«Na Islândia acordava às 5h para trabalhar na fábrica de peixe e depois ia treinar» | OneFootball

«Na Islândia acordava às 5h para trabalhar na fábrica de peixe e depois ia treinar» | OneFootball

In partnership with

Yahoo sports
Icon: Zerozero

Zerozero

·7 March 2025

«Na Islândia acordava às 5h para trabalhar na fábrica de peixe e depois ia treinar»

Article image:«Na Islândia acordava às 5h para trabalhar na fábrica de peixe e depois ia treinar»

O '4 Cantos do Mundo' é um podcast do jornalista Diogo Matos ao qual o zerozero se uniu. O conceito é relativamente simples: entrevistas a jogadores/ex-jogadores portugueses que tenham passado por pelo menos quatro países no estrangeiro. Mais do que o lado desportivo, queremos conhecer também a vertente social/cultural destas experiências. Assim, para além de poder contar com uma entrevista nova nos canais do podcast nos dias 10 e 26 de cada mês, pode também ler excertos das conversas no nosso portal.

Agora estabilizado na Bulgária, onde representa o Lokomotiv Sofia, Celso Raposo não teve um percurso fácil nas suas aventuras no estrangeiro. Depois do Pinhalnovense, e antes da experiência na Grécia em que chegou a ser ameaçado pelo diretor do seu clube, o lateral-direito esteve na 2ª divisão da Islândia, país do qual não guarda as melhores memórias.


OneFootball Videos


«No dia do primeiro treino assustei-me logo e eu nunca tinha jogado em clubes de topo. O treinador veio buscar-me e percebi que a equipa técnica era só ele, não havia preparador físico nem treinador de guarda-redes. Estacionámos, eu ajudei-o a tirar as bolas e perguntei-lhe, no meu inglês básico, onde era o campo. Ele apontou-me para 200 metros à frente e vi um terreno sem marcações, duas balizas sem redes e a relva alta. Para passar para o campo, tinha de saltar por cima de umas pedras numa espécie de nascente. Molhava sempre os pés. Para além disso, os balneários eram uma espécie de contentor, só servia para guardar as coisas porque ninguém tomava banho lá. Tentei perguntar ao treinador se ele precisava de ajuda... Resumindo, antes de começar a treinar fui encher bolas», começou por recordar.

A isto somou-se o  facto de o jogador português ter sido 'obrigado' a trabalhar fora do futebol no país nórdico.

«Na minha equipa quase toda a gente trabalhava fora do futebol. Eu e o Kundai Benyu, que tinha jogado Liga dos Campeões pelo Celtic - eu questionava-me o que é ele estava ali a fazer-, éramos os únicos que só jogávamos. No entanto, depois fomos os dois trabalhar porque a rotina quase que te obriga. A temperatura é sempre -10ºC/-15ºC, para andar de carro tens de estar constantemente a pôr água no vidro. Eu ia almoçar ao hotel, voltava para casa, dormia um pouco... Eu estava cansado de estar descansado. Ia treinar às 17h, os treinos eram horríveis», vincou, indo mais longe na explicação:

«Só pensava 'Onde é que me vim meter? Tenho de ir trabalhar, caso contrário o tempo não passa'. Falei com o presidente e acabei por ir para uma fábrica de peixe. Levantava-me às 5h da manhã, com temperaturas negativas e metiam-me logo com uma pá a meter gelo para uma máquina. Comecei a ver o futebol lá ao fundo, senti que a minha carreira de jogador ia acabar ali. Nós saíamos de manhã com as chuteiras, trabalhávamos o dia todo e depois saíamos para treinar. Chegávamos mesmo à risca para o início do treino.»

A saída do Vestri consumou-se pouco tempo depois e o lateral-direito acabou por rumar ao clube que agora representa.

Siga o '4 Cantos do Mundo':

  • Youtube
  • Spotify
  • Instagram
  • Tik Tok
  • Twitter
View publisher imprint