Portal dos Dragões
·5. Mai 2025
FC Porto reestrutura contas com processos pendentes e Pinto da Costa na memória

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Com o objetivo de reduzir dívidas que ascendem a quase 250 milhões de euros e um passivo superior a 500 milhões de euros, a administração, sob a liderança do antigo treinador ‘azul e branco’, anunciou em novembro a realização da maior emissão de obrigações da história do futebol em Portugal, totalizando 115 milhões de euros e com um prazo de 25 anos, atraindo investidores institucionais do mercado norte-americano.
Esta operação, que foi complementada por dois empréstimos no mercado de retalho, que totalizaram 21 milhões de euros e 50 milhões de euros, em dezembro e março de 2025, respetivamente, permitiu ao FC Porto emitir dívida a taxas de juro mais favoráveis e dar início ao seu processo de recuperação financeira.
Neste contexto, foi reforçada a posição do clube no contrato assinado nos últimos dias da presidência do já falecido Pinto da Costa com a empresa espanhola Ithaka Infra III, que prevê a exploração comercial do Estádio do Dragão, no Porto, por um período de 25 anos, com a receita a aumentar em 35 milhões de euros em relação ao montante original de 65 milhões de euros, podendo alcançar até 100 milhões de euros.
“Em abril de 2024, o FC Porto encontrava-se numa situação quase de calamidade, com uma total falta de liquidez. É quase inacreditável que, em 11 meses, 179 milhões de euros do seu passivo tenham sido saldados. É um passo crucial e um motivo de grande orgulho, sendo que a recompra dos direitos de transmissão televisiva, que estavam antecipados até 2028, é uma das grandes conquistas da administração. Isto permite que o FC Porto se projete de forma mais segura enquanto clube de associados, algo que nos parecia impossível ao chegarmos”, recordou Villas-Boas em entrevista ao jornal O Jogo e ao Jornal de Notícias, em março.
A regularização dos salários em atraso no seio da estrutura ‘azul e branca’ foi uma preocupação da nova administração, que, ao ser notificada de uma multa de 1,5 milhões de euros da UEFA devido a irregularidades da anterior gestão, viu-se pressionada a saldar dívidas de curto prazo, sob o risco de exclusão das competições europeias, uma suspensão que já se encontrava em vigor por dois anos de experiência.
Apesar do aumento do passivo, que passou de 520,9 milhões de euros para 547,9 milhões de euros, e da perda estimada em 40 milhões de euros devido à ausência da Liga dos Campeões, o FC Porto obteve um resultado positivo de 334.000 euros no primeiro semestre da temporada 2024/25, reconquistou a sua credibilidade e cumpriu com os requisitos de controlo trimestral da UEFA, melhorando outras fontes de receita, como a bilheteira, e reduzindo custos, além de diminuir o capital próprio negativo de 113,8 milhões de euros para 47,4 milhões de euros.
O recorde de 173 milhões de euros em transações de futebolistas também contribuiu para a sustentabilidade dos ‘dragões’, que em janeiro denunciou um total de 58,7 milhões de euros de perdas na última década em bilheteira, transferências e despesas de representação.
Uma das promessas eleitorais de Villas-Boas, a auditoria forense, revelou práticas da gestão de Pinto da Costa que “afetaram negativamente a saúde financeira e a reputação” do FC Porto, numa altura em que já estavam em curso as Operações Pretoriano e Bilhete Dourado.
A primeira investiga as alegadas agressões e ameaças a sócios e o clima de intimidação numa Assembleia Geral (AG) que aprovou a revisão estatutária do clube, em novembro de 2023, enquanto o atual dirigente era um potencial candidato à sucessão de Pinto da Costa.
As autoridades também se debruçaram sobre a atuação da claque Super Dragões, liderada por Fernando Madureira, que é o único dos 12 arguidos a estar em prisão preventiva desde fevereiro de 2024 e um dos quatro sócios do FC Porto expulsos nove meses depois pelo Conselho Fiscal e Disciplinar do clube, com a votação dos respetivos recursos a ser suspensa em janeiro, durante uma AG que confirmou a suspensão por meio ano de dois outros associados.
Na sua posição como representante legal da SAD, que se constituiu como assistente e exigiu cinco milhões de euros de indemnização civil, alegando danos reputacionais e perdas financeiras, Villas-Boas falou durante o julgamento da Operação Pretoriano, que se iniciou em 17 de março.
Uma certidão extraída desse processo originou a Operação Bilhete Dourado nos primeiros dias da nova gestão, com suspeitas de conluio entre funcionários do FC Porto e uma empresa associada, além de membros dos Super Dragões na distribuição e venda de bilhetes para os jogos do clube, que seriam, posteriormente, comercializados no ‘mercado negro’.
Alguns colaboradores da empresa Porto Comercial estão entre os 13 arguidos desse processo, que acelerou a revisão dos protocolos com as claques, cujos benefícios foram reduzidos já depois de Fernando e Sandra Madureira, sua esposa e também implicada na Operação Pretoriano, renunciarem aos cargos de presidente e ‘vice’ dos Super Dragões.
Com um apoio unânime nas urnas e uma postura firme em punir os que tenham prejudicado o FC Porto, André Villas-Boas tem sido alvo de críticas de grupos emocionalmente ligados a Pinto da Costa, o que levou a um maior distanciamento nas relações e ao desejo de homenagear o antigo presidente com a designação do museu do clube, numa altura em que foram divulgados os resultados da auditoria, exatamente um mês após a morte do seu antecessor.
Aos 87 anos, Pinto da Costa foi recordado por várias figuras de diferentes áreas sociais, mas não pelos rivais de Lisboa, Benfica e Sporting, sendo que o atual presidente do FC Porto respeitou o pedido do apelidado “presidente dos presidentes” para não comparecer ao seu funeral, em meio a várias homenagens do universo ‘azul e branco’ tanto dentro como fora do Estádio do Dragão.