Portal dos Dragões
·5 November 2024
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A edição mais recente da revista Dragões, que foi publicada na terça-feira, incluiu uma extensa (e significativa) mensagem de André Villas-Boas na secção ‘A Visão do Presidente’, na qual afirmou que está a lutar por um “futebol justo e transparente”, sem ignorar o caso dos e-mails do Benfica.
Referente à ‘antiga’ controvérsia envolvendo o rival, o presidente do FC Porto afirmou ter a “intenção de agir de forma proativa em relação à acusação, incluindo a contestação de arquivamentos que consideramos infundados”, recordando a “gravidade que ultrapassa o futebol e a sua indústria”.
Além do mais, o cumprimento de um jogo de castigo fora do Estádio do Dragão, em virtude da interdição do recinto do clube da cidade Invicta por um jogo, levou o líder da direção azul e branca a assinalar a “celeridade incomum” no processo, esperando que esse “seja o reflexo da mudança de paradigma que precisamos no futebol português”, como está escrito no texto.
Aqui está a extensa mensagem de André Villas-Boas na revista Dragões:
“A corrupção no futebol é um problema alarmante que compromete a integridade do desporto, a confiança dos adeptos e a sustentabilidade dos clubes que acreditam numa competição justa e transparente. A realidade é que o futebol em Portugal tem sido marcado por escândalos que frequentemente não resultam em nada ou, no máximo, em decisões judiciais sem consequências disciplinares efetivas, criando uma sensação de desigualdade no tratamento dos clubes. Ao longo do caminho, as vítimas deste sistema permanecem ignoradas, tratadas como meros danos colaterais das ações de indivíduos que operam na órbita dos beneficiados. É inconcebível aceitar que certas figuras próximas das cúpulas dos clubes atuem sem o conhecimento das lideranças. Esta percepção de favorecimento e a subsequente impunidade minam a essência da meritocracia, um valor central do desporto.
No FC Porto não seremos coniventes com este estado de coisas. Já informámos os nossos associados e simpatizantes e temos demonstrado que estamos aqui para cumprir esse compromisso, contribuindo ativamente para a promoção da justiça e da transparência no desporto. Nesse sentido, o FC Porto está a analisar em detalhe o despacho de acusação proferido pelo DCIAP no mediático “Caso dos E-mails” e tem a intenção de agir proativamente em relação à acusação, incluindo a contestação de arquivamentos que consideramos infundados. Também comunicámos as nossas preocupações e intenções à Liga, à Federação e, devido à gravidade que ultrapassa o futebol e a sua indústria como um todo, à Presidência da República, ao Governo e à Procuradoria Geral da República.
Mais do que nunca, precisamos de um futebol justo e transparente. Todos concordaremos que apenas com instituições vigilantes e mecanismos eficazes de promoção da justiça será possível restaurar a confiança dos adeptos e dos agentes desportivos. A luta contra a corrupção no futebol é um desafio que requer realismo e compromisso, tanto a nível individual como coletivo, e uma vontade real de reformar as práticas que comprometem a integridade e a verdade desportiva.
Um estudo recente da Fundação Francisco Manuel dos Santos revela que a percepção da corrupção em relação aos clubes de futebol nacional é alarmante. Segundo este estudo, os portugueses consideram os clubes como as entidades mais corruptas do país, com uma pontuação preocupante de 8,1 numa escala de 0 a 10. Este é um problema que ultrapassa rivalidades desportivas e afeta a imagem de toda a indústria do futebol.
Em relação ao compromisso, falamos por nós. Iniciámos reformas internas para promover a transparência e a responsabilidade: ações concretas que visam combater a fraude na venda de bilhetes e auditorias forenses para identificar e responsabilizar, nos locais adequados, atos e comportamentos de quem prejudicou ou se serviu indevidamente do Clube; atuámos contra quem atentou contra a liberdade de sócios; instituímos canais de denúncia e lançámos o Portal da Transparência, para que, a todo o tempo, os sócios possam estar informados das decisões estratégicas, da forma como são geridos os seus ativos – atletas, património, ativos financeiros – e como estamos a construir o futuro do Clube.
Externamente, continuaremos a colaborar em processos onde possamos contribuir para a clarificação de suspeitas que pairam sobre competições, atletas, dirigentes e outros agentes, além de acionarmos todos os mecanismos policiais e judiciais, a nível nacional e internacional, para proteger os jovens jogadores em formação das malhas de redes criminosas. Intervimos em fóruns onde reafirmamos o nosso compromisso efetivo nesse combate, como aconteceu recentemente, na nossa cidade do Porto, na presença de representantes do Governo de Portugal e de ministros do desporto europeus, e ainda na reunião magna da Associação Europeia de Clubes (ECA), onde o FC Porto foi novamente dignamente representado, tendo a oportunidade de sublinhar a nossa posição e compromisso com a integridade e a credibilidade do futebol.
No que diz respeito ao FC Porto, temos avançado com determinação e atuação diligente. Estamos na linha da frente e com nós queremos todos aqueles que considerem este combate um desígnio. Seremos incansáveis na procura de um compromisso coletivo e uma vontade política real de reformar a indústria, valorizando os seus atores e, em especial, os amantes deste desporto-rei. É por isso que interpelámos os poderes públicos e do futebol, assim como as entidades de gestão do futebol, instando que promovam mudanças e reformas estruturais através de revisões legais, regulamentares, de fiscalização e disciplinares, pois os impactos para o ecossistema do futebol, para a sociedade e para a economia resultantes do atual estado de coisas são profundamente preocupantes.
Algumas questões urgentes merecem uma resposta atempada: alguém foi sancionado pelos tribunais com penas dissuasivas que desincentivem a repetição destes comportamentos? Por que é que alguns comportamentos muito graves, que comprometem a verdade desportiva e são comprovados judicialmente, não têm reflexo condizente nos órgãos de justiça e disciplina desportiva?
Estas situações não podem ser o resultado de uma “ardilosa sabedoria” em navegar no sistema judicial e disciplinar, que deveria funcionar como um motor de desenvolvimento e não como um entrave. Não queremos sequer imaginar um país que, anos à frente, ainda se depare com casos de corrupção ativa e passiva em tribunais civis e criminais sem a devida repercussão nos órgãos de justiça desportiva; ou o teatro de sombras que transforma colaboradores diretos em “meros conhecidos” que, por simpatia, corrompem para beneficiar os “amigos” sem censura ou reprovação; ou entidades fiscalizadoras e de regulação que ignoram ou tratam superficialmente esquemas financeiros suspeitos ou não questionam a origem dos capitais envolvidos.
Fazer justiça, punir os infratores e restaurar a verdade desportiva significa ser exigente com todo o sistema de justiça e disciplinar. E ser consequente. Nos locais adequados – nos tribunais e nas entidades responsáveis pela aplicação e cumprimento da lei – conduzido por magistrados e órgãos de justiça e disciplinares competentes, com efetividade, com um impacto real nos quadros competitivos e com uma imparcialidade absoluta.
Duas notas finais:
Nas últimas semanas, mantivemos comunicações com a Liga e com o Conselho de Arbitragem da Federação Portuguesa de Futebol, com o objetivo de melhorar a credibilidade das competições desportivas, após nos ter sido demonstrado, a nosso pedido, que o Estádio Municipal de Penafiel, no jogo que opôs a equipa visitada contra a equipa B do FC Porto, não estava em condições de operar a tecnologia VAR em toda a sua funcionalidade e em determinadas situações decorrentes do jogo, especialmente na aplicação das linhas de fora de jogo. Aguardamos esclarecimentos completos e garantias de que todos os estádios cumprem as regras estabelecidas.
No dia 30 de outubro, na sequência de uma sanção que nos foi aplicada pelo comportamento inadequado, verificado na época anterior, por um grupo identificado de adeptos, fomos obrigados a disputar um dos jogos da Taça da Liga no Estádio Municipal de Aveiro. A Administração que presido envidou esforços para a reversão deste castigo, utilizando os meios legais disponíveis. Notámos a celeridade incomum no julgamento deste caso e estamos esperançosos de que seja o reflexo da mudança de paradigma que precisamos no futebol português.”