Jogada10
·13. Dezember 2024
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A Polícia Federal interceptou mensagens de um grupo de fraudadores envolvidos em manipulação de resultados de jogos da Patrocinense, de Minas Gerais, pela Série D do Brasileiro. Os apostadores investiram cerca de 250 mil para adulterar partidas do time mineiro na temporada. O esquema estava em ação desde a primeira fase da competição.
Em outubro, a PF encaminhou um relatório à Justiça ratificando manipulação de resultado no jogo entre Inter de Limeira e Patrocinense, pela 1ª fase da Série D. Ainda de acordo com o documento, apostadores tinham conhecimento prévio da derrota mineira na etapa inicial da partida por ao menos dois gols de diferença. O duelo terminou 3 a 0 para os mandantes, do interior paulista, com todos tentos marcados no primeiro tempo.
O caso terminou com indiciamento de seis pessoas envolvidas com o clube. O gestor Anderson Brahim Rocha; o treinador Estevam Soares (ex-Palmeiras e Botafogo); auxiliar Rodolfo Santos de Abreu; atletas Felipe Gama Chaves e Richard Sant Clair Silva. Além de Marcos Vinicius da Conceição do Nascimento, citado como possível investidor.
Em março, meses após assumir a gestão da Patrocinense, Anderson Bahim troca mensagens com um empresário ucraniano. O dirigente e o homem identificado como Jan organizavam a manipulação de partidas na Finlândia, e Rocha envia uma imagem da chave de grupos do clube mineiro na Série D.
“Só equipes de mercado forte. Estou com uma possibilidade muito boa”, escreveu Rocha em mensagens divulgadas pelo GE.
Um mês depois, Rocha retoma o assunto e insiste no convite para “um trabalho muito seguro, com 12 atletas confiáveis”. O dirigente brasileiro pede, em espanhol, US$ 25 mil na ação.
“Precisaria de um investimento, mas para um trabalho muito seguro, com 12 atleta confiáveis. Afinal, dou o diretor executivo, contratei a comissão técnica, que segue minhas ordens”, escreveu Rocha.
Anderson Rocha convida Jan a investir na Patrocinense para manipular resultados – Foto: Reprodução
A imprensa local começa a levantar suspeitas de manipulação dos jogos após a derrota por 4 a 1 para o Pouso Alegre, em maio. Àquela altura, o treinador Estevam Soares, com passagens por Palmeiras e Botafogo, já liderava a comissão técnica do clube. Ele encaminha mensagens a Rocha em tom de preocupação, mas sem desconfiar das supostas ações do gestor.
“A gente precisa ficar atento. Ver quem serve e quem não serve desse corpo atlético aí, desses atletas. Porque senão estoura em você, estoura em mim. Os primeiros que vão se ferrar ficam no executivo e o treinador. Jesus!!! Se você tiver um tempinho aí me dá uma ligada que estou com isso na cabeça. A gente fica perturbado”, disse Estevam.
Ainda de acordo com as investigações, o técnico também conversava com uma mulher identificada como Roseli – que atuava como conselheira espiritual de Estevam. Entre os diálogos, a profissional sugeriu que o treinador não aceitasse o convite para trabalhar na Patrocinense.
“Eu vou tomar esse banho de louro aí. A coisa aqui está meio pesada a barra. Fora de campo que está me preocupando um pouco. Estão surgindo alguns problemas aqui, meio esquisito”, contou.
O atacante Thiago Ribeiro, que havia deixado a Patrocinense antes do escândalo, aconselhou Estevam a se demitir. “O gol contra do Richard foi escandaloso, coisa para sair preso do estádio. Por isso eles queriam tanto que ele jogasse”, avaliou o ex-Santos. “Sai daí, professor. O senhor não precisa passar por isso. Eu sei que o senhor está precisando do dinheiro do salário, que o senhor precisa trabalhar. Mas não dá para aceitar isso”.
O gol contra citado acima se refere ao terceiro da vitória do Inter de Limeira sobre a Patrocinense, por 3 a 0. Richard só atuou na partida a pedido de Anderson Ibrahim Rocha, o gestor do clube.
Inter de Limeira vence Patrocinense por 3 a 0 em jogo sob suspeitas de fraude – Foto: Reprodução / TV Integração
A Patrocinense alegou más condições financeiras e desistiu de disputar a primeira divisão do Campeonato Mineiro em 2024. Como a decisão ocorreu com o torneio em andamento, a saída causou W.O das partidas e, consequentemente, o rebaixamento na competição.
Em março, o clube fechou parceria com a AIR Golden, agência de Anderson Ibrahim Rocha, na promessa de conseguir altos investimentos na disputa da Série D. O empresário garantiu aplicação de $ 600 mil na fase de grupos, além de R$ 200 mil em caso de classificação.
Em contrapartida, uma investigação da PF demonstra que o movimento pretendia usar a Patrocinense para fraudes de resultados. A fim, evidentemente, de atender a pedidos de apostadores.
Um homem chamado Wesley pergunta a Anderson Rocha se ele ainda estava em Patrocínio após a derrota para o Inter de Limeira. Isso porque o contrato do gestor com o clube estava suspenso sob suspeitas de fraudes em partidas.
“Estou, mas vou hoje para (São José do) Rio Preto. Não estou louco”, e na sequência responde sobre “ter conseguido lucro no sábado” – dia do jogo. “Não deu certo como gostariam. Nem recuperaram o investimento, então depois veio essa bomba”.
E prossegue: “Investiram em torno aí de uns R$ 250 mil nas minhas contas, entendeu? Mas porr*, eu não imaginava que ia acontecer o que aconteceu lodo após, de não dar certo ou de perder o clube. Então eles pagaram os meninos, os jogadores, até onde eu sei não pagaram o Rodolfo (assistente) também e agora não me pagaram, mano. Simplesmente falou que não recuperou e que a gente precisa ver o que vai fazer”.
A insatisfação e o temor tomaram conta, até que Rocha sinaliza para deixar o esquema. Anderson mostra-se desconfortável com a exposição no caso e reclama da falta de pagamento. O gestor cita, ainda, o nome de Rodolfo, com apelido Dodô – ex-jogador da confiança do empresário, que trabalhava na comissão técnica para repassar informações.
“Liguei pro Rodolfo e falei que nunca mais vou mexer com essa porra de jogo. Minha cara está exposta, estou com um monte de B.O para resolver, processo, um monte de coisa na empresa a troco de nada. Ah, mas não deu dinheiro? Fod*-**. Manda apenas uma parte para eu poder sobreviver com minha família aqui. Mas apenas isso”.
“Mas os caras não têm um pingo de consideração para nada. Minha cara que está lá, minha empresa que está lá, e mesmo assim os caras não tiveram a capacidade de mandar sei lá R$ 5 mil, e falar: “ó, paga aí teu aluguel, suas coisas aí, segura a bronca e vamos correr atrás do prejuízo”.”.
Dodô encaminhou a escalação do jogo contra o Pouso Alegre a Rocha, que comemorou: “Temos sete”. A derrota por 4 a 1, contudo, gerou desconfiança na imprensa local. Anderson também passa a suspeitar que atletas tenham vendido informações a outras pessoas.
“Usaram meu nome. Mas se eu tivesse procurado ia ser porque você pediu e eu ia te falar. Eu não tenho saída em nenhum cassino, não conheço ninguém de cassino”, escreveu Dodô. Rocha respondeu: “Fica em paz, a gente já sabe quem é”. A partir daí, começa um modo de pressão aos atletas que supostamente traíram às ordens do grupo de manipuladores.
‘Então tem que pegar um para exemplo, mano. Tem que quebrar pelo menos as pernas, se não matar um cara desses. Tá ligado? Dar um tiro na perna. E fazer cuspir dinheiro”, sugere Dodô.