Quando o Bayern ajudou a salvar o Dortmund: a crise que quase derrubou o gigante amarelo | OneFootball

O Borussia Dortmund é hoje um dos maiores clubes da Alemanha, mas esteve à beira do colapso. No início dos anos 2000, uma gestão financeira descontrolada e ambições desmedidas - não alcançadas - quase destruíram o projeto que nos anos 90 conquistou a Europa.

Como é que um clube tão grande chegou a um ponto de rutura? E como conseguiu dar a volta à situação? Para entender essa história, falámos com a jornalista alemã Katharina Küpper do RUHR24, que explica os erros que levaram o Dortmund à crise e as medidas que permitiram a sua reconstrução.

Entre dívidas, cortes salariais e até um empréstimo do Bayern München, esta é a história de como o Borussia Dortmund quase «caiu».

A crise que quase derrubou os Die Borussen

Nos anos 90, o Borussia Dortmund viveu uma era dourada, conquistando títulos nacionais e europeus. Ottmar Hitzfeld foi o arquiteto desse sucesso, transformando o clube numa potência, levando-o aos primeiros títulos da Bundesliga [1994/95 e 1995/96] e à conquista da Liga dos Campeões em 1997 - única do clube até aos dias de hoje.

Sob a liderança do presidente Gerd Niebaum, o Dortmund sonhava em desafiar o Bayern de Munique como a maior força do futebol alemão, investindo fortemente em jogadores de renome. «O homem que finalmente despertou o BVB foi Ottmar Hitzfeld», explica Katharina.

No entanto, como a própria sublinha, os gastos elevados - para fazer regressar à Alemanha alguns craques «perdidos» como Reuter, Sammer ou Kohler e, mais tarde, o investimento em jogadores estrangeiros - tornaram-se insustentáveis. Quando o clube falhou a qualificação para a Liga dos Campeões em 2003, «O castelo de cartas desmoronou-se», resume.

A ameaça de insolvência

A primavera de 2005 ficou marcada por uma situação de quase insolvência, com o Borussia Dortmund à beira do colapso. Katharina Küpper recorda que "a sobrevivência do clube só foi possível porque os credores aceitaram um plano de recuperação".

O Bayern de Munique também teve um papel, concedendo um empréstimo que ajudou financeiramente, mas que "não foi decisivo para a salvação do clube".

Além disso, os jogadores tiveram de aceitar cortes salariais significativos, enquanto os adeptos mostravam a sua revolta ao descobrirem que até os direitos sobre o logótipo do clube tinham sido penhorados.

No final dessa temporada turbulenta, a icónica bancada sul do Signal Iduna Park respondeu com uma mensagem poderosa: 'Am Ende der dunklen Gasse erstrahlt die gelbe Wand' - “No fim do beco escuro, o muro amarelo brilha”.

O renascimento com Klopp e a aposta na juventude

A crise financeira obrigou o Borussia Dortmund a reformular a sua abordagem ao mercado. "O Borussia Dortmund tinha novamente uma visão positiva do futuro, mas não tinha recursos", afirma Küpper.

A falta de dinheiro acabou por ser um golpe de sorte. A chegada de Jürgen Klopp, em 2008, marcou uma viragem. "O foco principal foi colocado em jogadores jovens, famintos e com grande potencial", recorda a jornalista. Sem recursos para contratar estrelas, o clube apostou em promessas, construindo uma equipa competitiva em poucos anos.

O Dortmund voltou a ser campeão em 2011 e 2012 e chegou à final da Liga dos Campeões em 2013, recuperando o estatuto de potência europeia. Desde então, o Borussia tem sido presença regular na Liga dos Campeões, mas a incapacidade de manter os seus melhores talentos fez com que o clube oscilasse entre a ambição e a realidade financeira.

«Jogadores de grande qualidade, que posteriormente foram para clubes europeus de topo, como Dembélé, Sancho, Haaland e Bellingham, não fazem parte do atual plantel», destaca Küpper.

Um novo desafio: a identidade do Dortmund em risco?

Atualmente, o Borussia Dortmund enfrenta um novo dilema. Nos últimos dez anos, investiu cerca de 500 milhões de euros em jogadores da Bundesliga que não conseguiram afirmar-se no clube.

A ascensão do Bayer Leverkusen, a consolidação do Leipzig e o crescimento de equipas como o Frankfurt e o Stuttgart ameaçam o estatuto do Dortmund como segunda força do futebol alemão.

Além disso, problemas internos, disputas de poder e decisões questionáveis na gestão têm fragilizado a estrutura do clube.

Com um futuro incerto e uma identidade que parece diluir-se, a pergunta impõe-se. Como questiona Katharina Küpper: «O que representa o Borussia Dortmund? E para onde se dirige o mítico BVB?».