MundoBola Flamengo
·25 February 2025
Preço de ingressos do Flamengo em 2025: um debate recorrente e necessário

In partnership with
Yahoo sportsMundoBola Flamengo
·25 February 2025
A conquista da 25ª Taça Guanabara não ficou marcada apenas pela atuação de gala diante de um adversário frágil. Frequentando o Maracanã desde os anos 70, foi a primeira vez que não vi nenhuma bandeira nas arquibancadas. As Torcidas Organizadas convocaram uma espécie de greve, em protesto contra o preço dos ingressos e não foram ao jogo. Nenhuma delas!
Digo desde logo: estão certas as torcidas em protestar! A maior resistência à elitização do futebol brasileiro vem justamente das torcidas organizadas, quase todas elas com claras raízes populares. E preço de ingresso é igual negociação de salário: todo ano é necessário estar atento e vigilante, caso contrário, a coisa pode desandar.
Outro aspecto deve vir antes do debate financeiro. Mais do que arrecadar, a missão do clube é jogar sempre para arquibancadas cheias. Afinal, a receita de bilheteria não é a única fonte de recursos. Arquibancada cheia aumenta o valor intangível para TVs/patrocinadores e alavanca as vendas dos concessionários do estádio, que beneficiam o clube e/ou o dono do estádio (que também é o Flamengo, sócio majoritário do consórcio que gere o Maracanã).
Dito isso, algumas ponderações são necessárias, já que o tema está longe de ter a simplicidade com que às vezes é tratado. E há um equívoco central na abordagem inicial do protesto das Organizadas: para o frequentador habitual do estádio, o preço cheio não pode servir de parâmetro balizador, já que ele é pago pela minoria do público e, quase sempre, por frequentadores ocasionais.
Para esse texto, adotei como referência o jogo Flamengo x Vasco pela 10ª rodada da Taça Guanabara, o recorde de público da competição até aqui, com 44.543 presentes e renda de R$ 2.491.377,50 – ou seja, um ticket médio de R$ 55,93, bem abaixo do menor valor cobrado, que era de R$ 80,00.
O gráfico a seguir ajuda a entender como foi a distribuição de público no Maracanã naquela partida (padrão que, provavelmente, se repete a cada jogo):
Ou seja, a cada 100 pessoas no Maracanã, 81 não pagaram o preço integral do ingresso. Esse dado não pode ser ignorado em qualquer debate sobre o quanto se cobra em jogos no estádio. Insisto: menos de 20% do público paga o preço cobrado, de “tabela”. Quase todo mundo que vai lá ou compra com desconto de pelo menos 50%, ou não paga nada.
Pelo lado da despesa, a coisa também não é simples. A Federação fica com cerca de 10% da receita bruta e o INSS, com 5%. Assim, a receita líquida é de 85% da arrecadação. Alguns custos chamam atenção: 5,7% vão para “confecção, venda e pré-venda de ingressos” e impressionantes 25,75% são as despesas operacionais do estádio.
Outros custos são prosaicos: pouco mais de 1% da renda vai para instituições como a fundação dos atletas profissionais, a associação dos cronistas e a união dos escoteiros. Parece pouco, mas os quase R$ 27 mil destinados a essas pessoas é mais do que 1/3 do que foi arrecadado com ingressos de inteira pagos pelos vascaínos.
Finalmente, a comparação! O Flamengo compete nacionalmente com clubes igualmente poderosos e conta somente com suas receitas próprias para se sustentar - ao contrário de vários rivais, turbinados por mecenas, investidores ou até mesmo pelo uso indevido dos recursos de terceiros (em bom português, calote nos credores).
A receita de bilheteria é um item relevante no orçamento do clube, oscilando entre 10% e 15% da receita total, a depender da performance dos demais itens de arrecadação. Para um clube que fatura acima de R$ 1 Bi, isso significa que o Flamengo precisa arrecadar pelo menos uns R$ 150Mi anuais com seus ingressos.
Por isso, é importante comparar se o Flamengo está cobrando muito mais caro, muito mais barato ou parecido com os seus principais rivais. Nesse começo de 2025, o Flamengo, vejam só, está alinhado ao que vem sendo praticado em outros estados. Escolhi alguns jogos recentes para comparar, de Estaduais ou da Copa do Nordeste, adotando sempre o valor de inteira mais barato:
É preciso criticar a ideia de que o preço é a principal variável na atração de público ao estádio. Obviamente, ingressos mais baratos tendem a ser mais atrativos, mas não há certeza do quão elástica é a demanda (ou, simplificando o economês, de quanto uma mudança de preços afetaria a presença).
Está sendo citado, como exemplo, o fato de o Flamengo ter conquistado a Taça Guanabara em 2024 também na última rodada contra o Madureira, na presença de 63.422 torcedores, mais que o dobro do público contra o Maricá. Como os ingressos agora foram mais caros, a explicação estaria aí.
No entanto, naquele jogo o ingresso mais em conta custou R$ 50,00. Não cabe tanto especular sobre o que pode ter explicado o fenômeno, mas custo a crer que um aumento de menos de 15% acima da inflação explique uma queda de mais de 50% da presença.
Encontrar o equilíbrio entre arquibancada lotada e arrecadação compatível não é fácil, nunca foi. Porém, um bom caminho é ter mais racionalidade e menos paixão, mais debate e menos ideologia, mais reflexão e menos certezas.
Porém, de minha parte, tenho pelo menos uma certeza (e nisso me alinho plenamente ao protesto das Organizadas): haja o que houver, o setor mais barato do Maracanã precisa ser o Norte! Desde que o Maracanã foi criado, foi com o sol na cara, de costas para o Viaduto Oduvaldo Cozzi e à esquerda da Tribuna de Honra que a gente se acostumou a vencer.