Última Divisão
·5 de enero de 2025
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·5 de enero de 2025
A temporada 2023/2024 ficou marcada pela chegada de craques internacionais ao futebol da Arábia Saudita. Cristiano Ronaldo foi o principal nome, mas a lista contava também com Neymar, Sadio Mané, Karin Benzema, Jordan Henderson, Roberto Firmino e Aleksandar Mitrovic, entre outros.
Era o início de um projeto que tem um desfecho já bastante aguardado: a Copa do Mundo de 2034, que a Arábia Saudita irá receber. Será a primeira vez que o principal torneio da Fifa chegará ao país, exatamente 40 anos após a primeira participação no Mundial masculino.
Neste ínterim, a evolução do futebol saudita também pretende contemplar as mulheres, em um passo importante de uma revolução que vem ganhando corpo nos últimos anos.
Alguns direitos que parecem óbvios ao Ocidente só foram garantidos às mulheres sauditas recentemente. Em 2018, por exemplo, elas passaram a poder dirigir e a entrar em estádios de futebol. A partir daí, começaram a ganhar espaço no automobilismo e no futebol.
Em 2022, veio a criação da Primeira Liga Feminina Saudita, a primeira divisão do futebol feminino da Arábia Saudita – mesmo ano da primeira partida oficial da seleção feminina do país. A novidade refletia um movimento recente: os primeiros times sauditas de mulheres foram criados em 2006, enquanto o primeiro torneio local para elas foi realizado em 2008.
Nada é ao acaso. Trata-se do Visão 2030, uma estratégia de abertura cultural do governo local lançada em 2016 para atrair turistas e investimentos estrangeiros, reduzindo a dependência do petróleo e diversificando a economia nos próximos anos, promovendo uma imagem menos conservadora do país para o restante do mundo. E o esporte tem papel importante nos planos.
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Assim como no futebol masculino, as equipes femininas também buscaram reforços internacionais. A principal origem é a África, com jogadoras de destaque oriundas de Argélia, Gana, República Democrática do Congo, Marrocos, Tunísia, Camarões e Egito. Mas a Europa, os Estados Unidos e a América Latina também têm negociado jogadoras.
Entre as brasileiras, nomes como Rafa Travalão (Al-Riyadh), Letícia Nunes (Al-Ittihad), Izabela Stahelin (Al-Nassr) e Rayanne Machado (Al-Qadsiah) estão entre os destaques. A paraguaia Jessica ‘Pirayú’ Martínez (Al Hilal), as mexicanas Sofía Ochoa (Eastern Flames) e Verónica Pérez (Al-Qadsiah) e a venezuelana Oriana Altuve (Al-Shabab) também embarcaram na aventura.
Jessica Martínez, do Al Hilal (Imagem: Divulgação)
Mais do que contratar jogadoras e treinadores, o futebol feminino saudita tem investido em estrutura. E por mais que o termo seja batido, indica uma preocupação que não ganha tanta projeção: no fim de 2024, pelo menos 200 garotas de 8 a 16 anos já podiam treinar em centros regionais de formação espalhados pelo país. E mesmo entre as profissionais, as condições oferecidas são bastante vantajosas.
“Aqui na Arábia Saudita, se você é uma jogadora profissional de futebol, você é profissional. Esse é o seu emprego e você não precisa de outra ocupação para viver”, afirmou Tatiana Khalil, supervisora técnica da Real Federação Saudita de Futebol, em declarações ao UOL.
Ex-jogadora, com passagem pela seleção do Líbano entre 2017 e 2019, Tatiana passou por diversas funções de comissões técnicas de clubes e seleções desde 2021, mas chegou a trabalhar em um banco do país entre 2016 e 2023. Durante a visita de jornalistas brasileiros ao país no fim de 2024, foi uma das escolhidas para apresentar o projeto – e empolgou-se com o trabalho feito com crianças e adolescentes.
“Ninguém imaginava isso antes. O mais importante é que elas têm um lugar para treinar, um lugar para desenvolvimento, estarem juntas, gastarem energia e se divertirem. Todas amam futebol, estão fazendo o que amam”, disse, em entrevista à Band. “Estou muito feliz com tudo. Estamos ajudando várias garotas, estamos ajudando elas a serem mulheres no fim, e isso é lindo.”
É claro que toda mudança do tipo leva tempo e é vista com desconfiança. A Arábia Saudita não é diferente, mas reconhece que a mudança era necessária e vai acontecer.
“Eu sei que estamos mudando, mas estamos mudando por nós mesmos, não para agradar ninguém. Estamos mudando pelas novas gerações”, disse Ibhahim AlKassin, secretário-geral da Real Federação Saudita de Futebol. “Nós queremos educar o mundo sobre a Arábia Saudita. Não queremos esperar até 2034 para as pessoas virem e verem a realidade.”