Zerozero
·25 October 2023
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·25 October 2023
Cantinho do Morais.
Não é preciso dizer mais nada. A expressão vive por si, isolada, marca dourada na página do Sporting e do ludopédio nacional.
O zerozero tem, de resto, um especial para eternizar o momento. Pode lê-lo AQUI e viajar imediatamente até Antuérpia.
Antuérpia? O mundo é pequeno. Então não é nesse mesmo Bosuilstadion, que dá novos mundos ao Sporting em 1964, que o FC Porto joga nesta quarta-feira à noite?
Nada como ligar a Alexandre Baptista, elegante defesa central dessa garbosa equipa leonina, e fazer-lhe a pergunta sacramental:
- Senhor Alexandre, e Antuérpia, que tal?
«No dicionário sportinguista, João Morais significa esforço, dedicação, devoção e glória. E traduz-se na Taça das Taças. O golo do título é obra de Morais. Na jogada mais improvável de todas.»
A definição é da autoria de Rui Miguel Tovar, no Dicionário Sentimental de Futebol. Verbaliza a urgência de conhecer a personagem, saber mais.
Tudo em Antuérpia. «Já há alguns anos que não me falavam dessa cidade», brinca Alexandre Baptista, 82 anos mais do que joviais, defesa central titularíssimo desse Sporting europeu, cinco jogos por Portugal no Mundial de 1966, um gigante.
«Basta dizer a palavra e já estou aqui a sorrir. Antuérpia. Ora bem, Antuérpia para o Sporting é tudo. Ficámos vaidosos e famosos, quando antes ninguém nos conhecia fora do nosso país.»
As memórias do senhor Alexandre saltitam de momento em momento, sem necessidade de questões frívolas. Há uma mente cheia de vida.
«Em Bruxelas não saímos do empate, na primeira final. Dois dias, depois repetimos o jogo no Bosuilstadion. Hoje fala-se de cansaço e nós em 48 horas fizemos duas finais.»
Longe da era dos gadgets e da tecnologia fria, Alexandre Baptista recorda «as caminhadas pelo centro de Antuérpia» e a música escutada em grupo.
«Sentávamo-nos num jardim, a ouvir gira discos. Conversávamos, alguns fumavam, só evitávamos cervejinhas antes dos jogos. Isso não. O estágio já foi bem organizado, o hotel era muito arranjadinho, não havia nada a apontar. Ninguém nos chateava.»
Cantinho do Morais.
Até a uma música teve direito,
«A terra estremeceu e verde se tornou o sonho aconteceu um golo só bastou Um golo do Morais que não esquece mais. Vivò Sporting! gritou a multidão em ovação que teve a raça pra ganhar a grande taça pois então»
As quadras esquecem, naturalmente, «o valente adversário húngaro», o MTK.
«Nós na segunda parte não passámos do meio-campo. Fomos asfixiados. Ninguém diz isto, mas é a verdade. Foi aguentar até ao limite», garante Alexandre Baptista, um dos bravos do pelotão.
A resistência leonina aguenta-se e muitos dos méritos vão para o treinador Anselmo Fernández.
«O treinador foi inteligente. Passou o Morais para extremo esquerdo e o José Carlos para defesa esquerdo. Tal como o Vicente secou o Pelé, o José Carlos secou o melhor jogador deles. O Fernando Mendes recuou para central e o José Carlos caiu para a esquerda.»
E Morais. As palavras voltam sempre ao saudoso Morais, falecido em 2010.
«Sei que ele chegou a voltar ao Bosuilstadion e a tirar umas fotos para replicar o canto. O Morais tinha muito talento para bater essas bolas. Fazia de lateral e de extremo, tinha ginga. Marcava muito bem os cantos de pé direito no lado esquerdo. E nos treinos vi-o fazer golo várias vezes.»
Fim de viagem, passagem em casa do lesionado Hilário. Um lar a abarrotar de gente leonina.
«O Hilário tinha partido uma perna contra o Vitória de Setúbal. Mas fomos a casa dele, visitá-lo à cama (risos). A casa era pequena, nem todos conseguiram entrar. Mas ele merecia beijar a taça.»
59 anos depois da final de Antuérpia - em 2024 haverá festa -, o FC Porto visita a casa que deu mais mundo ao mundo do Sporting.