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·17 June 2025

Calote, camarotes e Água Santa: empresário desabafa sobre negócios com Augusto Melo no Corinthians

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Augusto Melo, durante entrevista coletiva em setembro de 2024, apontou Igor Zveibrucker como “um grande amigo”. Na ocasião, o então presidente do Corinthians reconheceu ter recorrido ao empresário gaúcho para custear as transferências de Matheuzinho e Rodrigo Garro. “Pagamos com o menor juros de todos. Ele não tem vínculo com o Corinthians, nos emprestou e nos ajudou para sanar as nossas contas”, explicou Augusto à época.

Agora, Igor Zveibrucker quer entender como vai receber o que o Corinthians deve a ele, já que Augusto Melo fora afastado do cargo por irregularidades no pagamento de comissão pelo contrato com a VaideBet.


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Na última semana, Igor insistiu por um encontro com Armando Mendonça, vice-presidente do clube. A reunião aconteceu no escritório do empresário, em Porto Alegre, durante a visita da equipe alvinegra ao Sul por causa da partida diante do Grêmio, pelo Campeonato Brasileiro.

Igor não só questionou Armando sobre os valores devidos como também aproveitou a situação para desabafar e revelar o relacionamento e as negociações que tivera com Augusto Melo desde o período eleitoral, quando Augusto ainda era apenas um candidato à presidência.

“O encontro que tive com o empresário Igor — a seu pedido para falar sobre questões envolvendo o SCCP — foi absolutamente institucional, republicano e legítimo. Ao contrário do que pessoas má intencionadas dizem, não houve segredo algum. Aliás, importante aclarar que Vinícius Cascone não intermediou nenhum encontro. Estive acompanhado de uma terceira pessoa justamente para garantir lisura e evitar qualquer interpretação maliciosa. Por isso, mais uma tentativa frustrada de quem insiste em querer prejudicar o SCCP. Como vice-presidente, tenho o dever de zelar pela integridade do clube, especialmente quando surgem informações de interesse do SCCP e que podem comprometer o patrimônio e a imagem da instituição”, disse Armando Mendonça à Gazeta, incomodado com a pressão que sofreu no Parque São Jorge por ter se reunido com Igor fora da agenda oficial.

“É necessário esclarecer, com absoluta firmeza, que há uma tentativa orquestrada de distorcer os fatos para manchar minha reputação e desestabilizar a gestão provisória do Osmar Stabile junto ao Sport Club Corinthians Paulista (…) Sou vice-presidente eleito desta instituição e jamais me omitirei diante de atitudes que coloquem o Corinthians em risco. Continuarei, com respaldo integral do presidente Osmar Stábile, colaborando com todos os departamentos que necessitarem de apoio. Esse é o meu papel, e assim continuarei agindo. Tenho testemunhado de perto a seriedade com que o presidente Osmar tem conduzido o clube neste momento de crise. Aqueles que tentam criar divisões e plantar desconfiança entre nós perderão seu tempo: sou e serei leal ao presidente Osmar, porque confio em suas intenções e reconheço seu compromisso com o bem do clube”, completou o vice-presidente.

DÍVIDA E RCE

A Gazeta Esportiva teve acesso ao conteúdo do que foi conversado na reunião entre Igor Zveibrucker e Armando Mendonça. Em dado momento, o empresário buscou entender como vai receber os mais de R$ 4 milhões que o clube ainda deve a ele.

“Deixei claro, de forma categórica, que não havia qualquer possibilidade legal de o Corinthians intervir, uma vez que o crédito dele está submetido ao Regime Centralizado de Execuções (RCE) e deve seguir o plano aprovado pela Justiça”, explicou Armando à reportagem.

“Em relação às questões financeiras referentes ao empresário Igor Zveibrucker, bem como a finalidade do empréstimo, trata-se de um assunto em apuração pela atual gestão”, informou o clube, em nota.

Ainda segundo o clube, o valor atualizado desta dívida é de R$ 4.398.754,34, porém, a atual diretoria ainda não encontrou contratos nos arquivos, o que levanta a suspeita de que Augusto Melo pode ter feito negócios que não foram colocados no papel ou, pelo menos, apresentados.

“A gestão do presidente Augusto Melo teve muita dificuldade financeira, principalmente no início de 2024, quando tinha inúmeros salários atrasados e uma debandada de jogadores. Os empréstimos adquiridos estão todos no balanço de 2024, que foi apresentado aos órgãos fiscalizadores do Corinthians, como tudo que foi feito no ano de 2024 (…) Vale salientar que a dívida com o empresário citado está dentro da RCE feita no final de 2024”, apontou Augusto Melo, por meio de nota enviada por sua assessoria.

CAMAROTES DA ARENA

Segundo Igor Zveibrucker, o Corinthians não tinha dinheiro para arcar com os pagamentos devidos a ele e, por isso, Augusto Melo, pessoalmente, ofereceu dois camarotes da Neo Química Arena para que houvesse um abatimento dos valores.

Um dos camarotes, o de registro 629, ficou à disposição de Igor desde o ano passado, e o camarote 630 a partir desta temporada. O custo de ambos neste período seria de R$ 2,048 milhões no total, mas também houve uma concessão de desconto, que reduziu o valor para R$ 1,335 milhão.

“Pelo que foi apurado, o empresário em questão se utiliza de dois camarotes na Neo Química Arena sem contrato firmado e sem pagamentos identificados por motivos que até o presente momento a atual gestão desconhece. Esse cenário está sendo objeto de apuração interna”, explicou o clube, em nota.

“Informei, com a mesma clareza, que isso é inaceitável: nenhum camarote pode ser cedido sem contrapartida financeira, mesmo com abatimento de seu eventual crédito, pois isso fere as normas internas, a moralidade administrativa e o próprio plano de recuperação que aguarda ser homologado”, afirmou Armando Mendonça, antes de emendar outras providências.

“Diante desses relatos, por zelo à instituição, consultei imediatamente nosso departamento jurídico, que já está adotando providências para recuperar os valores indevidamente envolvidos na cessão dos camarotes. Além disso, solicitei para nosso jurídico que Augusto Melo seja formalmente responsabilizado por lesar o patrimônio do clube — fato que, em tese, configura mais um fundamento para pedido de impeachment, o que deve ser oportunamente formulado”.

Augusto Melo, por sua vez, transferiu a responsabilidade para os departamentos envolvidos no tema.

“Todas as negociações de camarotes são feitas pelo comercial/mkt da Neo Química Arena, aprovado por eles, o jurídico do Corinthians que passa a cuidar do tema para fazer contratos etc. O Igor, por ser credor do clube, tinha uma negociação para que os valores fossem abatidos da dívida que o Corinthians tem com o empresário, porém essa negociação estava sendo feita com os departamentos competentes e não teve a finalização até o dia da reunião que definiu o afastamento de Augusto Melo. Todas essas informações podem ser recebidas pela diretoria interina”, comunicou a assessoria do presidente afastado.

JOGADOR DO ÁGUA SANTA

Em abril de 2024, o Corinthians fez um acordo com o Água Santa e contratou o meio-campista Luiz Eduardo para a equipe Sub-20. O contrato firmado vai até dezembro de 2029.

À época, o Corinthians informou que cada clube ficou com 50% dos direitos econômicos da jovem promessa, e não houve qualquer adendo sobre o custo da operação.

Entretanto, durante a reunião com Armando Mendonça, Igor Zveibrucker revelou que o Corinthians se comprometeu a pagar R$ 3,5 milhões ao clube de Diadema pela operação.

Ainda segundo o relato do empresário, houve muita pressão para que ele ajudasse, pois os dirigentes corintianos estavam receosos com as consequências de um não cumprimento do acordo, principalmente sobre Marcos Boccatto.

Boccatto é presidente de honra do Água Santa e, na gestão Augusto Melo, era remunerado pelo cargo de Superintendente de Novos Negócios.

Igor Zveibrucker disse que aceitou ajudar, mas, que congelou os pagamentos após ter recebido a informação de que Boccatto poderia estar recebendo parte do valor. Ficaram R$ 750 mil pendentes. Segundo Igor, Boccatto, inclusive, estaria pressionando ele a fazer este último repasse, algo que também deixou o empresário receoso.

“Eu nunca investi em jogador nenhum no Corinthians, porque isso não fazia parte do meu escopo de trabalho. Não fiz parte de negociação nenhuma com o Igor ou com qualquer outro empresário ali, portanto, não há o que se cobrar deste ou de outro que alega que tenha algo comigo. Meu trabalho era institucional e eu estava no CT para ajudar de forma administrativa. Desde o início do meu contrato, tudo foi tratado sem envolvimento em qualquer negociação, seja de atletas, seja de funcionários ou algo fora da minha alçada”, rebateu Marcos Boccatto ao ser procurado pela reportagem.

Augusto Melo, por meio de sua assessoria, afirmou que “não tem conhecimento” e “quem deve responder são as pessoas envolvidas”.

Valmir Costa, então diretor adjunto na base do Corinthians e que, segundo Igor, participou da decisão do clube adquirir o jogador, afirmou não ter nenhum conhecimento sobre os fatos relatados pelo empresário. O mesmo fez Claudinei Alves, então diretor da base, em nota enviada à Gazeta.

“Essa informação sobre o Igor é nova pra mim, não tenho ciência disso. Jamais chegou pra mim isso. Minha participação foi a seguinte: estivemos em um jogo contra o Água Santa (time profissional), Campeonato Paulista 2024, aí já tínhamos as informações sobre o atleta, onde o presidente Augusto falou do interesse e eu concordei, já que não haveria nenhum valor envolvido, e fizemos a Proposta de 70/30, mas a Água não concordou. Isso levou uns 90 dias até que chegamos em um acordo de 50/50, mas em nenhum momento fiquei sabendo de alguma interferência do Igor nisso (…) Geralmente, pode ter uma cláusula de intenção de compra de algum percentual a mais do atleta em determinado tempo de contrato, mas não me recordo se teve ou não essa cláusula , aí o clube vê se vale a pena ou não adquirir o percentual”.

O Corinthians, por meio de nota, também se manifestou.

“O clube não tem ciência do fato envolvendo o possível recebimento de recursos por Marcos Boccatto e ressalta que, se comprovado qualquer prejuízo ou conduta inadequada que transgrida as normas regimentais e estatutárias do Corinthians, as medidas jurídicas cabíveis serão adotadas tanto na esfera administrativa, cível ou criminal, se for o caso”.

DINHEIRO NA CAMPANHA

Igor Zveibrucker revelou a Armando Mendonça que ajudou na campanha que culminou com a vitória de Augusto Melo na última eleição do clube. Conforme dito pelo empresário, o próprio Augusto, acompanhado de Valmir Costa, foi ao encontro dele para pedir ajuda.

O empresário contou que, ao perceber que Augusto Melo era o favorito a vencer o pleito e pelo interesse pessoal de fazer negócios com o Timão, topou colaborar. Igor Zveibrucker passou a pagar brindes, bebidas e diversos tipos de despesas que a campanha tinha ao oferecer presentes e festas aos associados do Parque São Jorge. As notas eram enviadas e ele arcava com as despesas, apostando em uma aproximação caso Augusto Melo se tornasse presidente.

“Quem fazia a coordenação da campanha eleitoral do Augusto era Marcelo Mariano, o Marcelinho, e Rubens Gomes, mais conhecido como Rubão, e até onde Augusto tem conhecimento, nada foi oferecido como uma moeda de troca”, afirmou a assessoria de Augusto Melo.

MAIS REVELAÇÕES

Igor Zveibrucker, em pouco mais de 1h30min de reunião com Armando Mendonça, também revelou que foi o responsável pelo acordo firmado entre o clube e a Brax, apesar de, segundo ele, toda a comissão ter ficado com Carlos Leite; afirmou ter sido ele o responsável pelo envio da proposta de empréstimo com opção de compra do Montpellier, da França, por Gui Negão, jogador que ele detém parte dos direitos econômicos; contou que se recusou a ajudar com pagamentos a advogados de Augusto Melo neste momento; e disse que foi ‘abandonado’ por Augusto ao esclarecer que gostaria de fazer negócios como intermediário, para ganhar dinheiro de maneira transparente e limpa, e levar bons negócios ao clube.

A assessoria de Augusto Melo disse, em nota que “as despesas de advogados para o processo que Augusto está passando nunca foram tema de conversa com o empresário citado na matéria”.

Igor Zveibrucker foi procurado pela Gazeta, mas não respondeu aos questionamentos. Caso o faça, este texto será atualizado.

“Não serei omisso diante de irregularidades. Não serei cúmplice de quem trata o clube como propriedade pessoal. O Corinthians pertence à sua torcida, à sua história e à sua grandeza — e é por ela que continuaremos lutando”, afirmou Armando Mendonça à Gazeta após ser procurado para explicar a participação dele na reunião com o empresário.

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