A Feira vai voltar a parar ao fim de 40 anos: «É como se fosse um FC Porto - Benfica» | OneFootball

A Feira vai voltar a parar ao fim de 40 anos: «É como se fosse um FC Porto - Benfica» | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Zerozero

Zerozero

·25 de mayo de 2024

A Feira vai voltar a parar ao fim de 40 anos: «É como se fosse um FC Porto - Benfica»

Imagen del artículo:A Feira vai voltar a parar ao fim de 40 anos: «É como se fosse um FC Porto - Benfica»

A viagem é curta, mas desperta nos habitantes de Santa Maria da Feira todas as emoções que só o futebol pode proporcionar. A semana é especial e no concelho não se fala de outra coisa por estes dias: quase 40 anos depois do último episódio, a maior rivalidade concelhia vai voltar a aquecer. Lusitânia de LourosaCD Feirense. Não 90, mas 180 minutos - no mínimo - capazes de teletransportar a mente do adepto para as tardes da década de 80 onde os confrontos eram habituée.

Do Estádio do Lusitânia FC Lourosa ao Marcolino de Castro a distância parece ter sido calculada com a precisão de um relógio suíço: exatos oito quilómetros. Clubes vizinhos e uma rivalidade acérrima que o tempo não apagou, mesmo que os caminhos não se tenham cruzado no tapete verde, mas que vai agora reacender. Na manhã de domingo, Santa Maria da Feira volta a parar por ordem de um dérbi concelhio que já não se via desde 1986/87 em competições oficiais.


OneFootball Videos


«É como se fosse um FC Porto - Benfica»

As duas equipas não jogam oficialmente desde que o CD Feirense afastou o Lusitânia de Lourosa na terceira eliminatória da Taça de Portugal, em 1986/87. No plantel estava um jovem guarda-redes, Alfredo, que dedicou mais de dez anos - repartidos em duas passagens - da carreira aos leões de Lourosa. «Antigamente era diferente...», contou ao zerozero. Uma expressão que muitas vezes surgiu ao longo da conversa.

«Nesses 90 minutos, mesmo que tivesse um irmão a jogar... Antigamente do pescoço para baixo era canela, como se costuma dizer», disse o antigo guardião ao nosso portal, recordando anos onde a rivalidade se vivia não só fora, mas também dentro de campo e os dois conjuntos partilhavam o mesmo patamar no futebol nacional. 'Então e como se vivia a antecâmara de um dérbi entre as duas equipas?', quisemos nós saber, em busca de tentar encontrar o que possa ser o estado de espírito atual dos protagonistas de hoje em dia.

«Havia sempre aquelas bocas. 'Vamos ganhar', 'vai ser por dois ou por três'. Havia sempre esse extra. Os jogadores estão mais concentrados no que têm de fazer dentro de campo nessa semana. Toda a gente queria jogar e eu não era exceção», retratou assim o guarda-redes uma semana onde a Feira mais parecia o epicentro dos maiores clássicos: «É como se fosse um FC Porto - Benfica ou Benfica - Sporting. Nessa semana só se falava no dérbi. Era um jogo especial. Estes jogadores do Lourosa nunca jogaram um dérbi, alguns nem eram nascidos. Vai ser especial.»

Perder? Nem a feijões...

O tempo separou os rivais. O CD Feirense estabilizou-se nas competições profissionais em definitivo no século XXI, mas já poucas ou nenhumas passagens pelo terceiro escalão teve de 1990 em diante. O Lusitânia de Lourosa fez o caminho inverso e não é preciso recuar muito para até encontrar o clube mergulhado nos distritais de Aveiro.

A rivalidade arrefeceu por isso? Nem por sombras. Impedidos de se encontrarem oficialmente, a menos que estivessem ambos na Taça de Portugal e por lá se cruzassem, CD Feirense e Lusitânia de Lourosa encontraram outro Coliseu para se digladiarem: o Torneio da Feira, prova frequente no calendário de pré-temporada dos maiores emblemas da região. Mas atenção: ao contrário de tantos outros torneios de pré-época, aqui o ambiente não era propriamente de jogo amigável.

«Aí sim, notava-se a rivalidade, apesar de ser um torneio de início de época. Os adeptos viviam muito. Passado uns anos, fui a Lourosa, já com umas condições novas, mas quando tinha ido lá antes, era um torneio de pré-época e o Lourosa encheu completamente o estádio. Achei especial. Queriam muito ganhar e mesmo para o Feirense, e estávamos na I ou II Liga, tínhamos obrigação de ganhar mesmo sendo eles um clube de divisões abaixo, para não dizerem que eram melhores que nós. Era muito intenso», recordou Diogo Cunha, hoje capitão do Valadares Gaia, mas que representou o CD Feirense de 2008/09 a 2012/13 e o Lusitânia de Lourosa de 2018/19 a 2020/21.

«Apesar de estarem duas ou três divisões abaixo na altura, eram sempre jogos muito difíceis. Ia sempre muita gente ver, a rivalidade era grande. São dois clubes com adeptos muito apaixonados. Fui muito feliz na Feira, os adeptos são espetaculares e foram os anos mais felizes da minha carreira, mas por outro lado sinto que os adeptos do Lourosa têm uma paixão superior. Vê-se pelas pessoas que vão assistir aos jogos. Não sei se não metem mais gente nas divisões inferiores do que o Feirense na II Liga», prosseguiu o veterano médio, hoje com 38 anos.

Também Mika, que representou os dois clubes e hoje defende as cores do Leça FC, atesta a opinião do antigo companheiro, com quem partilhou o balneário dos fogaceiros. «Havia sempre uma grande rivalidade porque toda a gente queria ganhar esse troféu. Já desde aí me lembro. O Feirense sempre foi mais representativo, porque estava nas ligas profissionais, mas a rivalidade era vincada», contou-nos.

A rivalidade era tão vincada que, apesar de defrontar equipas de escalões inferiores, como o caso do Lusitânia de Lourosa, o foco do CD Feirense era total, quase como se de uma Liga dos Campeões se tratasse: «Levávamos o torneio muito a sério, também pela mística. Ninguém queria perder. Nunca eram jogos amigáveis, até eram bem rasgadinhos e com entusiasmo. Era importante para nós mostrar que estávamos num patamar superior.»

E quando o torneio da região abria a porta ao dérbi entre os dois maiores emblemas, as temperaturas subiam. «[Jogo] Rasgadinho como sempre. Sempre bem quentinho, porque o Lourosa sempre teve uma massa associativa muito entusiasmante, leva muita gente ao estádio e gente que vive muito o jogo. Pelo que rodeava o jogo e pela rivalidade fora do campo, que havia muita, eram sempre jogos e torneios muito bons de disputar e ninguém queria perder já nessa altura», descreveu.

A velha história do 50-50

O primeiro capítulo da eliminatória escreve-se, este domingo, em Lourosa. Na hora de falar em prognósticos, a primeira sensação é de que será um jogo muito bem disputado e entusiasmante, daqueles onde é difícil fugir ao cliché do 50-50.

«A responsabilidade está toda do lado do Feirense, mas os jogadores do Lourosa estão todos motivados. Vai ser um dérbi à moda antiga, com estádio cheio. Vai ser 50-50, mas tenho fé que o Lourosa vai ganhar», atirou Alfredo. Diogo Cunha, por outro lado, está mais inclinado para o emblema que lhe deu os melhores anos da carreira: «Gosto muito das duas equipas, mas acabo por gostar mais do Feirense porque foram cinco anos no início da carreira e que me projetaram para outros patamares. Penso sempre que é 50-50, o Lourosa está empolgado, com força e vai ser muito difícil para o Feirense. Vão ser dois jogos intensos, a rivalidade é grande.»

Um coração azul, um coração amarelo e preto. Precisamos que seja Mika a resolver este imbróglio. «Vai ser um jogo empolgante por tudo o que o rodeia, com muita massa associativa dos dois lados e por haver essa rivalidade. A história diz-nos, e eu enquanto jogador também penso assim, que é mais entusiasmante para quem está a tentar subir. A pressão é diferente e se formos ver o passado recente, quem está a lutar pela subida parece ter sempre alguma vantagem nos play-off», começou por argumentar.

Toda esta explicação levou à sua conclusão: «Não tenho dúvidas de que vai ser um jogo muito difícil para o Feirense, em Lourosa. Isso está mais fresco na minha memória, pela época passada, em que a massa adepta do Lourosa é mesmo o 12.º jogador. Apoiam muito o clube e complicam a quem vai lá jogar. Tendo o jogo o peso que tem e sendo em casa do Lourosa, tenho a certeza que o estádio vai estar cheio.»

As certezas foram, entretanto, confirmadas pelo clube da casa e o Estádio do Lusitânia FC Lourosa vai ter lotação esgotada. Os tempos são outros e o último jogo oficial entre ambos já tem quase duas décadas, mas se a estatística servir para alguma coisa, salta à vista o facto de que o CD Feirense apenas por duas vezes em 14 tentativas venceu no reduto do vizinho. Para manter a vida nos campeonatos profissionais, este domingo seria uma boa altura para meter a terceira no ponto de vista fogaceiro.

Ver detalles de la publicación