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·22. Mai 2025

Ex-chefe de TI do Corinthians denuncia novas falhas na emissão de notas fiscais do CT

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  1. Por Daniel Keppler / Redação da Central do Timão

No início do mês de maio, o Corinthians se posicionou, através de nota oficial em seu site, a respeito da polêmica envolvendo o controle das notas fiscais de materiais esportivos da Nike, enviados pela Fisia, representante da empresa no Brasil, diretamente ao CT Joaquim Grava, prática que passou a ser adotada na atual gestão – antes, a logística era centralizada no Parque São Jorge. Na nota, o clube afirmou que todos os lançamentos contábeis estavam regularizados e presentes no balanço de 2024.

Porém, novos documentos revelam que o CT Profissional do Corinthians, desde o início do ano passado, emitiu centenas de notas em seu CNPJ à margem do sistema então implementado apenas na sede do clube, cuja soma total chega a quase R$ 1,2 milhão, sem jamais terem sido integralizadas nos demonstrativos financeiros do clube.


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Foto: Reprodução/YouTube

Os produtos adquiridos são variados: materiais esportivos, como chuteiras da Adidas; materiais e construção, como calhas e parafusos; itens domésticos, como edredons e talheres; produtos alimentícios, como frango, massas, azeite, leite condensado, tomate seco, cogumelos e vinhos; e até mesmo brinquedos, como carrinhos Hot Wheels, bonecos de personagens como Naruto e Polly Pocket e mochilas de pelúcia.

A Central do Timão obteve acesso a uma planilha de controle destas notas fiscais, cujo período abrange de 25 de abril de 2024 a 27 de janeiro de 2025. Nela, há o detalhamento completo de 1424 compras lançadas no CNPJ do CT Profissional, dispostas em 448 notas fiscais que, somadas, tem valor de R$ 1.193.359,66. Quem garante que estas notas não foram devidamente lançadas é Marcelo Munhoes, ex-chefe de TI do Corinthians, demitido pela diretoria no final de janeiro deste ano.

Atraso e descontrole fiscal

Em conversa com a redação, o ex-funcionário do Alvinegro denunciou a situação, afirmando que o número de notas sem lançamento pode ser maior. Isso pois, segundo ele, o CNPJ do CT não era utilizado com regularidade até 2024 e, por isso, o local não estava munido das ferramentas necessárias para lançamentos de notas, controle de estoques e contabilização e apuração fiscal.

“Estima-se que aproximadamente 3 mil notas fiscais emitidas para o CT não foram lançadas na contabilidade do clube no exercício de 2024. O Corinthians conseguiu recuperar uma parte, manualmente, por meio de e-mails enviados pelos próprios fornecedores ao longo do ano. No entanto, o clube ainda não possui a real dimensão da extensão do problema.”

Segundo Munhoes, a questão também envolve as notas fiscais dos produtos recebidos da Nike. Ao todo, em 2024, o Corinthians recebeu 33.908 itens da fornecedora estadunidense, cujo valor total chega a R$ 13.200.598,11. Deste montante, o CT recebeu 9.062 itens, cujo valor total chega a R$ 4.941.075,13. É exatamente a soma citada pelo clube, na nota oficial divulgada no último dia 10.

No entanto, o ex-chefe do TI corinthiano sustenta que, até sua demissão no fim de janeiro, o clube não havia feito o devido lançamento dessas NF’s na forma exigida pela lei, procedendo com a inclusão manual dos valores após esta data, mas ainda a tempo de constar no balanço de 2024. Isso não faz, porém, com que o Corinthians não esteja sujeito a sanções, pois o atraso na contabilização fere legislações tributárias.

“O clube precisa cumprir tanto o próprio estatuto quanto a legislação brasileira, garantindo a conformidade contábil, fiscal e de controles internos do Corinthians. Isso se aplica, especialmente, ao registro de notas fiscais de entrada, controle de estoques e à veracidade das demonstrações contábeis, avaliando os riscos envolvidos e possíveis infrações à legislação vigente.”

Segundo Munhoes, o atraso na contabilização das NF’s da Nike lançadas para o CT e o não-lançamento das outras NF’s relativas a despesas diversas expõem o clube junto ao Fisco, sendo passível de autuações e multas severas – mesmo após correção posterior. “A regularização contábil e fiscal posterior é permitida pela legislação vigente, por meio de “retificações”. Contudo, as demonstrações financeiras do exercício de 2024 ficaram incorretas, que caracteriza fraude contábil e fiscal”

“Outra denúncia feita pelo ex-funcionário diz respeito aos estoques do CT, algo inexistente segundo ele. “Não há qualquer controle do que se tem no CT. Não há sequer pleno conhecimento de todas as notas fiscais emitidas contra o CT, uma vez que o Departamento Financeiro adquiriu o certificado digital apenas em novembro de 2024. Considerando que a SEFAZ disponibiliza as notas fiscais apenas referentes aos últimos três meses, existe uma lacuna crítica de informações fiscais anteriores a esse período.”

Para Munhoes, o envio de parte dos materiais da Nike para o CT tinha um objetivo claro: tornar parte do estoque fornecido pela empresa estadunidense irrastreável. “A ideia era tornar o estoque da Nike invisível aos olhos do PSJ. Pretendiam, inclusive, implantar um sistema de controle de estoque paralelo, a fim de garantir que ninguém do PSJ tivesse conhecimento do que estava ocorrendo. Eles insistiram nessa estratégia, mas não permitimos, argumentando que não era possível um sistema de estoques apartado, pois as informações precisam ser integradas”, disse.

Consultoria fez alerta

A EY, parceira do Corinthians no primeiro semestre de 2024 para diversos assuntos, inclusive organização administrativa, alertou o clube sobre as irregularidades na gestão das NF’s. A Central do Timão teve acesso a trocas de e-mails entre departamentos do Corinthians e a consultora durante parte de 2024.

O primeiro alerta ocorreu em agosto, poucos meses após um funcionário do clube, responsável pelos materiais da Nike estocados no Parque São Jorge, perceber que não estava mais recebendo as notas fiscais. Foi quando se soube que, por determinação do presidente Augusto Melo, foi feita uma descentralização do estoque e da emissão das NF’s, direcionando parte dos produtos da fornecedora para o CT Profissional.

Quem executou esta descentralização foi Caio do Valle, consultor de negócios estratégicos do Corinthians, que segundo Munhoz teria, pessoalmente, solicitado à Nike que alterasse o faturamento de uma parte dos produtos para o CNPJ do CT, sem alinhar esta alteração com outras áreas do clube, como a Controladoria, e gerando um vácuo de controle das informações e registros.

Ciente da situação, a EY fez um alerta por e-mail em agosto. Diversos dirigentes e membros da administração alvinegra receberam a mensagem, como Pedro Silveira, ex-diretor financeiro, Marcelo Mariano, ex-diretor administrativo, Vinicius Azevedo, ex-superintendente de marketing, Luiz Ricardo Alves, o “Seedorf”, gerente financeiro, Caio do Valle, consultor de negócios estratégicos, e Marcelo Munhoes, ex-chefe de TI, entre outros. Em e-mails subsequentes, até mesmo Marcelo Eduardo Rodrigues Sales, o “Ninja”, chefe de gabinete de Augusto Melo, é copiado com seu e-mail pessoal.

No e-mail, a EY discorre sobre esta descentralização promovida pela diretoria, que teria gerado até agosto de 2024 um rombo de R$ 3,5 milhões em notas não lançadas no sistema. À consultora, foi apresentada uma justificativa para a mudança, que teria sido motivada pela alta demanda do futebol masculino e por atrasos de entrega da Nike. Ainda assim, a EY deixou claro que o movimento expôs o clube a multas fiscais, riscos de quebra contratual, reembolsos retroativos e danos à reputação.

Visando “eficiência operacional”, então, a EY recomendou a centralização do estoque no Parque São Jorge, orientação negada pela equipe do CT, alegando “falhas logísticas” na distribuição dos materiais. Foi explicado, ainda, que a separação do envio dos materiais e emissão notas em dois CNPJs era uma determinação da gestão do clube, alinhada no início de 2024.

Em complemento ao e-mail da EY, o TI corinthiano, na pessoa de Munhoes, levantou a necessidade de envolver formalmente os setores contábil e fiscal em mudanças processuais. Também ressaltou que a legislação tributária brasileira exige autorização prévia para alterações no faturamento, sob risco de autuações e processos, e que além disso a Nike também precisaria validar a política de emissão das notas no CNPJ do Parque São Jorge, mas com entrega dos itens direta no CT.

A situação poderia, em tese, ter se regularizado com a implementação do sistema Protheus (sistema de gestão empresarial desenvolvido pela TOTVS) no CT, algo que, em e-mail enviado em dezembro de 2024, o mesmo departamento confirmou que foi feito. No entanto, as diretrizes seguintes a essa implementação, como a emissão das notas pendentes, não foram cumpridas como deveriam.

Vale lembrar que a EY aponta, em seu relatório, que recebeu de departamentos do Corinthians a informação de que estas notas fiscais não lançadas e, portanto em situação fiscal irregular, estavam sendo emitidas e enviadas diretamente a Marcelo Mariano por e-mail, supostamente para regularização futura.

Outras medidas emergenciais cujo cumprimento era necessário incluíam inventariar o estoque do CT, ajustar saldos no Protheus e iniciar o ano de 2025 com dados corrigidos. O clube afirma que o lançamento das NF’s da Nike foi regularizado, sem citar, à época, nada a respeito das outras notas relativas a despesas diversas.

Sem regularizar totalmente a situação, o Corinthians segue sujeito a penalidades do SPED (Sistema Público de Escrituração Digital da Receita Federal) pela falta de transparência fiscal, além de correr o risco de prejudicar as relações com a Nike e arranhar a imagem do Corinthians no mercado.

A Central do Timão procurou o Corinthians para falar sobre o assunto. O clube se comprometeu a verificar as informações apresentadas e retornar com um posicionamento, que será repercutido devidamente assim que for recebido.

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