«Tinha um colega que trabalhava na manutenção da autoestrada de madrugada e vinha jogar no dia seguinte» | OneFootball

O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Atualmente na Finlândia, José Ferreira conta ainda com passagens por República Checa, País de Gales e Inglaterra, país no qual viveu a primeira experiência no estrangeiro. De resto, a mudança de José para território inglês tem um tanto ao quanto de insólita.

«Eu fui para Inglaterra com 17 anos integrado no programa Liverpool FC Foundation College. Ou seja, estudava e jogava. Quando ingressei na Universidade, andei a rodar nas 'non league'- da 7ª à 10ª liga.  Eu já sabia que o meu futuro ia passar por Inglaterra, mas numa vertente de estudos. Na altura não conhecia o mundo das 'non league' e não sabia que havia ordenados positivos. Aí recebíamos habitualmente por jogo, no fim vinham ter connosco e davam-nos um envelope. Na teoria, mesmo estando nessas ligas, o ordenado já era mais ou menos suficiente, principalmente quando tínhamos dois jogos por semana. Quando conciliava o futebol com a Universidade, acabava as aulas às 17h e depois apanhava sempre trânsito a ir para o treino, demorava cerca de 2 horas. Não era uma rotina fácil, então apostava muitas vezes em trabalho de ginásio e treino individual antes de ir para as aulas», começou por referir.

Ainda que tenha partido para uma carreira como profissional, José Ferreira recorda com entusiasmo os tempos em que jogava com atletas que também trabalhavam:

«Lembro-me muito bem que tinha um colega que fazia obras de manutenção nas autoestradas durante a madrugada. Ele ia treinar connosco, depois ia trabalhar e às 4 horas da manhã estava a mandar-nos fotos no grupo de Whatsapp. Quando isto acontecia à sexta-feira, no sábado já estava connosco pronto para jogar. Às vezes ele estava numa cidade a três/quatro horas da nossa e eu só pensava 'Ele vem jogar connnosco amanhã?' [risos]. Tínhamos também um segurança de uma discoteca de Liverpool, então às vezes acontecia-me ir passear ao centro da cidade e encontrar-me com ele em horário de trabalho.»

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