
Calciopédia
·25 June 2025
Com show de seus holandeses, o Milan bateu o Olimpia e faturou seu terceiro Mundial, em 1990

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·25 June 2025
Na transição entre as décadas de 1980 e 1990, nenhum time do planeta era tão forte quanto o Milan de Arrigo Sacchi, embalado pelo trio holandês formado por Frank Rijkaard, Ruud Gullit e Marco van Basten. Naquela época, a mitológica equipe rossonera foi bicampeã da Europa, em 1989 e 1990, e também se tornou vitoriosa em nível intercontinental duas vezes, nos mesmos anos citados, ao bater o Atlético Nacional e o Olimpia. Com o triunfo sobre os paraguaios, aliás, o clube italiano se tornou o primeiro europeu a alcançar o tri mundial.
O Olimpia, rival do Milan no confronto realizado em Tóquio, atravessava uma fase extraordinária. Em 1989, chegou muito perto da glória, mas foi derrotado nos pênaltis pelo Atlético Nacional, da Colômbia – que, meses depois, cairia diante dos italianos no Japão. No ano seguinte, El Decano se reergueu e venceu o Barcelona de Guayaquil, conquistando o principal troféu sul-americano. Naquele período, o time do Paraguai contava com alguns dos maiores atletas de sua trajetória, entre eles os atacantes Adriano Samaniego (máximo goleador da campanha de 1990) e Raúl Amarilla (eleito Rei da América naquele mesmo ano), além do arqueiro Ever Almeida – considerado por muitos o maior símbolo do clube graças às conquistas da Taça Libertadores em 1979 e 1990, somadas à Copa Intercontinental erguida no fim da década de 1970.
O time de Sacchi dispensava apresentações. Era o “Milan dos holandeses”, que já conquistara a Europa e o mundo, de modo que teve o direito de ir ao Japão para defender o título da Copa Intercontinental após superar o Benfica na Copa dos Campeões. A base rossonera era a mesma do ano anterior, com jogadores como os italianos Mauro Tassotti, Alessandro Costacurta, Franco Baresi, Paolo Maldini e Roberto Donadoni, além dos já citados neerlandeses.
Van Basten e Gullit chegaram a ser dúvidas de Sacchi para a viagem ao Japão, já que haviam sentido algumas dores musculares no jogo contra o Lecce, pela Serie A – o último dos rossoneri antes da Copa Intercontinental. Os meias Carlo Ancelotti e Alberico Evani (autor do gol que deu ao Milan o título no ano anterior) se lesionaram contra os salentinos e não iriam a campo em Tóquio. Angelo Carbone e Giovanni Stroppa foram escalados em seus respectivos lugares.
Van Basten não marcou, mas aniquilou a defesa do Olimpia (AFP/Getty)
Diante dos olhos de pouco mais de 60 mil espectadores, a partida também teria um pouco de Brasil, visto que seria apitada por José Roberto Wright. O árbitro já era conhecido pelos italianos, por ter sido escalado para a Copa do Mundo de 1990, realizada na Itália. Inclusive, o carioca ficou responsável pelo jogo de estreia dos azzurri – uma vitória por 1 a 0 sobre a Áustria.
Em busca do segundo título intercontinental consecutivo, e podendo se igualar a Peñarol e Nacional como maior campeão do torneio, com três taças, o Milan era favorito. A tendência era de que já começasse atacando, e assim foi: o time rossonero dominou a fração inicial da peleja, principalmente com Gullit sendo ativado pela direita, dando a entender que seriam 90 longos minutos para a defesa paraguaia.
Entretanto, com 10 minutos de partida, o Olimpia também se fez vivo. Após uma sobra de escanteio, o lateral Virginio Cáceres mandou um belo chute de primeira por cima do gol defendido por Andrea Pazzagli. Antes dos 15, o Milan já havia tentado algumas jogadas ensaiadas, tanto em escanteios quanto em uma falta, batida por Donadoni, mas demonstrando um pouco de falta de lucidez para finalizar os lances da melhor forma. Isso se repetiu em seguida, quando Van Basten não foi bem no arremate e desperdiçou um erro de Silvio Suárez ao tentar afastar a bola.
Aos 22 minutos, o ainda jovem (e ainda lateral) Maldini invadiu a área pela esquerda e sofreu uma duríssima entrada por parte de Mario Ramírez, pedindo pênalti. Wright mandou seguir, mas, após algum tempo de atendimento, o italiano foi substituído e deu lugar a Filippo Galli. No fim das contas, o craque fraturou a clavícula direita e desfalcou o Diavolo por cerca de dois meses. Logo após a saída da futura bandeira rossonera, o Olimpia teve uma boa chegada com Samaniego, que finalizou de maneira central e obrigou Pazzagli a espalmar.
Em Tóquio, o trio holandês do Milan foi comandado por Van Basten e Rijkaard, uma vez que Gullit teve atuação mais discreta (AFP/Getty)
O jogo ia se desenhando com o Milan se impondo, principalmente na posse de bola, mas com poucas finalizações e sem conseguir concluir suas jogadas. Do outro lado, o Olimpia parecia conseguir desfrutar melhor de suas raras chances – tendo, efetivamente, levado mais perigo aos adversários. Aos 36 minutos, os paraguaios voltaram a desperdiça uma boa chance com Amarilla, que ficou com a pelota depois de um arremesso longo do goleiro Almeida e de cabeceio preciso de Samaniego. O arqueiro italiano negou o gol aos sul-americanos num lance cara a cara e, em seguida, a zaga rossonera, com um chutão, mandou para escanteio a melhor oportunidade da partida até aquele momento.
Por volta dos 40 minutos, o Olimpia ganhava mais confiança na partida e se lançava com mais frequência ao ataque. Pelo flanco direito, o lateral Cáceres se destacava como o principal nome dos sul-americanos. O Milan, por sua vez, quando conseguia manter a posse, seguia finalizando sem lucidez e desperdiçando jogadas bem construídas – a maior parte delas orquestradas pelo célebre trio holandês. Aos 43 minutos, Gullit ficou com a bola após sobra de escanteio, executou algumas fintas e, da direita, cruzou com precisão na cabeça de Rijkaard. O volante apareceu entre dois defensores, subiu com firmeza e balançou as redes. O gol surgiu no momento em que o confronto começava a se mostrar complicado para os europeus e levou o Diavolo com vantagem mínima ao intervalo. Os paraguaios, por outro lado, pareciam ter sentido o baque e demonstravam certo abatimento ao terem sido vazados em seu melhor momento no jogo.
Na volta para o segundo tempo, a equipe italiana manteve o mesmo ritmo e, logo aos 47 minutos, criou perigo com um chute forte e rasteiro de Carbone, que passou à esquerda do gol defendido por Almeida. Em seguida, o Olimpia realizou uma troca: Ramírez, ainda sentindo as consequências de um choque com seu próprio goleiro, deu lugar a Herib Chamas. Aos 52 minutos, Van Basten aplicou um belo drible e finalizou por cima da meta, sinalizando que os rossoneri não recuariam. Pouco depois, aos 54, Stroppa apareceu pela primeira vez com mais protagonismo na partida, ao receber do craque holandês e arriscar um arremate que saiu pela linha de fundo.
O Milan controlava o ritmo da partida, ainda que não pressionasse com intensidade. Entre cruzamentos e toques curtos, administrava o placar com paciência, esperando o momento certo para ampliar. O que ocorreria aos 62 minutos: Van Basten recebeu de Tassotti um ótimo passe em profundidade pela direita, entrou na área, fintou de uma vez só Remigio Fernández e o goleiro Almeida, para na sequência disparar um chute que foi desviado pelo próprio zagueiro e bateu na trave. A bola sobrou quase sobre a linha, onde Stroppa, bem posicionado, apenas empurrou para o fundo das redes, anotando o segundo gol italiano.
Com dois gols marcados, Rijkaard foi eleito como melhor em campo na decisão com o Olimpia (imago/Buzzi)
O terceiro gol rossonero não demorou a sair. Aos 65 minutos, após erro na saída de bola do Olimpia, devido à pressão de Rijkaard, Van Basten ficou com a pelota, se livrou da marcação de Fernández e, já atento ao fato de que Almeida estava jogando adiantado, arriscou uma cavadinha da entrada da área. A tentativa do craque novamente ficou na trave – e mais uma vez a bola voltou para um jogador do Milan. Desta feita, foi Rijkaard, que já havia acelerado do meio-campo, onde roubara a posse, para se infiltrar na área paraguaia. De peixinho, o craque anotou seu segundo tento no confronto, decretando o 3 a 0.
Logo após o terceiro tento, os paraguaios tentaram reagir com nova substituição: o atacante Cristóbal Cubilla entrou no lugar do meia Adolfo Jara. O Olimpia ameaçou logo em seguida, aos 68 minutos, quando cruzamento preciso de Cáceres, em cobrança de falta, encontrou a cabeça de Amarilla, que obrigou Pazzagli a ceder escanteio com uma boa defesa. A resposta do Milan veio com velocidade: em contragolpe puxado por Gullit, Donadoni chutou com força e viu Almeida defender de forma brilhante. No rebote, Stroppa finalizou de primeira, mas o goleiro voltou a salvar o time sul-americano. Após o corner, Van Basten fez jogada individual e levou perigo com um disparo cruzado.
Mesmo com o marcador adverso, os paraguaios não desistiram e, aos 70 minutos, Samaniego acertou um belo chute de longa distância, exigindo mais uma defesa difícil de Pazzagli, que desviou para escanteio. O Milan, porém, fazia valer a sua superioridade técnica sempre que atacava. Na casa dos 76, Van Basten, continuamente ativo, surgiu livre pela esquerda, cara a cara com Almeida. Mais uma vez, o arqueiro teve que fazer uma ótima intervenção e evitou o quarto gol italiano.
Aos 79 minutos, o Olimpia quase conseguiu seu gol de honra. Luis Monzón, acionado pela esquerda por Amarilla, encobriu Pazzagli com uma cavadinha que buscava Samaniego ou Cubillas, mas a bola foi interceptada por Baresi, que afastou o perigo na pequena área. Pouco depois, os papéis se inverteram no ataque paraguaio e o camisa 10 encontrou o Rei da América, que bateu forte, porém por cima da meta. Acabaria sendo a última oportunidade da partida, que não reservou mais emoções em sua reta final. Depois de modestíssimos acréscimos, Wright encerrou o confronto, selando o terceiro título de Copa Intercontinental para o Milan.
Enquanto a delegação milanista comemorava no gramado do estádio Nacional de Tóquio, Baresi alçava ao céu mais uma taça. O Milan de Sacchi, dos holandeses e da sólida defesa italiana, formada por bandeiras de sua história, como o já citado capitão, além de Tassotti, Maldini e Costacurta, era bicampeão europeia e mundial de forma consecutiva, comprovando sua supremacia naquele momento. Seria o último título da gestão do Mago de Fusignano, que acertaria com a seleção italiana em 1991 e abriria caminho para que Fabio Capello construísse outro lendário esquadrão no lado vermelho e preto da capital da Lombardia.
Milan: Pazzagli; Tassotti, Costacurta, Baresi, Maldini (Galli); Donadoni (Gaudenzi), Carbone, Rijkaard, Stroppa; Gullit, Van Basten. Técnico: Arrigo Sacchi. Olimpia: Almeida; Cáceres, Ramírez (Chamas), Fernández, Suárez; Balbuena, Guasch, Jara (Cubilla); Monzón; Samaniego, Amarilla. Técnico: Luis Alberto Cubilla. Gols: Rijkaard (43’ e 65’) e Stroppa (62’) Melhor em campo: Rijkaard Árbitro: José Roberto Wright (Brasil) Local e data: estádio Nacional, Tóquio (Japão), em 9 de dezembro de 1990