FK Sloboda: a equipa bósnia que mandou embora metade do plantel e continua sem vencer | OneFootball

*com Rodrigo Costa

Ao longo da presente época, o despedimento de treinadores e a rescisão de jogadores têm sido um 'prato habitual' dos principais escalões do futebol português. Mas imagine, por um momento, uma equipa sem vitórias após 18 jogos, num cenário que leva um presidente a despedir toda a equipa técnica e metade do plantel e a reconstruir a equipa em mês e meio.

Parece um cenário de filme, quase surreal, certo? Na verdade, trata-se de um filme bem real e está a acontecer na primeira divisão da Bósnia e Herzegovina, com o FK Sloboda.

Recém-promovido ao topo do futebol bósnio, o FK Sloboda vive um verdadeiro pesadelo. O emblema de Tuzla despediu o primeiro treinador da época ao cabo de nove jornadas, isto depois de Marko Maksimovic ter somado dois empates e sete derrotas.

Histórico duro que afastou o técnico, mas que não surtiu efeito na equipa. Depois da 17ª jornada, em dezembro de 2024, o clube, então com Zlatan Nalic como técnico, continuava com os mesmos dois pontos arrecadados. A isto somava-se os cinco golos marcados, os 36 sofridos e, de forma natural, a última posição na tabela classificativa.

Insatisfeito com a situação, Azmir Husic, presidente do clube, não teve travão na hora de tomar decisões duras.

16 jogadores disseram adeus

O dirigente convocou uma conferência de imprensa onde anunciou a despedida não só do treinador, como também da restante equipa técnica e dos próprios jogadores, deixando a estes últimos uma segunda possibilidade.

«Alguns jogadores podem continuar, mas terão de rescindir de forma voluntária antes de assinarem novos contratos, com salário mais baixos e de acordo com a realidade que atravessa o clube», explicou Azmir Husic.

A brusca e espantosa decisão levou a que o Sindicato de Jogadores da Bósnia se visse obrigado a pedir aos atletas para não alinharem no pedido de forma a não saírem prejudicados. Perante isto, houve 16 (!) jogadores a sair de um plante inicialmente composto por 36 atletas.

Parte significativa das saídas foi de jogadores estrangeiros, que entretanto já arranjaram novos clubes no mesmo campeonato ou em equipas de países próximos, como a Croácia ou a Sérvia. Olhando para os que se mantiveram no Sloboda, há um velho conhecido do futebol português: Ahmed Said, ex-atleta do Rio Ave e do Olhanense.

Após a paragem de cerca de mês e meio, o emblema bósnio apenas encontrou sete reforços para colmatar as saídas, todos eles a custo zero, como seria de esperar.

À conversa com o único português do campeonato

Pois bem, estas mudanças drásticas não surtiram efeito, isto na medida em que, no primeiro jogo após a tal paragem de mês e meio- disputado esta sexta-feira, o Sloboda perdeu por 1-0 frente ao Igman Konjic

Ora, o único jogador português da Premijer League, Aires Sousa, chegou no mercado de inverno precisamente ao FK Igman Konjic.

Em conversa com o zerozero antes do encontro, Aires deu a conhecer uma nova perspetiva do assunto: «Quando vi a classificação fiquei estupefacto pois não é normal uma equipa ter dois pontos nesta altura, mas a mensagem que os meus colegas me passaram foi de que, apesar dos dois pontos, o Sloboda não se trata de uma equipa que espelhe em campo a situação da tabela.»

O avançado, de 26 anos, viu recentemente um dos companheiros de equipa sair para reforçar o Sloboda e levantou possibilidades para este tipo de ocorrências: «É um jovem que não devia ter muitos minutos e ir para lá [Tuzla] é uma maneira de poder ter tempo de jogo e voltar a crescer com alguns golos.»

Com uma média de idades de cerca de 23 anos, os sete reforços do último classificado procuram assim um palco que os permita brilhar e saltar para grandes competições europeias.

«O campeonato aqui tem grande qualidade e tem grande proximidades com os campeonatos da Sérvia e da Croácia, onde jogam equipas como o Crvena Zvezda ou Dinamo Zagreb» acrescentou o atleta luso, explicando as alternativas abertas aos jovens da competição.

Para já, Aires Sousa ainda não se estreou, mas a verdade é que o Igman Konjic prolongou o mau momento do Sloboda.

A redenção como miragem

Igor Jankovic, novo treinador da formação de Tuzla, falou na última semana aos meios de comunicação da Bósnia. «Os jogadores que chegaram no início da época têm todos os assuntos resolvidos com a administração do clube», começou por dizer.

«Temos alguns atletas com mais experiência, mas a maior parte tratam-se de jogadores jovens. Apesar do tempo de preparação limitado, acredito que conseguimos atingir resultados muito positivos, que podem mudar o que falta de época», acrescentou o ex-técnico dos sub-21 da seleção bósnia.

Para agradar à equipa, que conta com muitos adeptos sérvios devido à proximidade fronteiriça, Jankovic terá de realizar um trabalho semelhante ao de Miroslav Blazevic, que não só conduziu a Croácia ao terceiro lugar no Mundial de 1998, como também orientou o Sloboda.

Na altura com 79 anos e próximo de se despedir do futebol, o técnico croata pegou na equipa a meio da época e concretizou a promoção com um registo de 13 vitórias e um empate em 15 jogos- admitimos que este registo é difícil para Jakovic.

De qualquer forma, agora a par da situação, resta-nos esperar para ver o que o Sloboda conseguirá fazer no que falta jogar da temporada.