MundoBola Flamengo
·5 May 2025
João Félix surfou onda de talento promissor, mas pagou preço por não cumprir expectativas

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·5 May 2025
Alvo de interesse do Flamengo para a sequência da temporada, o meia-atacante João Félix é um daqueles nomes que surgem sob muitos holofotes e a certeza de que se tornarão astros mundiais. O grande problema é que a história nem sempre é assim.
Desde que era apenas um menino na base do Benfica, um dos maiores clubes de Portugal, João Félix era tratado como craque do futuro e recebia holofotes por onde passava.
Quando era mais novo, o jogador teve passagem pela base do Porto, outro dos grandes de Portugal, mas se fixou mesmo no Benfica — onde só fez uma temporada como profissional.
Na temporada 2018/2019, o português foi alçado definitivamente ao time principal do Benfica. Com todo o hype acumulado sobre o jogador, bastou um bom ano para que a primeira proposta milionária surgisse.
Negociado com o Atlético de Madrid, João Félix zarpou de Portugal com apenas 43 jogos pelo time profissional do Benfica, em que marcou 20 gols e deu oito assistências.
Nessa época, João Félix foi coroado vencedor do prêmio Golden Boy, destinado ao melhor jogador sub-21 da Europa. Desde então, craques do quilate de Haaland, Bellingham e Yamal levaram o troféu, além dos talentos Pedri e Gavi, do Barcelona.
A transferência ao time espanhol, porém, foi um divisor de águas na carreira do jogador, que se tornou o reforço mais caro da história do clube e a quinta negociação mais valiosa de todos os tempos do futebol àquela altura: € 127,2 milhões (R$ 548 milhões na cotação da época).
O problema é que João Félix entrou em uma situação completamente diferente no Atleti de Diego Simeone, time de proposta muito mais reativa e de menos arranques que o futebol do português. O resultado não foi bom.
Sem conseguir se firmar completamente, João Félix viveu de lampejos e sequências nem sempre tão longas. Naturalmente, pagou o preço e passou a ser tratado, pela primeira vez, como uma promessa que não vingaria.
De fato, no clube espanhol, não vingou. Fez 131 jogos, com 34 gols e 16 assistências, mas deixou sempre a sensação de uma notória falta de encaixe. Então, acabou emprestado ao Chelsea.
Na Inglaterra, João Félix viveu momentos bastante apagados e de pouco protagonismo. Não à toa, fez apenas 20 jogos na temporada inteira, o que acabou fazendo com que fosse emprestado novamente.
Ainda gerando dúvidas sobre o nível do próprio futebol, João Félix seguiu contando com credibilidade no mercado da bola e foi alocado no Barcelona. Na Catalunha, fez a temporada mais prolífica em gols desde 2021/2022, com 44 partidas, dez tentos e seis assistências em 2023/2024.
Não são números de grande destaque, porém, e o Barcelona não optou por comprá-lo. Durante todo este tempo, a relação com o time que detinha seu passe, o Atlético de Madrid, não era nada boa.
Entre entrevistas em que dizia ser mais feliz jogando por Portugal e as aparições de altos e baixos, João Félix chegou a manifestar publicamente a vontade de ir para o Barcelona antes de fechar contrato.
Procurando desesperadamente uma forma de recuperar parte do investimento, o clube espanhol conseguiu vender João Félix ao Chelsea por € 54 milhões (R$ 323 milhões na época) em 2024. O valor é cerca de 2,5 vezes menor do que o Atleti pagou ao Benfica.
A história, entretanto, mais uma vez se repetiu. Em um Chelsea também marcado por um elenco inchado, João Félix não teve o retorno que se esperava e partiu para o Milan, ainda na temporada 2024/2025. Até o momento, já atuou em 17 jogos e marcou um gol pelo time italiano.
Todo o hype colocado nos ombros de João Félix acabou sendo responsável, também, por fazer com que o português tenha passado a ser visto como um exemplo de atleta superestimado.
Na era da internet e, principalmente, das redes sociais, em que lances viralizam e se espalham em segundos, a cobrança sobre os jovens jogadores aumenta e a expectativa vai acompanhando.
Mais à frente, se o atleta não desempenha aquilo que é esperado dele, a maré vira e os elogios viram críticas sobre algo que não se consolidou. No fim, o jogador vira uma espécie de vítima da própria esperança que criou.
Nem tudo é negativo e, para uma carreira de tantas passagens em grandes clubes da Europa, nem poderia ser assim. Ao longo desse tempo, João Félix manteve a esperança de que pode se tornar um grande jogador, ainda que apenas em lampejos.
Naturalmente, o período no Benfica se destaca, já que a primeira temporada do jogador como profissional segue como a melhor carreira até hoje. A média de quase um gol a cada dois jogos nunca mais foi alcançada.
Claro que a força do futebol português pesa em relação aos concorrentes, mas a sensação também é de que o atleta atua melhor quando acolhido. Foi assim em Portugal, e o exato oposto aconteceu na Espanha.
Entre as principais características, João Félix tem a finalização e os dribles, com boa agilidade e movimentação. Não é um armador clássico, mas tem capacidade nos passes e vê bem o jogo.
Por outro lado, deixa um tanto a desejar no um contra um e principalmente na parte defensiva, tanto em termos técnicos quanto de energia. O ideal é que fosse uma espécie de segundo atacante, já que não é um armador em si e nem um camisa 9.
Trata-se de uma posição, no entanto, que requer alguns sacrifícios organizacionais que os times da Europa não estão dispostos a fazer. Para ocupá-la, é necessário fazer grande diferença.
Presença constante na seleção portuguesa, também conseguiu brilhar em ocasiões no Barcelona, mas foi considerado titular em poucos períodos, mais notoriamente entre setembro e novembro de 2023. No fim da passagem, raramente iniciava partidas.
Talentoso, porém não tanto quanto se esperava, João Félix é o reflexo de um mundo apressado e que não tem receio de descartar um aclamado talento pelo próximo, caso este primeiro não vingue rapidamente.
As passagens pelos grandes times da Europa e os 25 anos de idade mostram o quanto João Félix caminhou em pouco tempo e o quão novo surgiu para o futebol.
O fato é que, até hoje, não conseguiu mostrar o que se esperava, apesar de contribuir em campo e se manter como nome constante na seleção. É um jogador com algo a agregar, mas que ainda não conseguiu se tornar um bom negócio para os clubes que o contrataram.