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·6 June 2025

Notas: Acima de tudo um banho de benfiquismo

Article image:Notas: Acima de tudo um banho de benfiquismo

Ponto prévio: Esta é apenas a opinião de quem tem acompanhado, com atenção, todo o benfiquismo envolvente de uma candidatura.

João Noronha Lopes apresentou oficialmente a sua candidatura às eleições de 2025, perante uma massa de benfiquistas que se mobilizou de forma impressionante. De elogiar a capacidade de mobilização e a preparação cuidada do momento. Foi, sem dúvida, um salto qualitativo em relação às últimas eleições em que participou — mais investimento, mais atenção aos detalhes, mais profissionalismo. A mensagem ainda carece de afinação, mas isso é algo que poderá ser corrigido com o tempo. Em termos de benfiquismo e ligação emocional aos adeptos, o momento foi bonito e simbólico.


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Feito o justo elogio, que espero ver replicado com outros candidatos — porque isso significa que o Benfica continua vivo e forte —, passo à análise crítica da mensagem e da estratégia comunicacional.

Nesta fase inicial, o conteúdo do discurso não é ainda motivo de alarme. Tornar-se-á preocupante se, ao longo da campanha, for mantido o mesmo registo: frases feitas, promessas vagas e ausência de ideias concretas. Ontem, Noronha Lopes deu duas entrevistas a jornais desportivos que mais têm atacado o Benfica. Compreende-se a necessidade de comunicar, mas é pena que João Diogo Manteigas não tenha merecido igual destaque. Dá a sensação de que há já um candidato escolhido pela imprensa — e isso não é bom nem para o Benfica, nem para o próprio candidato.

O alinhamento estratégico das entrevistas — dois jornais, um discurso para os benfiquistas e uma entrevista televisiva com as mesmas frases — revelou pouco. Faltou aprofundar ideias, mostrar algo novo, alimentar a curiosidade dos sócios e adeptos.

João Diogo Manteigas tem feito o seu percurso sem ataques diretos, ao contrário de João Noronha Lopes. Enquanto um teve coragem para ir à CMTV e confrontar diretamente o canal, o outro parece preparar-se para seguir o mesmo guião das últimas eleições — ataques encomendados, humoristas desagradáveis, e momentos que mais dividem do que unem. Seria positivo que a campanha não voltasse a cair nesses erros.

Em resumo: subscrevo por completo a mensagem de liderança transmitida ontem. Concordo com as críticas à redução do quadro competitivo, à arbitragem, à comunicação institucional e à forma como o Benfica se deve posicionar no panorama desportivo. O Benfica é maior do que todos os outros juntos — e é tempo de todas as entidades, incluindo a imprensa, começarem a tratá-lo com o respeito que merece.

Não posso concordar com algumas declarações de João Noronha Lopes que considero populistas e, sobretudo, desinformadas.

Quando diz que “o Benfica tem de criar condições para manter os jogadores da formação três anos na equipa principal”, e que “tem condições financeiras para o fazer”, esquece — ou opta por omitir — que o clube já o faz há vários anos.

Basta recuar até 2015/16 e olhar para os factos:

  • Rúben Dias: 4 anos na equipa principal
  • Gonçalo Ramos: 4 anos
  • Gonçalo Guedes: 3 anos + 2 após regresso
  • Diogo Gonçalves: 4 anos
  • Florentino Luís: 5 anos
  • Gedson Fernandes: 3 anos
  • Ferro: 4 anos
  • Morato: chegou como júnior, está há 6 anos
  • Samuel Soares: 3 anos com minutos
  • Tiago Gouveia: 3 anos
  • António Silva: 3 anos
  • João Neves: 2 anos, com 75 jogos

Todos eles jogadores da formação, com jogos, minutos e integração contínua na equipa A. A política de valorização e permanência de talentos da casa tem sido real e consistente.

“Se o nosso rival tem capacidade para reter os seus dois melhores jogadores, ninguém me convence que o Benfica não tenha capacidade financeira para reter os seus melhores, principalmente os da formação e que devem estar connosco mais tempo.”

Estas declarações valeram nota do poligrafo

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Comigo será encarada de forma diferente. Quero que os jogadores tenham condições para evoluir para a equipa principal e tornarem-se ídolos do Benfica. Todos na estrutura devem ser avaliados pelo número de jogadores da formação que subam e que tenham sucesso na equipa principal.

Samu, Tomás Araújo, Florentino, Tiago Gouveia, António Silva, Leandro Santos, Adrian Bajrami, João Veloso, João Rego, Nuno Félix, Hugo Félix e Diogo Prioste são da formação. Todos jogaram e treinam na equipa principal.

João Noronha Lopes disse que é preciso uma presença regular nos quartos-de-final da Liga dos Campeões. Não disse mentira nenhuma. Mas importa olhar para os factos. Com Rui Costa, o Benfica já conseguiu:

  • 2 presenças nos quartos-de-final da Champions
  • 1 presença nos quartos-de-final da Liga Europa
  • 1 presença nos oitavos-de-final da Champions

No mandato anterior:

  • 2 presenças nos 16-avos da Liga Europa
  • 1 presença nos quartos-de-final da Liga Europa
  • 1 eliminação na fase de grupos da Champions

Não é ainda suficiente, mas há uma evolução clara e é importante que haja continuidade, não retrocesso.

Não pode dizer que o Benfica deveria ter falado mais cedo, no qual concordo: Defender o clube não é falar muito, mas sim quando se impõe. O Benfica deveria ter falado na altura própria, quer relativamente a outros presidentes, quer quando foi prejudicado pela arbitragem ou quando representantes do futebol português, como Pedro Proença, fizeram declarações sobre a valia do Benfica no contexto da centralizacão. Vimos comunicados que dizem muito pouco.

Para depois justificar-se quando falam da sua ausência: “É preciso que os benfiquistas percebam que ser ativo na defesa dos interesses do Benfica não é falar mais alto ou não é estar sempre à procura dos holofotes da televisão.”

É esta contradição que mina o discurso. Quer ser a voz firme, mas hesita sempre que chega a hora de concretizar.

Disse, em 2020, que faltava cultura democrática no Benfica. Ainda é um problema? JNL-Tem de haver mais transparência.

Terei uma pessoa com grande experiência no que é o crescimento internacional de uma marca. Quem? JNL-Não vou dizer nomes.

A transparência????

Se queremos uma alternativa credível, ela tem de assentar na verdade e na coerência. O Benfica precisa de líderes com ideias claras, coragem para as sustentar e, acima de tudo, com respeito pelos sócios — que merecem mais do que chavões e respostas vagas.

Os ataques nas redes sociais já se fazem sentir — não por ideias, mas porque uns apoiam o candidato A e outros o B.

Seria ótimo que se discutisse mais Benfica e menos insultos. Mais propostas, menos tribalismo.

E já agora, o argumento de “acabar com o vieirismo” morre hoje. Todos os candidatos (e quem os rodeia) estiveram ligados ao chamado vieirismo e recorrem às mesmas tácticas que tanto criticaram.

No meio disto tudo, ainda há os rivais que adoram meter o bedelho e agitar as águas.

Pela saúde do Benfica, debatam ideias. O resto é ruído.

Estes foram alguns dos exemplos que mais me chamaram a atenção. Foi, sem dúvida, um grande momento ontem — e espero sinceramente que outros candidatos consigam mobilizar os benfiquistas da mesma forma.

Quanto à mensagem, acredito que João Noronha Lopes ainda tem margem para melhorar. Mas para isso, será essencial largar as contradições e evitar as mensagens populistas que enfraquecem a credibilidade do seu discurso.

Que o debate continue — com respeito, com ideias e sempre com o Benfica em primeiro lugar.

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