AVANTE MEU TRICOLOR
·21. Juli 2025
MORRE JOSÉ MARIA MARIN, EX-PRESIDENTE DA CBF, EX-GOVERNADOR... E SIM, EX-PONTA-DIREITO DO SÃO PAULO (ACREDITE SE QUISER)

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·21. Juli 2025
Marin (primeiro agachado à esquerda): ponta mediano e só dois jogos oficiais na história (Morumbiteca)
RAFAEL EMILIANO@rafaelemilianoo
José Maria Marin, que presidiu a CBF durante a Copa do Mundo de 2014, morreu neste domingo (20) aos 93 anos em São Paulo (SP).
Além de sua atuação no esporte, Marin teve uma carreira política significativa, chegando a governar o Estado de São Paulo por um breve período durante a ditadura militar, entre 1982 e 1983.
Formou-se em direito e ingressou na política, onde teve destaque como vereador e deputado estadual, alinhado ao regime militar, que governou o país entre 1964 e 1985.
Conhecido por discursos conservadores e polêmicos, suas falas na tribuna da Assembleia Legislativa acarretaram episódios controversos. Em um deles, em 1975, levou à Censura Federal a estudar o banimento da novela 'O Grito', da 'TV Globo', por suposta subversão "que levava a instigar o ódio à capital paulista".
Outros artistas foram perseguidos por conta da atuação do então deputado, que frequentava programas de rádio na época 'denunciando' a apologia ao comunismo em peças de teatro e filmes. Costumava visitar sets de filmagens de novelas e produções cinematográficas acompanhado de agentes da Polícia Federal, apreendendo e prendendo.
Mas isso é fichinha perto do outro lado da atuação de Marin, que usava sua voz para atacar e acusar jornalistas e políticos opositores, jogando a luz dos órgãos de repressão do governo sobre eles. Foi graças às suas falas que muitos deputados do MDB, partido oposicionista da Arena, legenda de sustentação da ditadura e do qual ele era o presidente paulista, foram cassados. E foi um desses discursos que levou o governo militar a prender e assassinar o jornalista Vladimir Herzog em 1975, alvo constante de denúncias de ser comunista por Marin.
No futebol, Marin ocupava cargos administrativos na Federação Paulista de Futebol desde os anos 1960. Assumiu a presidência da entidade em 1982 e por lá permaneceu até 1986. Alcançou o ápice ao assumir a presidência da CBF em 2012, sucedendo Ricardo Teixeira.
Sua gestão ficou marcada pela organização da Copa do Mundo no Brasil, mas também pelo envolvimento no escândalo internacional de corrupção conhecido como Fifagate.
A ligação com o futebol, contudo, vem bem antes dos gabinetes. Marin foi jogador profissional. E do São Paulo!
O dirigente teve contrato com o São Paulo entre 1949 e 1954. Passou a maior parte do tempo nos aspirantes (espécie de time B, popular na época) ou emprestado para clubes menores - São Bento de Marília e Jabaquara.
Pelo time principal do São Paulo, praticamente só esteve em amistosos. Foram 21 jogos, com cinco gols. Partidas oficiais, só duas: contra XV de Piracicaba, pelo Paulista de 1950, quando anotou seu único gol competitivo, e Portuguesa, no Rio-São Paulo de 1951.
"O Marin não foi um fenômeno. E quando você é um jogador bom, não excepcional, depende dos seus concorrentes para jogar", disse Paulo Planet Buarque, ex-comentarista de rádio e conselheiro do Tricolor, ao jornal 'Folha de S. Paulo'.
Jornais da época também mostram que o cartola fez bem em trocar a ponta-direita pela carreira de advogado, que o levou a ser governador.
Relato da vitória por 3 a 0 do time tricolor em amistoso contra a Portuguesa, publicado pelo 'O Esporte', em 24 de abril de 1950, diz que "só esporadicamente é que lhe davam a bola" e que Marin, nas raras vezes em que era acionado, "era detido por Nino".
Apesar dessa relação, contudo, Marin nunca foi dirigente do Tricolor. Não há relato que sequer tenha sido sócio do clube. Na política, foi um ferrenho opositor de Laudo Natel, figura icônica do São Paulo, também governador do Estado e considerado o 'pai do Morumbi' (apesar de ambos serem do mesmo partido).
A última vez que vestiu a camisa são-paulina foi em um amistoso integrando o time de veteranos do clube contra jornalistas esportivos na inauguração do CT da Barra Funda, há 20 anos.
À frente da CBF, não era bem visto no São Paulo, sob gestão de Juvenal Juvêncio, ainda amargurado pela exclusão do Morumbi da Copa, apesar de ambos terem sido amigos íntimos nos anos 1970 e 1980. Isso não impediu Marin de tentar uma reaproximação, rechaçada pelo cartola tricolor em seus últimos dias de mandato.
O clube do Morumbi não se manifestou oficialmente pela morte de seu ex-jogador até a publicação desta reportagem.