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·12. Juni 2025

Em 2010, a coroada Inter se impôs e conquistou o título mundial contra o Mazembe

Artikelbild:Em 2010, a coroada Inter se impôs e conquistou o título mundial contra o Mazembe

Era dezembro de 2010, mas para a Inter, o tempo parecia girar em torno de um único objetivo, levantar mais uma taça e selar um ciclo histórico. Após deixar a Roma para trás tanto na Serie A quanto na Coppa Italia, e fechar sua tríplice coroa contra o Bayern de Munique, o Mundial de Clubes da Fifa, disputado nos Emirados Árabes, representava mais do que um título. Era a cereja no bolo de um ano que começara sob o comando de um gênio da prancheta e terminava sob os olhares desconfiados para um questionável substituto. Era a chance de repetir os feitos da Grande Inter da década de 1960.

José Mourinho, o arquiteto do triplete, já havia deixado Milão rumo ao seu sonho branco em Madri. Seu legado, no entanto, pairava como uma sombra gigantesca sobre Rafa Benítez, o novo comandante. O espanhol chegou com currículo, mas sem carisma, e querendo alterar muitos aspectos intra e extracampo, já consagrados por Mou, então no Real Madrid. E entre desconfianças e tropeços, sobrou a ele uma missão clara, levar o mundo – pela primeira vez naquele formato – de volta ao azul e preto de Milão, que jogara (e vencera) apenas a Copa Intercontinental.


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A estreia no torneio, já nas semifinais, foi tranquila. A Inter de Benítez não titubeou contra o Seongnam Ilhwa Chunma, da Coreia do Sul, e fez 3 a 0, sem precisar pisar fundo no acelerador ante os asiáticos – que haviam eliminado o emiratino Al-Wahda, nas quartas. Gols de Dejan Stankovic, Javier Zanetti e Diego Milito, o último com o ar de redenção após lesões insistentes. A vaga na decisão estava garantida. Mas o adversário…

Ninguém esperava que o rival da final fosse o Tout Puissant Mazembe, ou, em português, o Todo Poderoso Mazembe – nome oficial do clube congolês, que desafiava a lógica com seu futebol e sua mística recente. O time de Lubumbashi, cidade localizada no extremo sul da República Democrática do Congo, perto da fronteira com a Zâmbia, já havia impressionado ao eliminar o Pachuca, do México. Mas atingiu outro patamar ao derrubar a segunda vítima: o Internacional de Porto Alegre. O Colorado sucumbiu à ousadia africana nas semifinais, e não pôde retornar para a final da competição, quatro anos depois de bater o Barcelona, para enfrentar seu xará europeu, num jogo de homônimos que era tido como favas contadas. O planeta da bola assistia, incrédulo, uma das maiores zebras já vista no Mundial de Clubes.

Só que a Inter não estava disposta a escrever mais um capítulo nessa epopeia improvável. Ao contrário. No gramado do estádio Zayed Sports City, em Abu Dhabi, os italianos trataram de devolver a ordem às coisas, ao menos no papel. Sem Wesley Sneijder, lesionado, Benítez escalou um meio-campo mais físico. E foi com posse, imposição e talento que a Inter selou o destino da zebra, naquele momento, já muito contente com a classificação.

Na ocasião, o técnico espanhol mandou a campo um time muito sul-americano, com os brasileiros Julio Cesar, Maicon, Lúcio e Thiago Motta, que já representava a Itália; o colombiano Iván Córdoba; os argentinos Zanetti, Milito – herói em todos os jogos que resultaram em títulos na temporada anterior – e Esteban Cambiasso. Completavam o onze inicial nerazzurro os europeus Cristian Chivu e Goran Pandev, e o africano Samuel Eto’o.

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Com um gol e uma assistência em menos de 20 minutos, Eto’o encaminhou a vitória da Inter sobre o surpreendente Mazembe (AFP/Getty)

Com apenas 13 minutos, Eto’o tabelou com Milito e, na profundidade, encontrou Pandev. Com alguma liberdade, o macedônio não tremeu na frente de Robert Kidiaba, pitoresco goleiro do Mazembe, e inaugurou o placar. O golpe foi rápido, mas o segundo veio como nocaute. Na casa dos 17, a Inter pressionou alto, forçando o time congolês a errar na saída de bola. O trabalho de Cambiasso e Zanetti deu certo e, após o cruzamento do capitão, vindo da direita, Eto’o emendou com classe – e saiu para comemorar de forma curiosa, sacudindo duas sacolas cheias de garrafas d’água. Estava 2 a 0 antes mesmo de o TP Mazembe entender onde estava.

A partir dali, os italianos passaram a administrar o jogo com a experiência de quem já havia visto de tudo. A defesa virou um cofre, com Lúcio, Córdoba e Julio Cesar blindando qualquer tentativa congolesa de reação. Ainda assim, os africanos tiveram seu momento. Dioko Kaluyituka, autor do gol contra o Inter sul-americano, driblou até o goleiro brasileiro, porém, de forma cômica, tentou simular um pênalti após leve toque do arqueiro em seu pé. Esse lance aconteceu no segundo tempo.

Ainda no primeiro, o camaronês Narcisse Ekanga também tentou simular um pênalti, não conseguiu e, na reclamação, partiu pra cima de Thiago Motta, acertou o ítalo-brasileiro com uma cabeçada e, mais uma vez, foi atingido pela falta de capacidade em atuar. Avaliações teatrais à parte, isso representava a diferença técnica em campo e a falta de controle das ações dos Baba Boys, mesmo quando tinham uma rara posse de bola na partida.

Milito, que buscava reencontrar o brilho de Madri, teve duas chances claras no primeiro tempo. Parou em Kidiaba e, talvez, no próprio nervosismo – afinal, chutou em cima do arqueiro. Do outro lado, Patou Kabangu e Kaluyituka ainda tentavam encontrar alguma brecha. Mas o tempo e a técnica estavam a favor da Inter.

Veio o segundo tempo e, com ele, um ritmo menos frenético. A vantagem deu tranquilidade aos italianos, que passaram a jogar no erro do adversário. Benítez, ciente de sua pressão interna, tanto pelos objetivos da Inter, quanto pelos seus individuais, não quis correr riscos. O treinador já tinha estado naquele lugar, cinco anos antes, com o Liverpool, e perdeu o Mundial, de forma incontestável, para o São Paulo.

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Eto’o acabaria eleito como melhor jogador do Mundial (AFP/Getty)

Portanto, o espanhol sacou Chivu, colocou Stankovic e, depois, Jonathan Biabiany. E foi justamente o jovem atacante francês que fechou a conta, após entrar no lugar de Milito que, como dito anteriormente, fez uma partida muito abaixo do seu normal e perdeu, ao menos, duas chances claras de matar qualquer esperança do Mazembe.

Aos 85 minutos, Stankovic enfiou uma bola açucarada para Biabiany. Ele dominou, cortou Kidiaba e empurrou para o fundo do gol. Era o ponto final para o – talvez nem tão poderoso – Mazembe. A Inter vencia por 3 a 0.

O apito final trouxe a consagração para Eto’o e um lugar muito especial para esse elenco na história da Beneamata. A festa no Oriente Médio era azul e preta, mas curiosamente, quem mais celebrou nas arquibancadas foram os torcedores brasileiros. Gritavam “Inter!” e recebiam acenos amistosos dos italianos. Era como se, por um instante, os xarás se reconhecessem como irmãos de nome.

A taça representava mais do que uma conquista. Era a reedição da mística da Grande Inter dos anos 1960, quando o time de Angelo Moratti – pai de Massimo Moratti, presidente nerazzurro àquela altura – encantava a Europa. Com dois títulos mundiais seguidos.

O desempenho da Inter no torneio foi praticamente impecável. Duas vitórias, seis gols marcados, nenhum sofrido. Nem Manchester United nem o Barcelona haviam vencido uma edição com tamanha autoridade na era moderna do Mundial, que passara a ser organizado pela Fifa de forma contínua a partir de 2005. O recado estava dado, o futebol italiano era o melhor do mundo, mais precisamente, o de Milão.

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Festa brasileira: Maicon, Motta, o reserva Philippe Coutinho e Lúcio – além de Julio Cesar, que não saiu na foto – faturaram o Mundial de Clubes (AFP/Getty)

Rafa Benítez, contudo, não resistiria por muito tempo. Mesmo campeão, não tinha bom relacionamento com os senadores do elenco nerazzurro, por ter chegado aos vestiários querendo apagar o legado do desafeto Mourinho, campeão da tríplice coroa, e sequer vinha obtendo bons resultados – a Inter era apenas a sétima colocada da Serie A. Menos de uma semana depois do título, ele seria demitido por Moratti e substituído pelo brasileiro Leonardo, ex-Milan, que liderou a Beneamata numa arrancada rumo ao vice nacional e ao título da Coppa Italia.

Já o Mazembe saía com a cabeça erguida. Seu feito havia entrado para a história: era o primeiro time africano a disputar uma final de Mundial. Primeiro também a quebrar a hegemonia dos clubes da Conmebol na decisão. Seu folclore, simbolizado por Kidiaba e sua pitoresca dança, quicando o traseiro no gramado, conquistaram a simpatia globo afora – principalmente no lado tricolor de Porto Alegre.

Eto’o foi eleito o melhor jogador da competição. Não à toa. Participou diretamente dos gols, liderou dentro e fora de campo, e mostrou que ainda era um dos maiores do planeta. Para ele, restava a glória que escapara com o Barcelona anos antes, justamente para o Internacional, castigado pelo Mazembe. Agora, a taça era dele.

Julio Cesar, Lúcio e Maicon, representantes da Seleção de Dunga, encerraram 2010 com moral, e a torcida da Inter os aplaudia de pé. Tinham a Liga dos Campeões, o Mundial, e atuações sólidas. Tão incontestáveis que fizeram Mano Menezes, sucessor do capitão do tetra na Canarinho, rever a opção de não convocá-los – o trio estava longe do escrete nacional desde a derrota nas quartas de final da Copa do Mundo, para a Holanda de Sneijder, e retornou às listas em 2011.

Depois de tocar o céu em 2010, a Inter mergulharia num ciclo de sombras e transição a partir de 2011. O brilho intenso daqueles anos mágicos – entre 2008 e 2010 – foi se apagando lentamente. Vieram tropeços em casa, eliminações precoces na Europa, e a dolorosa sensação de que o auge havia passado. A Juventus voltou a dominar o cenário doméstico, enquanto Barcelona e Bayern de Munique erguiam muralhas quase intransponíveis no continente. A espinha dorsal do time envelheceu e os craques partiram.

O Mundial de 2010 não representou apenas o ocaso de um time imortal interista. Foi um espelho do abismo técnico, sim, mas também uma celebração, tanto italiana quanto congolesa. O Mazembe ousou sonhar. A Inter, com frieza, acordou o adversário. E, no fim daquela noite em Abu Dhabi, era campeã do mundo. De novo.

Mazembe 0-3 Inter

Mazembe: Kidiaba; Nkulukuta, Kazembe, Kimwaki, Kususula; Ekanga, Mbenza, Kasongo (Kanda); Kabangu, Kaluyituka (Ndonga), Singuluma. Técnico: Lamine N’Diaye. Inter: Julio Cesar; Maicon, Lúcio, Córdoba, Chivu (Stankovic); Zanetti, Thiago Motta (Mariga), Cambiasso; Pandev, Milito (Biabiany), Eto’o. Técnico: Rafael Benítez. Gols: Pandev (13′), Eto’o (17′) e Biabiany (85′) Árbitro: Yuichi Nishimura (Japão) Local e data: estádio Zayed Sports City, Abu Dhabi (Emirados Árabes Unidos), em 18 de dezembro de 2010

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