pode ser o jogo do Benfica. Como entra pelos olhos dentro. O êxito significará um alento precioso para a restante batalha ombro a ombro com o Sporting. Um triunfo do FC Porto, por muito que Villas-Boas queira engrandecê-lo, não aquece nem arrefece aos portistas. Eis-nos, novamente, de regresso ao insuportável discurso da pequenez endémica – para André, tirar o Benfica da luta pelo título será a sua vitória de Pirro, esse patético rei de Epiro e da Macedónia. E se a tal se resume a sua ambição, vou ali e já venho. Aceitemos igualmente que estaremos perante dois opositores drasticamente separados pela lei da qualidade. O plantel do Benfica pode não ser tão exuberante como nos querem fazer crer, mas é indubitavelmente melhor do que o do seu contendor de domingo. Se no banco dos encarnados estivesse outro treinador qualquer que não Laje, talvez isso se viesse a fazer a diferença. Mas… Um enorme mas voa sobre as águias jornada a jornada. Depois de hora e meia desconcertante contra o Farense, o treinador do Benfica continua a pensar que se passa nada. Os largos minutos que a equipa desliga frente a todos os adversários poderão ser decisivos no Porto. E o homem que comanda a nau não arranja solução para acabar com os sustos, uns atrás dos outros. Aquele que era até quarta-feira passada o pior ataque do campeonato conseguiu marcar dois golos na Luz. Não é nada bom sinal para os encarnados.