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·7 de mayo de 2024

As vidas boas do presidente que tentou ser jogador: «Era o nosso guarda-redes suplente»

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Boas são as vidas dos que não se cingem a apenas uma coisa. O novo presidente do FC Porto, que tomou posse esta terça-feira após uma esmagadora vitória nas eleições, está bem ciente disso.

André Villas-Boas é um homem de aventura. Ganhou fama nacional e internacional como treinador, tendo brilhado especialmente num 2010/11 recheado de troféus, mas chegou até a cumprir sonhos no desporto motorizado antes de se atirar, este ano, à gestão de uma das maiores instituições de Portugal. Vidas boas, lá está, estas que tão cheias são.


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A esmagadora dos adeptos, especialmente os azuis e brancos, já conhece a história. O que menos pessoas sabem é que este homem do renascimento em versão desportiva, como tantos outros, começou a aventura como jogador. Quem de perto acompanhou esse início, fala ao zerozero de um miúdo «afável» e «agregador». Características fáceis de identificar hoje, três décadas depois.

Do colégio para o futebol federado

Mais um dia de treino nos juniores do Ramaldense e lá vinha o Cenourinha, guarda-redes que tinha tanta qualidade entre os postes como a sua alcunha tinha de criatividade. Corria o ano de 1994.

Chegava com as mãos no guidão de uma bicicleta de BTT e no saco trazia, além de luvas e chuteiras, uma capa onde guardava as análises à sua e às outras equipas. Quem o enxergasse bem, talvez conseguisse prever as coisas que o futuro guardava...

«Era o nosso guarda-redes suplente. Tínhamos o Ricardo Melo, que era muito bom e afirmou-se bem no futebol júnior, mas o André, mesmo sabendo que ia ao banco, era fiel. Saía de casa no domingo de manhã sabendo que não iria jogar. Mais tarde o treinador chegou à nossa beira e disse que o André merecia ser compensado e ele jogou alguns jogos à frente.»

As palavras são de Diogo João, antigo colega de André Villas-Boas no futebol e no secundário. Não foram da mesma turma, mas juntaram-se quando a equipa do Colégio do Rosário participou em torneios e levou o entusiasmo para o futebol federado, com as cores de dois clubes diferentes:

«Entre colégio e futebol, estivemos juntos seis anitos. Tínhamos aquelas brincadeiras e convívio no recreio, mas a aproximação foi maior no futebol. Foi aí, com um grupo de amigos do qual André fazia parte, que apareceu primeiro o Ribeirense e depois o Ramaldense», contou-nos.

«Na altura já tendia para a parte técnica»

Diogo João fez questão de referir, mais do que uma vez, uma pessoa de enorme importância no desenrolar desta história. Um vigilante do Colégio do Rosário que impulsionou a participação nos tais torneios e, como tal, também foi encorajado pelos pais a assumir o posto de treinador no futebol federado.

Era o mister Paulo, ou Paulo Gomes, e também ele falou sobre esse passado, à conversa com o nosso jornal. Recordou um miúdo que, talvez por passar tanto tempo no banco, ganhou o gosto (e talento) para ver o futebol desde fora das quatro linhas:

«O André na altura já tendia para a parte técnica, gostava de nos ajudar. Nós estávamos na II Divisão Distrital do Porto e ele chegou a ir ver os jogos de outras equipas, dos nossos adversários. Uma vez, quando estávamos a disputar a subida, ele até foi para o campo do Grijó para saber como acabava o jogo deles, porque dependíamos disso», começou.

«E foi ele que se ofereceu para isso! O André andava sempre com a sua capinha, para fazer as análises, e gostava muito dessa parte. Talvez até gostasse mais do que de jogar. Também deve ter sido por isso que o vizinho lhe achou muita piada...»

Chamá-lo de guarda-redes suplente, tendo tudo isso em conta, começava a parecer redutor. Daí surgiram as oportunidades para jogar à frente, como médio defensivo e por vezes até a lateral. O que lhe faltava na vertente técnica, era compensado na entrega. Ou como se lembra Diogo João, entre risos: «Era uma pessoa muito dedicada, aquele jogador que tu dizes "epa, tenho aqui uma carraça...", porque é aguerrido e não vira a cara à luta.»

Robson, as luvas reusch e... o presidente ambicioso

«Foi também nessa altura que ele nos disse que ia para Inglaterra tirar o curso de treinador de futebol, seguiu o caminho dele», recordou Paulo Gomes, hoje professor de 1º ciclo e treinador de atletismo.

Sim, caro leitor. É bem possível que já tenha juntado as peças. O fim desta história coincide com o início de outra bem mais conhecida, sobre o rapaz que iniciou o seu caminho como treinador de futebol por ser vizinho do mítico Bobby Robson...

«Ele estava connosco nessa altura», diz Diogo João, ao telefone com o nosso jornal. «Ele foi-nos contando as interações. Que viviam no mesmo prédio e um dia, no elevador, o perguntou o porquê de não jogar com o Domingos Paciência, que era na altura o ídolo dele. O Robson achou piada ao miúdo.»

«Noutra altura descobriu que o André era guarda-redes, por isso uns dias depois apareceu-lhe à porta e ofereceu umas luvas do Vítor Baía. Eram da marca Reusch, originais. Ficámos todos deslumbrados quando ele apareceu para treinar no pelado do Ramaldense com aquelas luvas. Era uma coisa espetacular, para nós, acompanhar aquilo», disse ao zerozero.

Quem presenciou a entrada de AVB no mundo do futebol, mesmo que tenha sido com talentos banais para a baliza, não esquece a pessoa «extremamente afável, cordial, simpática e sem peneiras», como diz Diogo João. Também Paulo Gomes, treinador que serviu de primeiro exemplo, lembra o «miúdo humilde e amigo», de quem todos gostavam. «Já na altura mostrava o caminho que queria seguir, vincava-o bem e fez tudo para isso.»

Agora seguem-se, pelo menos, quatro anos de presidência do FC Porto. Talvez seja exigente essa duração mínima, tendo em conta um histórico de ânsia pelo novo e pelo diferente, mas Diogo João vê esta nova aventura como algo de diferentes dimensões:

«Ele nunca se deixou levar pela ideia de ter uma carreira específica. Sempre foi assim, ambicioso. Agora acredito que não queira, de maneira nenhuma, que isto seja uma coisa passageira. Eu espero que ele consiga deixar um bom legado e que ele possa ficar muitos aninhos na presidência do FC Porto.»

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