AVANTE MEU TRICOLOR
·2 August 2025
VOCÊ SABIA? MUITO ANTES DE FERREIRINHA, ATACANTE DO SÃO PAULO JÁ FEZ JORNALISTA PAGAR PROMESSA ESDRÚXULA AO VIVO

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·2 August 2025
Mirandinha corta as madeixas de Geraldo Bretas ao vivo (Morumbiteca)
RAFAEL EMILIANO@rafaelemilianooo
Bastou Ferreirinha marcar o segundo gol do São Paulo na vitória sobre o Athletico-PR na quinta-feira (31/7), no jogo de ida das oitavas de final da Copa do Brasil, para toda a torcida no Morumbi entoar o coro de "tanguinha" nas arquibancadas.
A referência é clara: a promessa em tom de deboche feita pelo ex-jogador e atual apresentador e comentarista Neto, da 'Band'.
Ainda em maio, no início do Campeonato Brasileiro, em meio a uma má fase vivida pelo Tricolor, Neto criticou a qualidade do elenco são-paulino. E resolveu pegar no pé do ponta, que não viva lá fase muito iluminada: prometer apresentar seu programa diário na hora do almoço de tanguinha caso o camisa 11 são-paulino marcasse dez gols no ano.
Bem, Ferreirinha tinha virado um reserva de luxo e sequer anotado uma assistência sequer em todo o Campeonato Paulista. Mas acontece que a fala parece ter mexido com os brios do jogador, que desde então desembestou a marcar gols, já foram sete ao todo, para um desespero calculado de Neto, que anda capitalizando em cima da história.
Ok, tudo isso você já sabe e vem acompanhando quase que em tempo real.
Agora você sabia que não é inédito?
Na verdade, um atacante do São Paulo já fez um comentarista esportivo pagar ao vivo na televisão por conta de uma aposta esdrúxula envolvendo o seu rendimento em campo.
Aconteceu há quase 52 anos, para ser mais exato.
No dia 25 de novembro de 1973, um domingo, o São Paulo venceu o Palmeiras por 2 a 1 pela quarta rodada da segunda fase do Campeonato Brasileiro, no Morumbi.
Para mais da metade dos 63.411 presentes, contudo, o resultado pouco importava. Todos eles estavam ali para ver Mirandinha. O centroavante chegara ao São Paulo no início do ano vindo do rival Corinthians, onde amargou altos e baixos.
O currículo não empolgou boa parte da crônica esportiva da época como sendo o nome ideal para substituir Toninho Guerreiro, dono de 126 gols em 170 jogos pelo Tricolor, que o emprestara ao Flamengo naquela temporada por problemas extracampo e rusgas com a diretoria na renovação do contrato.
Uma das vozes mais ativas contra Mirandinha foi a de Geraldo Bretas. Mineiro de nascimento e morto em 1981, o comentarista carregava a fama de ser "o mais polêmico" da imprensa paulista, fazendo críticas a dirigentes, árbitros e jogadores que hoje, em tempos de redes sociais, parecem até infantis, mas na época despertava indignação de alguns e admiração de outros.
Só para se ter um exemplo, Bretas passou toda a preparação da Seleção Brasileira à Copa do Mundo de 1958 chamando o time de ruim e o técnico Vicente Feola de despreparado. Quando o título foi conquistado, por ordem de Paulo Machado de Carvalho, são-paulino e chefe da delegação (e dono da concorrente 'Record', importante ressaltar) proibiu os jogadores de irem à 'TV Tupi', onde Bretas trabalhava.
Com o São Paulo, o comentarista tem pelo menos outros dois episódios marcantes. Em um deles, em 1966, criticou duramente a marcação de jogos no Morumbi inacabado, chamando o estádio de 'puxadinho' e o Tricolor de 'clube falido que jamais vai terminar a obra', o que gerou protestos, veja só, até de rivais.
Quatro anos depois, criticou a contratação de Gérson, duvidando da vontade do jogador em morar na capital paulista. "O senhor Natel (Laudo, presidente do São Paulo na época) que contrate um motorista e esteja pronto para ir buscar seu craque em Santos quando esse começar a falar nos treinos. Comprometimento não é o forte", disse, segundo o jornal 'Folha de S. Paulo'. O jogador chegou a ameaçar um encontro, digamos, menos amigável para "acertar as contas".
Ao longo de todo aquele ano de 1973, Bretas já utilizava seus espaços no 'Mesa-Redonda' da 'TV Gazeta' e 'Comendo a Bola' da 'Tupi', além do jornal 'Diário da Noite' e da 'Rádio Tupi' para perseguir Mirandinha, algo que ele já fazia nos tempos de Corinthians. "Peladeiro", "bagre", "grosso"... esses foram alguns dos adjetivos usados por Bretas ao se referir ao atacante são-paulino.
Em um 'Mesa-Redonda' daquele novembro, Bretas, que percebia o aumento da popularidade (e audiência) com a perseguição a Mirandinha, resolveu apelar de vez. A tabela marcara o clássico com o Palmeiras, em fase muito melhor que o Tricolor e que vinha invicto na competição nacional. O comentarista então, deu a cartada: se o atacante marcasse um gol em Leão, cortaria o cabelo e ficaria careca ao vivo.
Tal como agora, com Ferreirinha, Mirandinha entrou em campo motivado no clássico. E precisou de apenas quatro minutos para desviar cruzamento de Terto e vencer o estrelado goleiro deles. Para não deixar barato, marcou o segundo. E o Tricolor derrubou a invencibilidade rival.
Em um raro momento de união entre palmeirenses e são-paulinos, todo o Morumbi passou a gritar "careca" durante todo o restante do jogo.
Bretas, tal como Neto espera agora, não poderia ficar mais satisfeito. No dia seguinte ao clássico, sua provocação foi notícia em todos os lugares. Deu entrevistas para emissoras de rádio concorrentes. Foi manchete dos jornais. A expectativa era tamanha que a 'TV Gazeta' liderou a audiência à noite na Grande São Paulo (sim, o 'Mesa-Redonda' na época era às segundas), feito repetido pela 'Tupi' e o 'Comendo a Bola' na noite seguinte.
Mas a direção da extinta emissora dos Diários Associados percebeu o sucesso. Barrou Bretas de "desperdiçar uma oportunidade dessas" em um mero programa esportivo. E promoveu o esperado pagamento da aposta para o outro final de semana, no famigerado 'Almoço Com As Estrelas', maior programa da casa, com a presença do próprio Mirandinha, que deu as primeiras tesouradas no cabelo do crítico. A repercussão? Imensa, clara. Tal como deverá ser quando Ferreirinha marcar o décimo tento. E Neto ter de pagar sua aposta.
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